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Apolonio de Carvalho, uma das maiores expressões da dignidade do povo brasileiro ao longo do século XX. Aliando uma esperança que jamais se vergou perante qualquer dificuldade, uma militância socialista disciplinada, uma grande coragem política e uma grande coragem física, este mato-grossense nascido em Corumbá (hoje, MS), dedicou toda sua vida à luta pela liberdade e fraternidade entre os seres humanos. Assim, combateu no Brasil, na Espanha e na França.
Os anos 30 marcam a ascensão do nazi-fascismo em todo o mundo. No Brasil, Getúlio Vargas chega ao poder, eleito pelo Congresso, que seria dissolvido três anos depois, com a instalação do Estado Novo.
É neste quadro que, aos 23 anos, Apolonio – um jovem oficial de Artilharia a Cavalo, em Bagé (RS) – engaja-se na Aliança Nacional Libertadora, ANL. Em conseqüência disso, é preso em 1936, tem sua patente militar destituída e é expulso do Exército.
Com a saída da prisão em junho de 1937, Apolonio ingressa no Partido Comunista. Recebe a orientação de embarcar para a Espanha onde, juntamente com outros 20 brasileiros, combaterá nas Brigadas Internacionais ao lado das forças Republicanas contra os fascistas liderados pelo general Francisco Franco.
Apolonio deixa a Espanha juntamente com as Brigadas Internacionais em fevereiro de 1939 e parte para a França, onde permanece em campos de refugiados até maio de 1940, quando consegue fugir do campo de Gurs, dirigindo-se a Marselha. É nesta cidade portuária que ele ingressa na Resistência Francesa, em 1942, da qual se torna comandante da guerrilha dos partisans para a região sul, com sede em Lyon. É também em 1942 que conhece Renée, uma jovem militante comunista da Resistência, que se tornaria sua companheira para o resto da vida. Em janeiro de 1944, Apolonio e Renée se instalam em Nîmes, onde em fevereiro, se organiza o ataque à prisão daquela cidade, libertando 23 militantes da Resistência. Em maio, mudam-se para Toulouse. Em agosto, Apolonio comanda a liberação de Carmaux, Albi e Toulouse.
O fim da II Guerra encontra a família em Paris, de onde embarca no ano seguinte para o Rio. Em 1947 nasce o segundo filho do casal, Raul. Apolonio, Renée e as duas crianças passam a viver na clandestinidade, militando entre Rio e São Paulo até 1953, quando ele parte para um curso na União Soviética que dura cerca de quatro anos. Em 1955, Renée o encontra em Moscou e, em 1957, a família está de volta ao Brasil, vivendo na semi-legalidade, situação que se estende até o golpe militar de 1964.
Logo após o golpe de 31 de março de 1964, Apolonio passa a viver em profunda clandestinidade no estado do Rio, longe da família. Em conseqüência das divergências com o Comitê Central do Partido Comunista (do qual é membro) Apolonio e a Corrente Revolucionária do Estado do Rio deixam o PCB, em 1967. Em abril do ano seguinte, juntamente com Mário Alves, Jacob Gorender e outros dissidentes, Apolonio formará o PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário), do qual torna-se secretário-geral. Em janeiro de 1970, no bojo de quedas que atingiram dezenas de militantes do PCBR, Apolonio e Mário Alves são presos no Rio e Jacob Gorender em São Paulo. Todos são violentamente torturados e Mário Alves, assassinado.
Em junho, Apolonio e outros 39 presos políticos brasileiros chegam a Argel, trocados pelo embaixador alemão, seqüestrado por um comando revolucionário no Rio de Janeiro.
A volta ao Brasil será em outubro de 1979, depois da Anistia de agosto daquele ano. Em fevereiro de 1980, Apolonio participa da fundação do Partido dos Trabalhadores, tornando-se o filiado número 1 da nova agremiação, da qual assume a Vice-Presidência. Permanece na direção do novo partido até 1987, quando se afasta por orientação médica.
Apesar das limitações da saúde e da idade, Apolonio prossegue um militante que não se furtará jamais aos debates e à manifestação pública de suas posições de socialista convicto. Um socialista que soube combater criticamente as distorções do chamado “socialismo real” mas que, nem por isto (ou por isto mesmo), a queda do muro ou o diversionismo das teorias propagadas pelo capital conseguiram dobrar. Entusiasta do MST, ao qual sempre prestou apoio e junto ao qual esteve sempre presente, enfrentou nos últimos meses de sua vida a derrocada do Partido dos Trabalhadores, frente ao que não abriu mão da crítica ou da esperança. Para ele, um novo mundo (socialista) era sempre possível e poderá estar sempre ao alcance de nossas mãos, desde que estejamos dispostos a nos organizar e a lutar por ele. Assim, aos 93 anos, no dia 23 de setembro de 2005, falece Apolônio. Mestre da liberdade e da esperança, deixou-nos a primavera. Cabe-nos o compromisso de construí-la.
Texto de Alípio Freire - fonte: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
Obras disponíveis | |
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1961 - set | Como encarar o problema de Berlim? |
1966 - out | Por uma Política de Frente Ampla - Mas Independente e Consequente |
1988 - jun | Entrevista a Teoria e Debate (ver página 83) |
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