Homens e Coisas do Partido Comunista

Jorge Amado


12. Saudação ao “Pleno da Vitória”


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Pela primeira vez, após vinte e três anos de lutas, sacrifícios e indômita coragem, o Comitê Central do Partido Comunista do Brasil reúne-se legalmente. À sua frente está Prestes, firme e decidido, seu rosto sofrido mas confiante. Vieram homens das catacumbas, alguns destes dirigentes são quase totalmente desconhecidos do grande público. Nomes verdadeiros surgem dos muitos nomes de guerra de cada um. O camarada Vitor, o camarada José. Esse magro Pedro Pomar teve pelo menos cinco nomes nos últimos tempos. São uns poucos homens, eles conduziram o Partido no mais difícil tempo da sua vida, jogaram a batalha da democracia brasileira, da guerra contra o nazifascismo, da anistia, da legalidade do Partido. Foram violentamente xingados e discutidos, foram renegados por muitos e continuaram apesar de tudo porque estavam convencidos de que a história não para, que o proletariado ascende. Quem não se recorda do discurso de Ivã Ramos Ribeiro em certo comício nos inícios de 44? Quando ele falou como comunista, todos os liquidacionistas se alarmaram e o mundo parecia querer vir abaixo. O Partido levantava sua cabeça e ia para a praça pública falar pela boca de um jovem capitão sem medo. Lá está Ivã no Comitê Central, ele sabia o que estava fazendo. Álvaro Ventura era um nome conhecido do proletariado. Quando ele surgiu à frente do Partido os liquidacionistas souberam que já era impossível negar a existência da vanguarda operária. Lembro-me dele em São Paulo no comício pró-anistia. Quando ele começou a falar em nome dos comunistas, muita gente se retirou, querendo protestar contra a existência do Partido. Era a traição trotskista, mas a massa ficou e aplaudiu Ventura que dizia palavras justas sobre a unidade nacional.

E está Prestes. Garantia de que este Partido cresceu no seio do povo. O Pleno do Comitê Nacional é o grande fato político do ano de 45. Marca o início de um tempo novo na história política do país. Marca também o aparecimento daquele que foi saudado como um “partido de novo tipo”. Um partido de novo tipo, realmente, forjado nesses últimos anos, através de uma linha política justa, através de uma confiança sem limites no povo e no proletariado, através de uma coragem de sacrifício insuperável.

Agora eles se reúnem legalmente, são os homens do Comitê Central. Estudam as tarefas realizadas, submetem a vida do Partido a uma autocrítica profunda, traçam a linha política, abrem perspectivas para o povo brasileiro. Quando o Pleno se encerra, com o memorável discurso de Prestes, então cada um de nós, comunistas, sente o coração confiante porque sabe que os homens à frente do Partido merecem a confiança do povo. Eles sentem as necessidades do povo, viveram com ele, sofreram com ele, com ele construíram o grande partido de hoje. São criadores de um novo tipo, são como artistas, são verdadeiros líderes. Magros e doentes, cansados, há muito que não têm tempo para dormir, para comer, para repousar um pouco. Mas sorridentes, sem amarguras, sem invejas e sem pequenas ambições. São os nossos melhores homens, são a melhor representação do povo brasileiro. Nós os saudamos, a cada um e a todos eles, agora que seus nomes verdadeiros podem ser ditos, substituindo os antigos nomes de guerra murmurados na ilegalidade. Nós os saudamos fraternalmente, confiamos neles e no futuro.

continua>>>


Inclusão 08/04/2014