Um nome revolucionário para um grupo de juventude revolucionário

Leon Trótski

10 de dezembro de 1938


Primeira Edição: carta de Leon Trotski ao SWP americano, em meio aos debates da conformação de uma juventude impulsionada pela organização, dos arquivos pessoais de James P. Cannon.

Fonte: Esquerda Diário - http://www.esquerdadiario.com.br/Um-nome-revolucionario-para-um-grupo-de-juventude-revolucionario - Traduzido da versão em espanhol disponibilizada pelo Centro de Estudios e Investigación Leon Trotski - https://ceip.org.ar/Un-nombre-revolucionario-para-un-grupo-juvenil-revolucionario

Transcrição: Calvin Borges

HTML: Fernando Araújo.


Queridos amigos:

Me dizem que houve oposição à proposta de chamar a organização de juventude “Legião da Revolução Socialista”, já que o trabalhador norteamericano não “gosta” de nada que cheire a revolução, ação ilegal, hostilidade à democracia, etcétera. Estes argumentos são incomparavelmente mais importantes do que a questão do nome em si.

É uma velha experiência histórica que, aquele que não considera oportuno ostentar abertamente seu nome político, não possui a coragem necessária para defender abertamente as suas ideias, já que o nome não é algo acidental, mas sim a condensação das ideias. Por isso Marx e Engels se chamavam de comunistas e nunca gostaram do nome social-democratas. Por isso Lênin abandonou a camisa suja da socialdemocracia e adotou o nome Partido Comunista para sua organização, por ser mais intransigente e militante. Agora, novamente temos que jogar fora os nomes que foram prostituídos e escolher um novo. Não temos que buscá-lo adaptando-nos aos preconceitos das massas, e sim, pelo contrário, temos que nos opor a estes preconceitos com um nome adaptado às novas tarefas históricas.

O argumento mencionado é incorreto no seu aspecto teórico, político e psicológico. A mentalidade conservadora de um grande setor de trabalhadores é uma herança do passado e é forte do “norteamericanismo” (tanto no estilo de Hoover como no de Roosevelt). A nova situação econômica está em oposição absoluta a esta mentalidade. O que é o determinante para nós, a estupidez tradicional ou os fatos revolucionários objetivos? Vejamos o senhor Hague do outro lado da barricada. Ele não tem medo de pisotear a “democracia” tradicional. Proclama: “A lei sou só eu”. Do ponto de vista tradicional parece muito imprudente, provocativo, irracional; mas é absolutamente correto do ponto de vista da classe capitalista. Somente desta maneira poderá se formar um partido reacionário militante que se adeque à situação objetiva.

E não temos tanta coragem como os que estão do outro lado da barricada?

A crise do capitalismo norte americano tem um ritmo muito rápido. As pessoas que hoje se assustam com o nome militante amanhã entenderão seu significado. O nome político não é para um dia ou um ano, mas para todo um período histórico.

Nossa organização de juventude conta com apenas 700 membros. Seguramente nos Estados Unidos existem dezenas e centenas de milhares de garotos e garotas profundamente decepcionados com a sociedade que lhes nega a possibilidade de trabalhar. Se nosso nome não é compreensível ou “agradável” para milhões de setores atrasados, pode ser muito atrativo para dezenas de milhares de setores ativos. Nós somos um partido de vanguarda. Enquanto assimilarmos milhares e dezenas de milhares, os milhões aprenderão o verdadeiro sentido do nome por meio dos golpes econômicos aos quais forem submetidos.

Um nome anódino (NdT: carece de interesse ou importância) passa inadvertido, e isso é o pior na política, especialmente para os revolucionários. A atmosfera política está agora extremamente confusa. Em uma reunião política, quando todos falam e ninguém escuta os demais, o presidente põe ordem dando um forte golpe na mesa. O nome do partido teria que ressoar como esse golpe.

A organização de juventude pode e deve ter organismos auxiliares com propósitos variados e nomes diferentes, mas o organismo político dirigente tem que ser de um caráter revolucionário definido e aberto e contar com seus correspondentes bandeira e nome.

O primeiro informe me dá a impressão de que o perigo não reside em que a juventude deseje ser um segundo partido, mais bem em que o primeiro partido a domina demasiada, direta e firmemente, por meios organizativos. Os quadros partidários da juventude, naturalmente, elevam muito o nível da discussão nos congressos e no Comitê Nacional, mas este alto nível é uma expressão do aspecto negativo da situação. Como pode se educar a juventude sem uma certa quantidade de confusões, erros e lutas internas que não sejam infiltradas pelos “velhos”, mas que subam do seu próprio desenvolvimento natural? Me parece que na organização de juventude os membros de experiência do partido pensam, falam, discutem e decidem em nome da juventude e que esta deve ter sido uma das razões pelas quais perdemos gente no passado. A juventude não tem direito a ser sábia demais ou madura demais, ou melhor dito só tem direito a ser jovem. Este aspecto da questão é muito mais importante que a das cores, rituais, etcétera. O pior que poderia nos acontecer seria estabelecer uma divisão do trabalho dentro da organização de juventude: que a base brinque com cores e trompetes e os quadros seletos se ocupem da política.

Fraternalmente,
Joe Hansen [Trotsky]


Inclusão: 16/12/2021