O Imperialismo e a Economia Mundial

N. Bukharin

Primeira Parte — A economia mundial e o processo de internacionalização do capital


Capítulo II — Desenvolvimento da economia mundial


capa

1 — Crescimento extensivo e intensivo da economia mundial; 2 — Crescimento das forças produtivas da economia mundial. Técnica; 3 — Extração de hulha, minérios, ferro, cobre, ouro; 4 — Fabricação, de outros produtos; 5 — Indústria de transportes: estradas de ferro, transporte marítimo. Telégrafo e cabos submarinos; 6 — Desenvolvimento do comércio exterior; 7 — Migrações; 8 — Circulação do capital e financiamento das empresas estrangeiras (atividade dos estabelecimentos industriais e dos bancos).

O desenvolvimento dos vínculos econômicos internacionais e, portanto, do sistema de relações de produção no mundo pode ser de dois tipos: ou os vínculos internacionais desenvolvem-se em extensão, englobando regiões mantidas até então fora do ciclo da vida capitalista — quando temos um desenvolvimento extensivo da economia mundial; ou o fazem em profundidade, multiplicando-se, estreitando-se — quando estamos em presença de um desenvolvimento intensivo da economia mundial. Concretamente o desenvolvimento histórico da economia mundial processa-se simultaneamente nessas duas direções, realizando-se o seu desenvolvimento extensivo principalmente através da política de conquistas coloniais praticada pelas grandes potências.(1)

A incrível rapidez da expansão da economia mundial, nas últimas décadas, foi provocada pelo extraordinário crescimento das forças produtivas do capitalismo, o que podemos mostrar pelo progresso técnico. Neste terreno, a principal conquista foram os processos encontrados para obtenção da energia elétrica e sua transmissão à distância, o que engendrou uma relativa independência do lugar de produção da energia, assim como a utilização de forças nela contidas e outrora totalmente inacessíveis. Citemos, em primeiro lugar, a utilização, para produção da energia elétrica, da força hidráulica, ou hulha "branca", que se tornou hoje, juntamente com a hulha "negra", no principal fator da produção industrial. Apareceram, assim, as turbinas hidráulicas, geradoras de energia em proporções até então desconhecidas. Também a eletrotécnica exerceu enorme influência no desenvolvimento das turbinas a vapor, cabendo mencionar a iluminação elétrica, a aplicação de processos eletrotécnicos para a produção de metais, etc. Da mesma maneira, os motores a combustão interna adquiriram grande influência na atividade econômica, O aperfeiçoamento dos motores a gás receberam poderoso impulso depois que se conseguiu utilizar industrialmente os gases de altos fornos. Os combustíveis minerais são também fontes de energia, como o petróleo e a gasolina. Os motores Diesel entraram no uso diário e tendem a eliminar a máquina a vapor, convertida em valor obsoleto.(2) A aplicação do superaquecimento; as inúmeras descobertas que se verificaram no domínio da química, notadamente em matéria de corantes; a revolução ocorrida na técnica dos transportes (tração elétrica, tração a explosão); o telégrafo sem fio, o telefone, e outros avanços completam o quadro geral do rápido e febril progresso técnico. Em momento algum, a justaposição da ciência e da técnica conheceu triunfos tão retumbantes como hoje. A racionalização da produção tomou a forma de íntima colaboração entre as ciências abstratas e as realizações práticas. As grandes fábricas são dotadas de laboratórios especiais, a profissão de "inventor" está em curso de formação, centenas de sociedades científicas organizam-se para o estudo de todos os problemas.

Podemos julgar o desenvolvimento da técnica pelo número de patentes de invenção registrados anualmente, e que apresenta a seguinte distribuição:

Estados Unidos Alemanha Inglaterra França
1840 473 1900 8.784 1860-69 21.310 1850 1.687
1860 4.778 1905 9.600 1880-87 30.360 1880 6.057
1880 13.917 1910 12.100 1900 13.710 1900 10.997
1900 26.439 1911 12.640 1905 14.786 1905 11.463
1907 36.620 1912 13.080 1908 16.284 1907 12.680

Fonte:
Estados Unidos - MULHALL: The Dictionary of Statistics, pág. 439; WEBB: New Dictionary of Statistics, pág. 450.
Alemanha - WEBB, op. cit., Statistisches Jahrbuch für das Deutsche Reich.
Inglaterra e França - MULHALL e WEBB

O total de produtos manufaturados e da indústria extrativa aumenta paralelamente aos progressos da técnica. Sob este ponto de vista, os dados mais significativos são fornecidos pela indústria pesada, porque, ao se desenvolverem, as forças produtivas não param de sofrer novas repartições no sentido da produção do capital fixo e, notadamente, de sua parte constante. O desenvolvimento da produtividade do trabalho social se faz de tal maneira que uma parcela cada vez maior desse trabalho é consagrada às operações preparatórias da produção dos meios de trabalho. Em sentido oposto, um setor progressivamente menor do trabalho social é empregado na produção de bens de consumo, razão porquê os bens de consumo in natura aumentam enormemente. Tal processo traduz-se, economicamente, pelo crescimento da composição orgânica do capital, pela expansão cada vez mais acentuada do capital fixo em relação ao capital variável e pela diminuição da taxa de lucro. Ora, se no capital — decomposto em suas partes variável e constante — verifica-se continuamente um aumento relativo do elemento constante, este sofre também um crescimento desigual de seus valores componentes. Se decompusermos o capital constante em capital fixo e capital circulante (ao qual se relaciona, geralmente, o capital variável), verificaremos que o capital fixo apresenta uma tendência mais forte a aumentar. Temos aí, em suma, uma manifestação da mesma lei segundo a qual (perante uma produtividade crescente do trabalho) as operações preparatórias da produção (produção dos meios de trabalho) absorvem uma quantidade sempre maior de energia social.(3)

Explica-se, assim, a formidável expansão apresentada pela indústria extrativa e metalúrgica. Se, de maneira geral, o grau de industrialização de um país pode ser encarado como índice de seu desenvolvimento econômico, a importância da indústria pesada é o índice do desenvolvimento econômico de um país industrializado. Razão pela qual a expansão das forças econômicas do capitalismo mundial encontra sua mais pura expressão no crescimento daqueles ramos industriais.

Produção Mundial
Hulha Minério Ferro Ferro gusa Cobre Ouro
Anos milhões
toneladas
Anos Milhares
toneladas
Anos milhares toneladas
esterlinas
Anos milhares
toneladas
Anos milhões
de libras
1850 82,6 1850 11.500 1850 4.750 1850 52 1850 12
1875 283 1860 18000 1875 14.119 1880 156,5 1880 22
1880 344,2 1880 43.741 1900 41.086 1900 561 1900 52
1890 514,8 1890 59.560,1 1901 41.154 1901 586 1905 78
1900 771,1 1900 92.201,2 1902 44.685 1902 557 1906 83
1901 793,2 1901 88.852,7 1903 47.057 1903 629 1907 85
1902 806,7 1902 97.134,1 1904 46.039 1904 654 1908 91
1903 883,1 1903 102.016,9 1905 54.804 1905 731 1909 93
1904 889,9 1904 96.267,8 1906 59.642 1906 774 1910 94
1905 940,4 1905 117.096,3 1907 61.139 1910 891 1911 95
1906 1003,9 1906 129.096,3 1911 64.898 1911 893,8 1912 96
1907 1095,9(4) 1910 139.536,8(6)     1912 1.018,6 1913 93
1911 1165,5(5)         1913 1.005,9(7) 1914 91(8)

Assim, em pouco mais de sessenta anos, a produção de hulha aumentou mais de 14 vezes (1.320%); a de minério de ferro, mais de 12 vezes (1.113%); de ferro gusa, 13 vezes (1.266%); de cobre, mais de 19 vezes (1.834%); de ouro, mais de 13 vezes (1.218%).(9)

Se examinarmos agora os outros bens produzidos para o mercado mundial, sobretudo os de consumo, teremos o seguinte quadro:

Produção Mundial
Anos Trigo
milhões toneladas
Anos Algodão
milhares toneladas
Anos Açúcar
milhares toneladas
Anos Cacau
milhões toneladas
Anos Café
milhares toneladas
Anos Borracha
milhares toneladas
1881-89 60 1884-90 8.591 1880 3.670 1875 513
1900 67 1890-96 10.992 1895 7.830 1895-99 82 1892 710 1900 50
1906-07 90 1896-02 13.521,6 1904-05 11.797 1900-04 119 1903 1.168 1901-02 57
1908 87 1902-08 16.049,6 1907-08 14.125 1907 149,9 1905-06 1.000 1902-04 57
1909 96,9 1911-12 20.529,9 1911-12 13.270 1908 193,6 1906-07 1.500 1906-07 72(13)
1910 99,1 1912-13 19.197,9 1912-13 15.504 1909 205,2 1908 1.100
1912 106,6 1913-14 20.914,6 1913-14 16.081 1910 216(12)
1913 109,5 1914-15 19.543,5(10) 1914-15 13.252(11)
1914 100,1

Vê-se, portanto, que, num período de trinta anos (1881-88-914), a produção de trigo aumentou de 1,6 (+ 67%); a de algodão, de 2,2 (+ 127%); a de açúcar (de beterraba e de cana), de mais de 3,5 (+ 261%), etc.

Estas estatísticas dispensam comentários. Imensas quantidades de produtos jorram do processo de produção e penetram nos canais da circulação, de tal maneira que a capacidade anterior do mercado não seria capaz de absorver a centésima parte do que absorve hoje o mercado mundial. Ora, este não supõe apenas certo grau de desenvolvimento da produção, no sentido estrito da palavra: sua condição material necessária é uma ampla indústria de transportes. Quanto mais os meios de transportes são desenvolvidos e o movimento de mercadorias é rápido e intenso, mais se acelera a integração dos mercados locais e nacionais e o crescimento do organismo único de produção da economia mundial. Os transportes elétricos e a vapor preenchem atualmente essa função na vida econômica. Em meados do século passado, a extensão das redes ferroviárias era de 38.600 quilômetros; em 1880, atingia 372.000 quilômetros.(14) Posteriormente, as vias férreas aumentaram com espantosa rapidez:

  Fim de 1890
(em km)
Fim de 1911
(em km)
Europa 223.869 338.880
América 331.417 541.028
Ásia 33.724 105.011
Austrália 18.889 32.401
Total 617.285 1.057.809(15)

Assim, em vinte anos, de 1890 a 1911, a extensão das vias férreas aumentou de 1,71 (+ 71%).

Constataremos a mesma evolução se examinarmos o crescimento da marinha mercante. Convêm notar que o transporte marítimo desempenha papel excepcional, pelo fato de ser por seu intermédio que se efetua a circulação de mercadorias entre continentes ("comércio transatlântico"), e, graças a suas tarifas relativamente módicas, sua importância ser imensa mesmo na Europa (veja-se, por exemplo, a circulação de mercadorias entre o mar Negro e o Báltico). Os dados abaixo dão uma idéia do desenvolvimento da marinha mercante.

Frota Aumento
1872 a 1907 1850 a 1907
Inglesa 184% 106%
Alemã 281% 166%
Francesa 70% 96%
Norueguesa 64% 7%
Japonesa 1.077% 52%(16)

A construção de navios comerciais desenvolveu-se, durante os últimos anos, da seguinte maneira (em toneladas):

Anos Toneladas
1905 2.514.922
1906 2.919.763
1907 2.778.088
1908 1.833.286
1909 1.602.057
1910 1.957.853
1911 2.650.140
1912 2.901.769
1913 3.332.882
1914 2.852.753

Fonte:
Statesman's Year-Book
1925, op. cit..

Segundo Harms(17), no espaço de apenas 10 anos, de 1899 a 1909, a capacidade de transporte da marinha mercante mundial aumentou de 55,6%. Essa formidável expansão permitiu ligar os organismos econômicos de vários continentes e revolucionar os métodos pré-capitalistas nos mais recuados territórios, ao mesmo tempo em que acelerava incrivelmente a circulação mundial de mercadorias.

Esta última, todavia, não foi desenvolvida somente pelo progresso nos transportes. Com efeito, o movimento do mecanismo capitalista é muito mais complexo, visto que a circulação de mercadorias e o giro do capital não implicam, necessàriamente, um deslocamento de mercadorias no espaço.

"É no ciclo do capital e da metamorfose de mercadorias aí contida que se realiza a transformação material dos produtos do trabalho social. Tal transformação pode exigir o deslocamento de produtos de um lugar para outro, mas as mercadorias podem circular sem mudar realmente de lugar, assim como o transporte de produtos não importa forçosamente na circulação de mercadorias e nem mesmo numa troca direta de produtos. Uma casa vendida por A a B circula como mercadoria, mas não muda de lugar. Mercadorias móveis, como o algodão, o ferro bruto, permanecendo embora nos depósitos, estão sempre circulando, uma vez que são continuamente vendidas, compradas e revendidas pelos especuladores. Não é a coisa, e sim o título de propriedade que se desloca".(18)

Nos dias que correm, os processos dessa natureza, realizam-se em ampla escala, graças ao desenvolvimento de uma forma mais abstrata de capitalismo, do anonimato do capital, ao aumento dos títulos de valores — que são a expressão especifica da forma atual de propriedade, conhecida como capitalismo "acionário" (Liefmann) ou capitalismo "financeiro" (Hilferding). O nivelamento das cotações das mercadorias e de toda espécie de valores mobiliários faz-se através do telégrafo (veja-se a atividade das bolsas de valores e de comércio), cuja rede cresce a um ritmo tão febril quanto os meios de transporte. A extensão dos cabos submarinos intercontinentais é fato de extrema importância: em fins de junho de 1913, havia 2.547 cabos (que são, hoje, da ordem de 2.583), totalizando 515.578 quilômetros de fio,(19) ou seja, uma extensão igual à metade da extensão da rede ferroviária (1.057.805 quilômetros, em 1911). Assim cresce a estrutura econômica, essencialmente elástica, do capitalismo mundial, cujas peças reagem constantemente umas sobre as outras e onde a menor alteração de uma repercute sobre a totalidade das demais.

Examinamos, até aqui, as condições técnicas e econômicas da economia mundial. Vejamos, agora, o seu processo. Como dissemos, a troca é a expressão mais primitiva da relação econômica na economia comercial, relação que as cotações das bolsas traduzem em escala mundial, O transporte internacional de mercadorias, ou "comércio mundial", é a expressão externa desse fenômeno. Ainda que as estatísticas de que dispomos não possam ser consideradas um modelo de exatidão, nem por isso deixam de refletir fielmente a tendência constante ao crescimento que rege a esfera do mercado mundial.

Comércio exterior dos
principais países do mundo
Anos Total das
exportações
e importações
em milhões
de marcos
1903 101.944,0
1904 104.951,9
1905 113.100,6
1906 124.699,6
1907 133.943,5
1908 124.345,4
1909 132.515,0
1910 146.800,3
1911 153.870,0

Fonte: St. Jahrb, f. d. D. R. 1, pág. 39;
The Statesman's Year-Book.
 
Aumento em % do comércio exterior
de 1891 a 1910 segundo os países
País Exportação Importação
Estados Unidos 78 77
Inglaterra 43 52
Alemanha 105 107
França 25 54
Rússia 100 85
Países Baixos 110 90
Bélgica 105 84
Índia 75 62
Austrália 35 74
China 64 79
Japão 300 233

Fonte: HARMS: op. cit. Pág. 212.

Em oito anos, portanto, de 1903 a 1911, as operações do comércio internacional cresceram de 50%, cifra realmente impressionante. Ora, à medida que o ritmo da vida econômica e o desenvolvimento das forças produtivas aceleram-se, a internacionalização da economia torna-se mais ampla e mais profunda. É esta a razão pela qual W. Sombart erra redondamente ao sustentar a tese dos "efeitos mortais das ligações internacionais", na qual o mais paradoxal dos economistas contemporâneos prestou tributo, muito antes da guerra, à ideologia imperialista que tende a uma "autarquia" econômica, à formação, em grande escala, de um vasto sistema auto-suficiente.(20) Sua teoria consiste em generalizar o fato de que o escoamento dos produtos manufaturados no mercado interno desenvolveu-se, na Alemanha, mais ràpidamente do que sua exportação — fato de que Sombart tira sua estranha dedução sobre os efeitos mortais do comércio exterior em geral. Mesmo, porém, admitindo, como Harms(21) observa com razão, que a tendência ao escoamento dos produtos manufaturados no mercado interno supera a tendência de seu escoamento no mercado externo (a que faz Sombart apoiando-se exclusivamente sobre as estatísticas alemãs), seria impossível perder de vista as importações crescentes de matérias primas e de cereais, que são a condição necessária do mercado interno de produtos manufaturados, visto que é graças a essas importações que o país evita a alocação de suas forças produtivas na produção de matérias primas e de gêneros.

Somente após examinar os dois lados da troca internacional e da repartição das forças produtivas em todos os domínios da produção social é que se torna possível formular deduções precisas. As tendências da evolução atual favorecem, ao mais alto grau, o desenvolvimento das vias de comércio internacional (e, conseqüentemente, das demais vias), industrializando, por um lado, com surpreendente rapidez, os países agrários e semi-agrários, de maneira a suscitar neles a necessidade e a procura de produtos agrícolas estrangeiros, e forçando, por outro lado, de todas as maneiras, a política de exportação dos cartéis (dumping). A expansão dos laços comerciais mundiais vai, assim, a passos rápidos, ligando cada vez mais solidamente as diversas partes da economia mundial, soldando, nacional e economicamente, os setores isolados de modo sempre mais estreito, e fazendo assim com que a base da produção mundial, em sua nova forma superior não-capitalista, se desenvolva a um ritmo progressivamen e acelerado.

Se a circulação de mercadorias exprime uma "transformação material" no organismo social e econômico do mundo, a circulação internacional de populações manifesta, inversamente, acima de tudo, um deslocamento do fator principal da vida econômica: a força de trabalho. Assim como, nos limites de uma economia nacional, a repartição da força de trabalho entre os diversos setores da produção é regida pela taxa de salário, que tende a um nível idêntico, da mesma maneira nos quadros da economia mundial, o nivelamento das diferentes taxas de salário realiza-se por intermédio das migrações. O imenso reservatório do Novo Mundo capitalista suga o excedente de população da Europa e da Ásia, desde os camponeses pauperizados e expulsos da economia agrária, até o "exército de reserva" constituído pelos desempregados da indústria urbana. É deste modo que se estabelece, no mundo inteiro, uma concordância entre a oferta e a demanda de "mão de obra" nas proporções desejadas pelo Capital.

Citaremos algumas estatísticas, para dar uma idéia quantitativa desse processo:

Emigrantes para os
Estados Unidos
  Estrangeiros na
Alemanha
1904 812.870   1880 276.057
1905 1.026.499   1900 778.737
1906 1.100.735   1910 1.250.873(23)
1907 1.285.349  
1914 1.218.480(22)      

     

O número de emigrantes da Itália era, em 1812, de 711.446; da Inglaterra e Irlanda, de 467.762; da Espanha (1911), de 175.567; da Rússia, de 127.747, etc.(24) À expatriação definitiva, que se verifica quando o operário rompe com seu país e adquire uma segunda pátria, ajunta-se ainda a emigração temporária para os trabalhos sazonais, o que caracteriza parte da emigração italiana, assim como o êxodo dos trabalhadores russos e poloneses para a Alemanha na época dos trabalhos agrícolas, etc. Tais fluxos e refluxos da mão de obra constituem um dos fenômenos do mercado mundial do trabalho.

A circulação da força de trabalho, considerada como um dos polos do regime de produção capitalista, tem seu correspondente na circulação do capital, que representa o outro polo. Do mesmo modo que, no primeiro caso, a circulação é regularizada pela lei do nivelamento internacional da taxa de salário, ocorre, no segundo caso, um nivelamento internacional da taxa de lucro. A circulação do capital — que, do ponto de vista do país exportador de capital, é designada comumente sob o nome de exportação — rege-se pela lei do nivelamento internacional da vida econômica contemporânea, a tal ponto que alguns (como Sartorius von Waltershausen) qualificam o capitalismo moderno de capitalismo exportador. Por ora, nos contentaremos em assinalar as principais formas e a extensão aproximativa da circulação internacional de capitais, que constitui um dos elementos essenciais da internacionalização da vida econômica e do desenvolvimento da economia mundial. As duas principais formas de exportação do capital se fazem: a) sob a forma de capital-juros; e b) sob a forma de capital-lucro.

Dentro desta classificação, podemos distinguir ainda diversas formas e variedades. Em primeiro lugar, os empréstimos governamentais e comunais. O formidável aumento do orçamento do Estado, provocado tanto pela complexidade surgida, de modo geral, na vida econômica, quanto pela militarização de toda a economia nacional, suscita uma necessidade sempre crescente de empréstimos externos destinados a cobrir as despesas. Além disso, o desenvolvimento das grandes cidades exige a realização de uma série de obras (construção e estradas de ferro elétrica, instalação de luz elétrica, serviços de água e esgôtos, limpeza pública, aquecimento central, telégrafo e telefones, modernização dos matadouros, etc.), cuja execução supõe grande soma de dinheiro, obtida, quase, sempre, por meio de empréstimos externos. A segunda forma de exportação de capital é o sistema da "participação", no qual um estabelecimento industrial, comercial ou bancário do país A é proprietário de ações ou obrigações no país B. A terceira forma é o financiamento a empresas estrangeiras, isto é, a formação de um capital visando a um fim determinado: um banco financia uma empresa estrangeira fundada por outros estabelecimentos ou por ele próprio, ou uma empresa industrial financia sua filial, que revestiu caráter de sociedade autônoma, ou, ainda, uma sociedade estrangeira especial financia estabelecimentos estrangeiros.(25) A quarta é a abertura de créditos independentemente de uma finalidade determinada (recorre-se a este tipo nos casos de "financiamento") que os grandes bancos de um país concedem aos bancos de outro. Enfim, a quinta forma é a compra de ações estrangeiras, etc., visando à revenda (ver as atividades dos bancos de emissão), que, diversamente do que ocorre com os outros tipos, não cria uma relação durável de interesses.

É dessa maneira que, por canais diversos, os capitais de uma esfera nacional penetram em outra, que a interpenetração dos capitais intensifica-se e que o capital internacionaliza-se. Afluindo às fábricas e minas estrangeiras, às plantações e estradas de ferro, às companhias marítimas e aos bancos, o capital amplia-se, cede ao "país de origem" parte da mais-valia que ali circulará livremente), acumula o restante, alarga continuamente a esfera de seus investimentos, cria uma rede cada vez mais cerrada de dependência internacional. Os dados abaixo dão uma idéia quantitativa do processo.

França (dados de 1902)

Capitais franceses investidos no estrangeiro
(bilhões de francos)
  Natureza dos investimentos
(em milhões de francos)
Tunisia e colónias francesas 2-3   Empresas comerciais 995,25
Rússia 9-10   Propriedade fundiária 2.183,25
Inglaterra 0,5   Bancos e seguros 551
Bélgica e Holanda 0,5   Estradas de ferro 4.544
Alemanha 0,5   Minas e indústrias 3.631
Turquia, Sérvia, Bulgária 0,5   Transporte maritimo, portos, etc 461
Romênia e Grécia 3-4   Empréstimos governamentais e outros 16.553,50
Áustria-Hungria 2   Diversos 936
Itália 1-1,5   Total 29.855
Suiça 0,5  
Espanha e Portugal 3,5   Fonte: Sartorius von WALTERSHAUSEN: Das volkswietschafiliche
System der Kapitalanlage im Auslande
, pág. 56.
Egito e Canal de Suez 3-4,5    
Argentina, Brasil, México 2,5-3      
Canadá e Estados Unidos 0,5      
China e Japão 1      
Total 30-35,5      

   
Fonte: HARMS: op. Cit., 228-229; ISSAIEV: A economia mundial, págs. 82-83.    

Em 1903, Leroy-Beaulieu calculava em 30 bilhões de francos(26) o montante dos capitais franceses, investidos em estabelecimentos estrangeiros e empréstimos externos. Em 1905, esta cifra atingia a 40 bilhões. O valor global (cotação oficial) dos títulos cotados na Bolsa de Paris, era, em 1904, de 63.990 milhões de francos em valores franceses e 66.180 milhões de francos em valores estrangeiros, somas que passavam a ser, em 1913, de 64.104 milhões para os primeiros e 70.761 milhões para os segundos(27).

Inglaterra

Capitais ingleses investidos
no estrangeiro em 1911
  Emissões inglesas de
valores estrangeiros
(estradas de ferro estatais,
empréstimos mineiros
e empréstimos a várias corporações
País Libras esterlinas   Anos Milhões de Libras
Estados Unidos 668.078.000   1892 49,9
Cuba 22.700.000   1893 29,9
Filipinas 8.202.000   1894 52,2
México 87.334.000   1895 55,2
Brasil 94.330.000   1896 56,1
Chile 46.375.000   1897 47,4
Uruguai 35.225.000   1898 59,8
Peru 31.896.000   1899 48,2
Outras regiões da América 22.517.000   1900 24,2
Rússia 38.388.000   1901 32,6
Turquia 18.320.000   1902 57,7
Egito 43.753.000   1903 54,3
Espanha 18.808.000   1904 65,3
Itália 11.513.000   1905 102,6
Portugal 8.134.000   1906 61
França 7.071.000   1907 68,9
Alemanha 6.061.000   1908 121,9
Outras regiões da Europa 36.317.000   1909 121,9
Japão 53.705.000   1910 132,7(28)
China 26.809.000      
Outros investimentos 61.907.000      
Total 1.347.473.000      
Colônias inglesas e Índia 1.554.152.000      
Total Geral 2.901.625.000      

 

Em 1915, os capitais ingleses investidos em empresas estrangeiras e coloniais se elevavam, segundo declarações de Lloyd George, a 4 bilhões de libras esterlinas.

Quanto à Alemanha, os dados relativos à emissão de Valores estrangeiros e aos títulos estrangeiros cotados nas Bolsas alemãs indicam uma diminuição destes últimos (segundo o Stat. Jahrb. f. d. D. R. de 1913, o valor nominal dos títulos cotados era, em 1910, de 2.242 milhões de marcos; em 1911, de 1.208 milhões; em 1912, de 835 milhões de marcos), mas essa diminuição aparente da exportação de capital explica-se pelo fato de os bancos alemães praticarem, cada vez mais, a compra de valores nas Bolsas estrangeiras (particularmente nas de Londres, Paris, Anvers, Bruxelas), e também pela "mobilização financeira do capital" causada pela perspectiva de guerra. O total dos capitais alemães investidos no estrangeiro é de cerca de 35 bilhões de marcos.

Devemos, ainda, mencionar os capitais belgas, cuja alocação estrangeira eleva-se a 33 1/2 bilhões de francos.

Eis a distribuição dos capitais alemães e belgas investidos no estrangeiro:

Alemanha   Bélgica
País Em milhões
de marcos
País Em milhões
de marcos
  País Em milhões
de francos
Argentina 92,1 Luxemburgo 32   Estados Unidos 145,6
Bélgica 2,4 México 1039   Holanda 70
Bósnia 85 Holanda 81,9   França 137
Brasil 77,6 Noruega 60,3   Brasil 143
Bulgária 114,3 Áustria 4021,6   Itália 166
Chile 75,8 Portugal 700,7   Egito 219
Dinamarca 595,4 Roménia 498,9   Alemanha 244
China 356,6 Rússia 3453,9   Argentina 290
Finlândia 46,1 Sérvia 152   Congo 322
Grã-Bretanha 7,6 Suécia 355,3   Espanha 337
Itália 141,9 Suíça 437,6   Rússia 441
Japão 1290,4 Espanha 11,2   Vário 338(29)
Canadá 152,9 Turquia 978,1      
Cuba 147 Hungria 1506,3   Total 2,75 bilhões

 

Os Estados Unidos, que importam capital em quantidade considerável, exportam-no, por sua vez, em forte proporção, para a América do Sul e Central, México, Cuba e Canadá.

Os fundos de Estado de Cuba foram os primeiros a chamar a atenção dos capitalistas norte-americanos, que possuem ali vastas plantações. A iniciativa norte-americana tomou parte ativa no desenvolvimento da República mexicana, notadamente na construção e exploração das estradas de ferro, sendo portanto natural que 5% e 4% de empréstimos elevando-se a 150 milhões de dólares tenham sido colocados nos Estados Unidos. Neste mesmo mercado, foram negociados 4% das Ilhas Filipinas. Os Estados Unidos investiram mais de 550 milhões de dólares no Canadá, mais de 700 milhões no México, etc.(30)

Mesmo países como a Itália, o Japão, o Chile, etc., desempenharam papel ativo nesse deslocamento de capital. Evidentemente, a tendência geral do movimento é indicada pela diferença na taxa de lucro (ou na de juro): quanto. mais desenvolvido é um país, baixa a taxa de juros e intensa a "reprodução" do capital, tanto mais violento é o processo de eliminação. Inversamente, quanto mais elevada é a taxa de lucro, fraca a composição orgânica do capital e forte a demanda de capital, tanto, mais viva é a força de atração.

Assim como a circulação internacional das mercadorias iguala os preços locais e nacionais nos preços mundiais, e as migrações nivelam as diferenças regionais de salário dos operários, a circulação do capital tende a igualar as taxas nacionais de lucro — o que nada mais é que uma das leis gerais da produção capitalista em sua escala mundial.

Convém que nos detenhamos aqui sobre a forma de exportação de capital que se traduz na "participação" em empresas estrangeiras e no seu financiamento. No âmbito da economia mundial, as tendências do desenvolvimento capitalista à concentração apresentam as mesmas formas de organização que ostentam dentro da economia nacional: a limitação da livre concorrência pela organização dos monopólios aparece aí cada vez mais claramente. Ora, é justamente no processo de formação dos monopólios que a participação e o financiamento têm papel relevante. Se examinarmos a "participação" em seus vários graus, levando em conta o número de ações adquiridas, teremos uma idéia da maneira pela qual se prepara, gradativamente, o processo de fusão total. Um pequeno número de ações permite participar na assembléia dos acionistas, um número maior enseja o estabelecimento de relações estreitas (em função da exploração comum de novos métodos industriais, de brevês, de mercados, etc.), resultando a formação de uma certa comunidade de interesses. Se as ações ultrapassam 50% da emissão total, a participação corresponde à fusão integral. Finalmente, ocorre freqüentemente a criação de filiais sob forma de sociedades particulares, cujas ações são depositadas na "Matriz"(31), fenômeno comum quando se trata de fugir aos efeitos de restrições legislativas de um país estrangeiro, ou de aproveitar-se das vantagens de que gozam os industriais dessa nova "pátria" — casos em que se dá à filial a forma de sociedade anônima independente.

É assim que a fábrica de celulose Waldhof, em Maunheim, possui uma filial russa em Pernov; a fábrrica de corantes, Gari Schienk A. G. (Nuremberg), possui uma filial norte-americana, do mesmo modo! que a Varziner Papier-fabrik tem sua filial norte-americana, a Hammerwill Papier Co.; a maior fábrica de arame do continente, a Westälische Draht-industrie, possui uma filial em Riga; etc. Em compensação, companhias estrangeiras têm sucursais na Alemanha e em outros países, como a Companhia Haggi (Kemptall, Suíça), que tem filiais em Kissingen e Berlim (Alemanha) e em Paris (Compagnie Maggi e Societé des Boissons hygiéniques).(32)

Em 1903, a firma norte-americana, Westinghouse Electric Co. (Pittsburg), fundou uma sucursal nos arredores de Manchester (Inglaterra); em 1902, o truste americano de fósforos, Diamond Matsch Co., mediante crescente participação, absorveu uma empresa em Liverpool, que se converteu em sucursal da empresa americana, etc. Numerosos são os fabricantes de chocolates e confeitos suíços, de sabonetes, usinas metalúrgicas e fiações inglesas, fábricas de construção mecânica e usinas metalúrgicas norte-americanas, etc., que se encontram em situação análoga.

Não se deve crer, porém, que a participação em empresas estrangeiras limite-se a isso. Na realidade, há "participações" de toda espécie, desde a posse de um número de ações relativamente pequeno, sobretudo quando a empresa em questão (comercial, industrial ou bancária) "participa" de vários estabelecimentos ao mesmo tempo, até a posse da quase totalidade das ações, O mecanismo da "participação" consiste, para a sociedade interessada, em emitir ações e obrigações a fim de ter os meios de adquirir as ações de outros estabelecimentos. Liefmann distingue três aspectos dessa "substituição de ações" e seus tipos, segundo o fim visado por cada sociedade que a pratica: 1.° "sociedades de aplicação de capital" (Kapitalandngegesslschaften), quando a "substituição das ações" objetiva a obtenção de dividendos em estabelecimentos mais lucrativos e arriscados: 2.° "sociedades interceptadoras de ações" (Effektenübernahmegesellschaften), quando a finalidade da sociedade é colocar as ações de empresas que não podem, juridicamente ou práticamente, ser lançadas junto ao público; 3.° "sociedades de controle" (Kontrollgesellschaften), quando as ações de certos estabelecimentos são compradas, retiradas de circulação, e, em seu lugar, emitem-se ações da sociedade de controle, que obtém assim influência sobre esses estabelecimentos sem lhes trazer seu capital. O objetivo visado é precisamente essa influência. Esse controle, isto é, a direção efetiva dos estabelecimentos em questão.

Em todos os casos acima, supõem-se já existentes as ações substituídas. Se se trata de constituí-las pela primeira vez, estamos então em presença de uma operação de financiamento, cujos agentes podem ser, como vimos, bancos, empresas industriais e comerciais, ou ainda "estabelecimentos financeiros" especiais. Se os financiadores são estabelecimentos industriais, trata-se, geralmente, da fundação de filiais no estrangeiro, visto que se procede, então, de ordinário, à constituição. de um capital por ações.

Essas empresas financeiras podem abranger um vasto campo de atividades. Por exemplo, a empresa de mecânica Orenstein Koppel-Arthur Koppel A-C fundou 10 filiais, das quais as principais se localizaram na Rússia, em Paris, em Madri, Viena e Johnnesburg (Transval); a casa Körting Irmãos, de Hanover, possui filiais na Áustria, Hungria, França, Rússia, Bélgica, Itália, Argentina; inúmeras fábricas alemãs de cimento têm filiais na América; fábricas de produtos químicos têm-nas na Rússia, França e Inglaterra. O financiamento das empresas norueguesas para fabricação de azoto por estabelecimentos estrangeiros estendeu-se consideravelmente. Os capitalistas noruegueses, franceses e canadenses constituíram a Nork Hydro Elektrisk Kvälstofaktieselskab (Sociedade Norueguesa de Azoto e Forças Hidrelétriccs), que fundou, por sua vez, dois estabelecimentos anônimos, dos quais também participam capitais alemães. A internacionalização da produção na indústria eletrotécnica atingiu o mais alto grau. A firma Siemens Halske possui estabelecimentos na Noruega, Suécia, Transval e Itália, filiais na Rússia, Inglaterra, Áustria; a célebre Augemeine Elektrizititsgesellschaft (AEG em siglas), possui filiais em Londres, Petrogrado, Paris, Gênova, Estocolmo, Bruxelas, Viena, Milão, Madri, Berlim, cidades norte-americanas, etc.; idêntica atividade é desenvolvida pela Thompson-Houston Co. e sua afim, a General Electric Company, a Singer Manufacturing Co., a Dunlop Pneumatic Tyre Co., etc.(33)

Desnecessário dizer que os grandes bancos têm papel preponderante no financiamento de empresas estrangeiras, bastando passar os olhos sobre sua atividade para se ter idéia da força das ligações internacionais desses organismos nacionais, O balanço da Société Générale de Belgique, em 1913, avalia o montante de seus valores nacionais em 108.332.425 francos e o de seus valores estrangeiros em 77.889.237 francos. Este último capital encontra-se investido em empresas, empréstimos, etc., de países os mais diversos: Argentina, Áustria, Canadá, Nova Caledônia, Rússia, etc., etc.(34)

As estatísticas relativas à atividade dos bancos alemães são particularmente precisas. Damos a seguir algumas informações que elas fornecem sobre os principais bancos da Alemanha que dominam as operações bancárias do país.

DIE DEUTSCHE BANK — 1) Fundou o Deutsche Ueberseeische Bank, que possui 23 filiais: 7 na Argentina, 4 no Peru, 2 na Bolívia, 1 no Uruguai, 2 na Espanha, 1 no Rio de Janeiro; 2) fundou (juntamente com o Dresdner Bank) a Anatolische Eisenbahngesellschaft (Sociedade da estrada de ferro otomana da Anatólia); 3) em acordo com o Wiener-Bank-Verein, comprou ações da Betriebsgesellschaft der crientalischen Eisenbahn; 4) fundou a Deutsche reuhandgesellschaft; 5) participa no Deutsch-Asiatische Bank de Changai; 6) participa no Bank für Orientalische Eisenbahnen de Zurique; 7) participa no Banco Commercialle Italiana (Milão); 8) participa no Deutsch-Atlantische, Ost-Europäische, Deutsch-Niederlandische Telegraphengesellschaft; 9) participa na Schantung-Befgbau e na Schantung-Eisenbahngesseilschaft; 10) participa (junto com firmas turcas, austriacas, alemães, francesas, suíças, italianas) na Companhia do Império Otomano da Estrada! de Ferro de Bagdá; 11) fundou a Ost-Afrikannische Gesellschaft; 12) participa no Deutsch-Ost-Afrikanische Bank; 13) participa (em acordo com firmas suíças e alemãs) no Zentral-Amerika Bank (mais tarde, Aktiengesellschaft für überseeische Bauunternehmungen); 14) participa no banco Gfzterbook, Horwitz et Co (Viena); 15) participa na firma Ad. Goerz (minas de Berlim e deJohannesburgo).

DISKONTO-GESEUISCHAFT — 1) Participa na Deutsche Handeds-und Plantagengesellschaft der Südseeinseln e na Neu-Guinea Kompagnie; 2) fundou (juntamente com o Nord-Deutsche Bank) o Brasilianische Bank für Deutschland com 5 filiais; 3) participa, com outros bancos, no Deutsch-Asiatische Bank; 4) participa no Banco Ernesto Tonquist (Buenos Aires) e no Banco Albert de Bary et Co (Anvers); 5) participa na Banca Commerciale Italiana; 6) fundou (com o Norddeutsche Bank o Bank für Chile und Deutschland, com 8 filiais; 7) fundou (juntamente com a firma Bleichröder) a Banca Generale Romana de Bucareste com 6 filiais; 8) participa, com várias firmas, na Banque Internationale de Bruxelas; 9) participa na Schantung Eisenbahnges e Schantung Bergbauges, assim como numa série de estabelecimentos telegráficos; 10) fundou a Otavi-Minen-und Zisenbahngesellschaft (Africa); 11) fundou a Ost-Afrikanisch Eisenbahngesellschaft; 12) participa no Deutsch-Ost-Afrikanische-Bank; 13) fundou (com a firma Bleichröder, uma firma búlgara e o Norddeutsche Bank) o Kreditna Banka de Sofia; 14) fundou (com a casa Waermann de Hamburgo) o Deutsche AfrikaBank; 15) participa na General Mining and Finance Corporation Limited de Londres; 16) fundou (junto com outras firmas) a Kamerun Eisenbahngesellschaft; 17) fundou, em 1900, uma filial em Londres; 18) junto com Krupp, financiou a Grosse Venezuela Eisenbahn; 19)como membro do consórcio de bancos Rothschild, participou de empréstimo estatais para estradas de ferro, etc., e de empresas na Austria-Hungria, Finlândia, Rússia, Romênia.(35)

Atividade análoga é realizada por outros bancos alemães: Dresdner Bank, Darmstädter Bank, Berliner Handesgesellschaft, Schaffhausenscher Bankverein e Nationalbank für Deutschland, que têm também filiais comuns em todos os países do mundo.(36)

Não precisamos dizer que os bancos alemães não são os únicos a dedicar-se a essa intensa atividade no exterior. Dados comparados mostram que, sob este aspecto, a Inglaterra e a França detêm o primeiro lugar. Enquanto que o total dos bancos de além-mar de capital alemão, era, em princípios de 1906, de 13 representando um capital de 100 milhões de marcos e 70 sucursais), a Inglaterra contava, no fim de 1910, 36 bancos coloniais com sucursais em Londres e 3.538 agências inglesas no estrangeiro, assim como 36 outros bancos inglêses no exterior com 2.091 sucursais. Em 1904-05, a França possuia já 18 bancos estrangeiros e coloniais com 104 sucursais; a Holanda. 16 bancos de além-mar com 68 sucursais, etc. Certos bancos franceses revelam a mesma força econõmica em relação às colônias e ao "estrangeiro". Assim, o Crédit Lyonnais tinha, em 1916, 16 sucursais no exterior e 11 na Tunísia e Madagascar; a Société Générale e o Crédit Industrial têm sucursal própria apenas em Londres, mas possuem, em compensação, múltiplas filiais no exterior.(37)

A "participação" e o "financiamento" — considerado como uma nova fase da "participação" — caracterizam a marcha da integração contínua da indústria em um único sistema de organização. Os recentes tipos de monopólio capitalista, em suas formas mais centralizadas, como os trustes, não são senão uma das formas das "sociedades de participação" ou de "financiamento", na medida em que estas: 1.° detêm mais ou menos uma situação de monopólio sob o regime atua! de propriedade capitalista, e 2.° são consideradas e classificadas, do ponto de vista da circulação dos títulos de valor, como a expressão específica da propriedade capitalista de nossa época.

Assim, o desenvolvimento do processo da economia mundial, que repousa sobre a expansão das forças produtivas, conduz não sàmente ao estreitamento das relações de produção entre os diferentes países, à multiplicação e ao fortalecimento das relações capitalistas, como também à geração de novas firmações econômicas, de novas formas econômicas, desconhecidas nas faces precedentes do sistema capitalista.

O esquema do processo de organização que caracteriza o desenvolvimento da indústria no plano econômico nacional aparece, com relêvo cada vez mais evidente, no plano das relações da economia mundial. E, assim como a expansão das forças produtivas sobre a base capitalista das economias nacionais levou à formação dos cartéis e trustes nacionais, a expansão das forças produtivas do capitalismo mundial coloca, de maneira imperiosa, a necessidade das ententes internacionais entre grupos capitalistas nacionais, desde as formas mais elementares até o tipo centralizado do truste internacional. Examinaremos, no capítulo seguinte, essas formações econômicas.


Notas de rodapé:

(1) "A divisão do trabalho na sociedade, no periodo manufatureiro, é altamente facilitada pela expansão do mercado mundial e pelo sistema colonial que entram na esfera de suas condições gerais de existência" (K. MARX: O Capital, t. II, pág. 254). Isso é igualmente verdadeiro para a nossa época. (retornar ao texto)

(2) Konrad MATSCHOSS: Grundriss der technischges-chichtlichen Entwicklung in "Die Technik in Jahrhundert", von A. Miethe, I Band. (retornar ao texto)

(3) Marx foi o primeiro a descobrir claramente essa lei e a proporcionar uma brilhante análise de suas manifestações, em seu estudo sobre as causas da baixa da taxa de lucro (ver O Capital, t. III, cap. I). Na pessoa de Böhm-Bawerk, que considera toda a teoria de Marx um castelo de cartas, a economia política burguesa plagia com entusiasmo certos aspectos dessa teoria, esforçando-se porém por ocultar a "fonte". Assim é que a teoria de Böhm-Bawerk sobre as "vias desviadas da produção" nada mais é que uma reformulação piorada da lei de Marx sobre a formação da composição orgânica do capital. (retornar ao texto)

(4) JURASCHEK: Bergbaustatistik,in Handw. d. Staatswissenschaften. (retornar ao texto)

(5) Calculado de acordo com Statist. Jahrb. d. D. R. 1913; as cifras são suscetíveis de dúvida pelo fato de, para Ásia, Africa e Austrália, se haverem baseado em dados de 1910. (retornar ao texto)

(6) JURASCHEK: op. cit.; o último ano foi calculado de acordo com Stat. Jahrb, etc. (retornar ao texto)

(7) JURASCHEK: Eisen und Eisenindustrie, Stat. Jahrb., etc. (retornar ao texto)

(8) Statesman's Year Book, 1915; JURASCHEK, op. cit.; MULHALL, op. cit. (retornar ao texto)

(9) Vestnik Finansov, 1915, nº 6. O ouro preenche a função de meio de circulação. Como se depreende dos dados apresentados, sua extração aumenta sensivelmente, apesar do imenso papel desempenhado pelo crédito e das economias de meios de circulação em geral. (retornar ao texto)

(10) Vestnik Finansov, 1915, ns. 19 e 39 (dados relativos ao algodão); os dados relativos ao trigo são tirados de Friedrich e do Vestnik Finansov, n.º 15. (retornar ao texto)

(11) Mulhall WEBB: Statesman's Year-Book, 1915. (retornar ao texto)

(12) FRIEDRICH, op. cit. (retornar ao texto)

(13) Ibid. (retornar ao texto)

(14) WIEDENFELD: Eisenbahnstatistik, in Handw d. Staatsw. (retornar ao texto)

(15) Statist. Jahrb. f. d. D. R. 1913. (retornar ao texto)

(16) G. LECARPENTIER: Commerce maritime et marine marchande, Paris, 1910, pág. 59. (retornar ao texto)

(17) B. HARMS: op. cit., pág. 126. (retornar ao texto)

(18) K. MARX; O Capital, t. V. págs. 255-256. (retornar ao texto)

(19) St. Jahrb, f. d. D. R. 1, pág. 39; The Statesman's Year-Book. (retornar ao texto)

(20) Sombart, que se tornou furiosamente imperialista durante a guerra, está longe de constituir um fenômeno isolado. O estudo dos problemas econômicos ligados à economia mundial faz aparecer duas tendências: uma, otimista; outra, visando antes de tudo a consolidar a força interna que luta pelo poder da potência imperialista. Daí uma atenção maior às questões do mercado interno. (Ver, por exemplo, a obra do Dr. Heinrich Pudor: Weitwirtscchaft und Inlandproduktion, in Zeitschrift für die gesamte Staatswissenschaft, hg. von. K. Bücher, 71 Jahrg. (1915, 1 Heft) "Não devemos aspirar a uma economia mundial alemã senão na medida em que nossa produção, isto é, nossa indústria, absorver um número cada vez maior de mercados estrangeiros e suplantar a concorrência estrangeira, quando, evidentemente, o comércio mundial apresentará igualmente, um desenvolvimento paralelo. O essencial, porém, é a produção interna" (págs. 147-148). (retornar ao texto)

(21) HARMS: op. cit., 202, nota; ver, também, S. SUHILDER: Entwicklungstendenzen der Welwirschaft, Berlim. (retornar ao texto)

(22) D. LEWIN: Der Arbeitslohn und die soziale Entwickelung, Berlim, 1913, pág. 141; J. EILIPPOV: A emigração, página 13. O último dado é extraido de The American Year-Book, 1914, pág. 385. (retornar ao texto)

(23) LEWIN: op. cit., pág. 141. (retornar ao texto)

(24) Statistisches Jahrbuch für das Deutsche Reich, etc. (retornar ao texto)

(25) Sobre essas companhias, consultar R. LIEFMANN: Beteiligungs und Finanzierungsgesellschaften, 2. edição, Iena, Gustav Fischer, 1913. (retornar ao texto)

(26) L'Economiste Français, 1902, II, pág. 449 (citado por Satorius). (retornar ao texto)

(27) Sartorius von WALTERSHAUSEN, op. cit. (retornar ao texto)

(28) HARMS: op. cit. pág. 235 (retornar ao texto)

(29) HARMS: op. cit., pág. 242. CHILDER: Entwicklungstendenzen der Weltwietschaft. (retornar ao texto)

(30) M. BOGOLIEPOV: O mercado norte-americano (Vestnik Finansov, n.º 39, 1915). (retornar ao texto)

(31) R. LIEFMANN: Beteiligungs und Finanzierungsgesellschaften, págs. 47-48. Convém notar que, em certas condições, tanto o "controle" quanto a fusão podem efetuar-se mesmo se o número de ações é inferior a 50%. (retornar ao texto)

(32) R. LIEFMANN: op. cii., pág. 49 (retornar ao texto)

(33) Idem, págs. 99.104. É evidente que o financiamento não se refere exclusivamente às filiais. Assim, a firma Knopp financiou, em 1912, (justamente com as firmas Viadimir Soloviev e Kraft Frères), a Manufacture de la Caspienne (sociedade anônima), que adquiriu os bens de uma empresa, hoje liquidada, fundada no Daguestão pelo industrial moscovita Rechentnikov, o banqueiro siberiano Petrokokino e a Banque de Paris et des Pays-Bas (Birjevue Viedomosti, 15, IV, 1915). (retornar ao texto)

(34) La Vie Internationaje, tomo V, 1914, n.º 5, pág. 449 (publicada pelo Office Central des Associations Internationales, Bruxelas). (retornar ao texto)

(35) Dr. RIESSER: Die Deutschen Grossbanken und ihre Konzentration in Zusammenhang mit der Entwickhlung des Gesamtwirtschaft in Deutschland, 4.ª edição, 1912, pág. 354. (retornar ao texto)

(36) Consultar em Riesser a rubrica: Die gemeinsanten Tochtergeseltsclzaften der deutschen Kreditbanken zur Pflege überseeischer und ausländischer Geschaftsbeziehungen, no livro citado, pág. 371 e seg. (retornar ao texto)

(37) Ibid. pág. 375. Observe-se o rápido desenvolvimento dos bancos alemães, que eram 4, em fins de 1850; 6 com 32 sucursais, em 1903; e 13 com 70 sucursais, em 1906. (retornar ao texto)

Inclusão 21/09/2015