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O meu amigo Tavares Dias, velho militante partidário, nascido no sertão da Bahia, camponês da caatinga de beatos e cangaceiros, fugitivo da polícia no campo paulista, contou-me há poucos dias uma história que vale a pena reproduzir aqui porque ela mostra bem a reação do homem do campo ante as infâmias que foram espalhadas sobre o Partido nestes últimos anos. Uma propaganda incessante, diária e violenta, encheu todo o Brasil dizendo dos comunistas e do Partido as coisas mais degradantes, as misérias maiores. Essa propaganda não se reduziu às grandes cidades, ao meio operário e pequeno-burguês. Ela chegou ao campo, levada pelos interesses latifundiários. E a palavra “comunismo” foi ressoar nos ouvidos camponeses com um rumor de morte, de escravidão, de desonra.
Tavares Dias é hoje Secretário do Partido em Rio Preto, São Paulo. Estava um desses dias na sede do Partido quando lhe apareceu um camponês, os pés descalços, as mãos ainda sujas de terra, a camisa aberta sobre o peito, envelhecido no trabalho da enxada, andando no seu passo demorado, falando na sua língua de pequeno vocabulário.
Procurava alguém responsável para conversar. Levaram-no ao Tavares:
— Seu moço — disse o camponês — eu queria saber mesmo o que é o tal de comunismo... Tanta gente tem me falado...
Operário, soldado, comerciário, varador de sertão, Tavares Dias nasceu camponês e não há problema que ele sinta como o da terra. Começou a explicar o que era o comunismo, o que era o Partido, o significado da sua política para os camponeses e os lavradores, a etapa atual que vivemos, os discursos de Prestes no que eles se referiam ao problema do campo, trocando tudo em miúdo, falando a mesma língua que usava o suado trabalhador da enxada que andara quilômetros para aquele encontro. O camponês ouvia sem interromper, pitando seu cigarro de palha. Quando Tavares terminou, então ele falou e disse:
— Tá aí, veja o senhor... Agora tou sabendo o que é o comunismo... É igualzinho a assombração. Veja o senhor... Um dia aparece de noite na estrada uma luzinha e vem um e diz pra gente assim: “não chegue perto que aquilo é assombração”. E vem outro e diz: “é uma assombração horrível, é o t’esconjuro”. E um cumpadre jura que é assombração que come a gente. E tanto eles falam, tanto vivente que pega a falar, que a gente fica com vontade até de ir espiar a assombração. Um dia não arrisiste, vai lá perto da luzinha, chega lá não é assombração nem nada, é o pai da gente...
É o pai da gente... Assim os camponeses estão reconhecendo agora o Partido, os comunistas, Prestes, a sua política da terra. Estão vindo espiar a assombração perigosa e proibida. E reconhecem então a sua face paternal.
Inclusão | 08/04/2014 |