Fonte: LACERDA, Fernando, PRESTES, Luiz Carlos e SINANI. A luta contra o prestismo e a revolução agrária e anti-imperialista. Rio de Janeiro. 1934, págs.5-28.
Observação: Mais tarde, os estudiosos marxistas acharam inadequado se referir ao “movimento da pequena burguesia” pelo nome do secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro e substituíram o termo “prestismo” por “tenentismo”.
Transcrição e HTML: Fernando Araújo. Observação: na transcrição o texto foi adaptado ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990.
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A influência de concepções ideológicas de outras classes no seio do proletariado do Brasil, é um dos motivos que mais vem atrapalhando a formação de uma vanguarda proletária capaz de organizar e dirigir as lutas independentes do proletariado e das massas oprimidas, tornando por isso, difícil, a educação revolucionaria da população oprimida do país.
Entre essas concepções não proletárias o prestismo é, sem dúvida nenhuma, a mais forte, tenaz e expandida.
O prestismo não é a simples admiração ou confiança cega na pessoa de Luiz Carlos Prestes. É toda uma ideologia que tem suas origens na mentalidade pouco segura e firme da pequeno-burguesia, camada social intermediaria, vacilante, entre as duas classes principais da sociedade capitalista: o proletariado e a burguesia.
As duas características principais do prestismo são a falta de confiança nas massas proletárias e camponesas, forças motrizes da Revolução contra o feudalismo e o imperialismo, e a falta de fé na capacidade do proletariado para dirigir essa revolução. Falta de confiança nas massas proletárias e camponesas, levando a querer substituir a verdadeira revolução dessas massas pela preparação de golpes de grupinhos escolhidos, tramando em conspirações nas costas das massas, desligados delas, e de suas lutas e sob a direção de caudilhos civis e militares. Pouca fé na capacidade dirigente do proletariado, conduzindo a lutar contra a direcção da revolução pela vanguarda proletária, pelo P. C., para entregar essa direcção às “elites”, aos “heróis” ou “cavaleiros de esperança”.
O prestismo teve sua origem nas camadas pequeno-burguesas urbanas. Sua expansão e força atuais são devidas, principalmente, a importância numérica e social da pequeno-burguesia no país e ao fraco desenvolvimento de um P.C. com sua ideologia de classe, marxista-leninista, capaz de conduzir as massas laboriosas em suas lutas diárias por pão, terra e liberdade. O P.C.B. faz esforços sérios para realizar esta sua tarefa principal e a medida que o consiga, romperá as ilusões prestistas que ainda impedem a mobilização revolucionaria das massas.
Além disso, o prestismo surgiu na arena politica nacional, quando o proletariado apenas começava a aparecer como força politica independente, com a formação de seu partido de classe, o P.C.B. (1922), Dessa forma, o prestismo conseguiu arrastar a simpatia das massas laboriosas e mesmo do proletariado urbano, canalizando, assim, para a direção pequeno-burguesa, a vontade de luta das massas contra o feudalismo e o imperialismo, já manifestadas em greves e até movimentos insurrecionais (1918-19), mas que foram facilmente esmagados por sua orientação pequeno-burguesa, anarquista.
A aproximação ao proletariado de largas massas pequeno-burguesas empobrecidas, favorece a aliança necessária para a luta comum, contra os senhores de terras e imperialistas, ao mesmo tempo que ensina à pequeno-burguesia, os métodos históricos de luta do proletariado: as greves, a solidariedade, a associação, etc. Mas, o simples empobrecimento das massas pequeno-burguesas, não as liberta das concepções falsas, próprias de sua classe de origem. Elas se juntam ao proletariado, cheias de todas essas concepções e vão, assim, reforçar as ideologias pequeno-burguesas que ainda existem nas fileiras proletárias. Sem ter consolidado, ainda, sua ideologia própria de classe independente, o proletariado não se deixa influenciar por essas concepções pequeno-burguesas e prestistas em particular.
Impedindo e lutando, mesmo, contra a formação marxista-leninista do partido de classe do proletariado e o P.C., o prestismo ameaça as massas laboriosas de sérios perigos. Ele dificulta a educação revolucionaria dessas massas, que só se pode fazer na experiência de suas lutas independentes, preparadas, organizadas e dirigidas pelo P.C. O prestismo retarda, assim, o desencadeamento da revolução contra o feudalismo e o imperialismo, a libertação das massas do regime de fome, reação e guerras de rapina.
São as concepções prestistas que levam as massas a serem afastadas da direção do P. C., a confiarem sua salvação a caudilhos, “heróis” pequeno-burgueses, ou a dirigentes sindicais reformistas, anarquistas, trotskistas, de ideologia em suma, pequeno-burguesa. A direção de caudilhos, “heróis”, “cavaleiros de esperança”, cheios de ideologias não proletárias, não pode salvar as massas, levá-las a vitória de suas lutas contra os exploradores e opressores. As lutas diárias das massas desde as mais pequenas até as insurreições populares, se forem dirigidas por caudilhos ou partidos não proletários, sem ideologia proletária, marxista-leninista, serão derrotadas ou traídas. Em primeiro lugar, porque a ideologia e as ligações da maior parte desses caudilhos, os aproximam muito mais da burguesia, aliada e defensora dos senhores de terras e imperialistas, do que do proletariado. Quando elas percebem que há perigo da queda do regime ao qual estão ligados, passam-se abertamente para a contrarrevolução, para a politica de fome, reação fascista e guerras imperialistas da feudal-burguesia. Unidos de corpo e alma aos governos ou grupos de senhores de terras, capitalistas e imperialistas, tornam-se chefes de policias especiais, massacradores de operários e camponeses, de toda a população oprimida e os defensores mais ferozes dos exploradores e opressores das massas. Foi o que se deu, por exemplo, com João Alberto, o criador da polícia especial do Rio.
Mas, ainda naqueles que honestamente pensam lutar contra o feudalismo e o imperialismo, a falta de confiança no proletariado e nas massas, que constitui a base de suas ideologias prestistas, pequeno-burguesas, leva-os, mais cedo ou mais tarde, a caírem no campo da reação, a se fascistizarem. Porque, sem se convencerem de que só o proletariado, por meio do seu partido de classe e de sua ideologia marxista leninista, pode dirigir a luta contra o feudalismo e o imperialismo, eles lutam contra o partido comunista e acabam aliando-se aos inimigos de classe do proletariado, aos feudal-burgueses, para não serem derrotados.
A ideologia prestista, como toda ideologia pequeno-burguesa, não pode portanto, dar a vitória às massas. Só a ideologia de classe, marxista-leninista do proletariado, que lhe é dada por sua vanguarda revolucionaria — o P. C., pode levar ao triunfo, a revolução contra o feudalismo e o imperialismo. Porque é a única ideologia que ensina a romper todas as barreiras opostas pela burguesia em defesa do feudalismo e do imperialismo, e sobretudo, que leva a revolução antifeudal e anti-imperialista, até as suas últimas consequências, até ao esmagamento completo da burguesia, impedindo, assim, qualquer tentativa de restauração do poder de feudais e imperialistas.
Os exemplos do México e da China, onde a revolução antifeudal e anti-imperialista, foi traída pelos caudilhos pequeno-burgueses, Calles e Chiang-Kai-Chek, são provas evidentes dessas verdades marxistas-leninistas. A atual revolução cubana em marcha, traz outra prova no mesmo sentido.
A revolução em Cuba, iniciada e sustentada pelo proletariado e pelos camponeses, através de suas heroicas greves e lutas, está hoje sendo ferozmente combatida pelos mesmos caudilhos pequeno-burgueses de “esquerda”, como Carbó, Baptista e Grau San Martin, que lutaram e lutam contra o P. C. cubano, para arrancar-lhe a direção da revolução, e que já estão capitulando ante os senhores de engenho e o imperialismo, massacrando barbaramente as massas.
Aliás, as massas do Brasil já tiveram uma prova do que pode ser uma direção pequeno-burguesa da revolução, com o movimento armado da Coluna Prestes. Os dirigentes pequeno-burgueses da Coluna, tomaram a frente dos desejos de luta das massas. Mas, eles se aliaram, desde logo, a elementos como Isidoro, Távora, João Alberto e outros que só participaram do movimento para freá-lo e levá-lo a outros fins. Eles não souberam e não quiseram aliar seus raids heroicos às lutas das massas; limitaram-se a conspiratas e golpezinhos de quartel, dirigidos por eles. Formaram “Ligas de Ação Revolucionárias”, para combater a direção proletária das massas pelo P.C.B. Até que a Coluna Prestes acabou desagregando-se, a maior parte de seus dirigentes, capitulando abertamente, com a aliança de corpo e alma, aos fazendeiros e capitalistas vendidos aos imperialistas; participaram ao lado deles, sob suas ordens, no golpe de Outubro de 1930 e hoje estão no governo ou na “oposição”, ligados a eles, massacrando as massas, bordando galões e ocupando cargos de destaque com o sangue de trabalhadores. Enquanto que a parte mais honesta da Coluna, ou vacila, ainda em se pôr sob a direção proletária, confundindo sempre golpes de “elites” com a verdadeira revolução, ou como Prestes e alguns companheiros, busca compreender, assimilar a ideologia marxista-leninista, combatendo o prestismo, pondo-se ao serviço do proletariado e de seu partido.
De tudo o que acabamos de dizer, se conclui a imperiosa necessidade de reforçar a luta contra o prestismo, de extirpá-lo do proletariado, do seio das massas oprimidas, para poder formar a vanguarda proletária na teoria e tática marxista-leninista, educando o proletariado e as massas oprimidas, levando-as a preparação e organização, ao desencadeamento e a vitória da revolução agraria e anti-imperialista.
É necessário e é urgente. O fim da estabilização capitalista o exige. A feudal-burguesia brasileira, sob pressão da crise e das lutas inter-imperialistas pela dominação exclusiva do Brasil, prepara febrilmente novos golpes armados, carnificinas internas, guerras exteriores, como se prepara para acompanhar a invasão imperialista na URSS, para atirar as massas oprimidas no matadouro das guerras imperialistas (confissão cínica de Góis Monteiro no Clube Militar). Para essas aventuras sanguinárias, além do terror fascista contra as greves e lutas de massa (degolas de cangaceiros, massacres de índios, etc.), contra suas organizações sindicais revolucionárias e o partido do proletariado, o P.C.B., a feudal-burguesia, procura enganar e arrastar as camadas populares com tapeações demagógicas de todas as cores. E vale-se especialmente das concepções prestistas no seio das massas a fim de afastá-las das suas lutas e do P.C.B. É esse o objectivo das mentiras espalhadas por Miguel Costa e seus agentes, sobre falsas revoluções comunistas feitas por eles e chefiadas por Prestes. É também esse o objectivo das demagogias de Ary Parreiras, Maurício de Lacerda, Távora, João Alberto e outros, que continuam a explorar com o nome e o prestígio da Coluna Prestes para alimentar nas massas as concepções prestistas e melhor poder enganá-las.
Ao mesmo tempo, a radicalização das massas se aprofunda. As greves operarias e estudantis explodem a cada passo. Grupos heroicos de camponeses lutam no nordeste e nos sertões contra a exploração feudal. Os camponeses assalariados agrícolas do Estado do Rio, armam-se em defesa do direito de organizarem-se para conquistar seus interesses.
Os negros organizam-se para pleitear seus direitos de povo oprimido. Os índios do Pará e Bahia, lutam bravamente pelas terras que lhes foram roubadas e pelo direito de formar sua nação independente. A onda revolucionaria cresce desorientada ainda, ainda aproveitada por caudilhos espertos, por partidos demagógicos de fazendeiros e industriais, ainda vencida aqui e ali pelo terror das policias especiais e pelas expedições militares dos feudal-burgueses. Mas, a onda avança assim mesmo. Não tem esperado que o prestismo desapareça do seio do proletariado e que este possa consolidar seu partido marxista. Porém por isso mesmo essa onda tarda em se transformar em insurreição. Por isso mesmo, as massas ainda sofrem fome e opressão, continuam cada vez mais ameaçadas pela politica feroz da feudal burguesia e dos imperialistas.
Da mesma forma que o avanço da onda revolucionaria se vai fazendo, apesar das debilidades do P.C.B., ela pode, de um momento para outro, chegar a lutas revolucionárias mais profundas pondo na ordem do dia a conquista do poder pelas massas. E, se o P.C.B. não está formado com uma ideologia proletária e fortemente arraigado às massas, se o prestismo e outras concepções pequeno-burguesas ainda dominarem a mentalidade do proletariado, não poderá ser o dirigente dessas lutas pelo poder. Serão os caudilhos, os partidos pequeno-burgueses, que tratarão de encabeçá-las para transformar a insurreição popular em golpes putchistas em favor deles, para capitularem logo e entregarem as massas aos feudal-burgueses e ao imperialismo.
Não é a toa que nesta hora histórica que atravessamos, se nota uma mobilização enorme no seio da pequeno-burguesia. São elas esquerdas, com linguagem e simpatia marxistas comunistas, que se formam dentro dos partidos e grupos pequeno-burgueses ligados aos Migueis Costas, Waldomiros, Parreiras, Rabellos, Baratas, etc. (dentro do Partido Socialista de S. Paulo, da União Cívica 5 de Julho, do Clube 3 de Outubro, do Partido Trabalhista, Nacional do Trabalho, Democrata Socialista do Rio, do Grupo Brasil Novo, do Partido Proletário de Niterói, das Legiões do Trabalho, etc.). É a união de trotskistas, miguelcostistas, socialistas, etc. na chamada frente única antifascista. São os centros cívicos, partidos acadêmicos, o partido “Vanguarda Proletária” de Jocelin Santos e membros expulsos do P. C. Como Casini.
Entre essas alas pequeno-burguesas, muitos elementos há honestos que desejam lutar sinceramente contra o feudalismo e o imperialismo, mas que ainda não aceitam a direção proletária do P.C.B., pretendendo lutar contra essa direção para tomar-lhe a frente nas lutas revolucionarias próximas, com todos os perigos que já apontamos. As massas terão de suportar mais tempo os horrores da reação desesperada da feudal-burguesia, dos canhões imperialistas, ligados a ela.
Para evitar esses sofrimentos, para acabar depressa com a fome, a reação e a guerra de feudal_burgueses e imperialistas, é necessário e urgente que o proletariado se liberte de qualquer concepção prestista pequeno-burguesa e ajude a formar seu partido, sua vanguarda de classe, como um partido marxista-leninista, ligado às massas oprimidas e suas lutas, o único dirigente delas, organizador e dirigente da Revolução Operaria e Camponesa.
Aos operários das indústrias fundamentais do Brasil, cabe esta tarefa grandiosa. É especialmente a eles, aos operários das fábricas têxteis, das estradas de ferro, dos bondes, dos navios mercantes, dos portos, dos transportes em geral; aos operários das usinas e frigoríficos; das empresas capitalistas estrangeiras; aos trabalhadores agrícolas do café, dos engenhos e plantações de cana, de algodão, cacau, fumo, mate, borracha, das fazendas de criação.
A eles compete especialmente entrar no seu Partido de classe no P.C.B., na F.J.C., nas fileiras da C.G.T.B., nas oposições sindicais dos sindicatos dirigidos por chefes anarquistas, reformistas, trotskistas, trabalhistas, etc., nos sindicatos e federações revolucionárias. Formar em sua empresa local de trabalho, células do Partido Comunista, da F. J. C., grupos ou Comitês sindicais, grupos do S. V. I. Comitês de ação e vigilância do Comitê Anti-guerreiro. Realizar em cada empresa, sindicato, fazenda, engenho, a mais solida frente única com todos os companheiros de trabalho, para a luta diária em defesa de seus menores desejos. Unir essas lutas entre si e com a dos camponeses, apoiar as lutas dos cangaceiros, fortalecer a aliança operaria e camponesa. Apoiar as lutas dos estudantes e pequeno-burgueses empobrecidos, em defesa dos seus direitos, dirigindo-as e orientando-as pelos organismos sindicais e do P.C. (células, frações sindicais, etc.). Formar a frente única com todo o povo oprimido para a luta imediata, repetida, contra a fome, a reação e a guerra imperialista, em defesa da URSS e da revolução mundial, através de organizações de massas como o S. V. I. e o Comitê contra a Guerra Imperialista, contra a reação e o fascismo. Apoiar e defender as lutas dos negros, índios, e mais nacionalidades oprimidas do país, pelo direito de autodeterminação, de formar seus governos e Estados próprios, inclusive de separar-se. Lutar desde já, por greves, demonstrações e lutas diárias em defesa de suas reivindicações imediatas, por pão, terra e liberdade, pela preparação e organização da Revolução Agraria e Anti-imperialista.
Respondendo dessa forma aos preparativos de golpes armados entre os grupos feudal-burgueses, de lutas armadas internas entre Estados do Brasil, de guerras externas contra qualquer outro país e contra a pátria dos trabalhadores, a U.R.S.S. Guerras de rapina preparadas pela feudal-burguesia e pelos imperialistas para aumentar ainda mais a fome, o sofrimento e a opressão das massas.
O artigo de Prestes é uma ajuda a luta contra o prestismo, contra as tapeações prestistas dos demagogos ligados aos golpes e guerras feudal-burguesas e imperialistas. Ele mostra a falsidade dos boatos espalhados por esses tipos de que Prestes renunciou ao comunismo e está ao lado deles para chefiar golpes e falsas revoluções comunistas.
O artigo desmascara ainda uma vez, todas essas demagogias. E, ainda aos revolucionários honestos, mas vacilantes, da pequena-burguesia, aponta o verdadeiro caminho que pode levá-los a não trair a revolução.
O caminho que Prestes escolheu: colocando-se incondicionalmente sob a direção do Partido Comunista, a serviço do proletariado e das massas laboriosas.
São essas as lições que as massas devem tirar do artigo de Prestes, que, como consequência prática, devem levá-las a apoiar e seguir as palavras de ordem do Partido do proletariado, o PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL.