Contra o nacional-comunismo
(as lições do plebiscito ''vermelho'')

Leon Trotsky


«Revolução popular» como meio de «libertação nacional»


As ideias têm a sua lógica. A revolução proletária é avançada como um meio auxiliar para a 'libertação nacional'. Uma tal maneira de colocar a questão abriu o acesso às tendência chauvinistas ao Partido. Não há, bem entendido, nada de mau no facto que os patriotas desesperados do campo do chauvinismo pequeno burguês se aproximem do partido do proletariado: diferentes elementos juntam-se ao comunismo por diferentes caminhos e atalhos. Há incontestavelmente elementos sinceros e honestos – ao lado de oportunistas e aventureiros falhados – nas fileiras dos oficiais guardas brancos e Cem Negros que, durante os últimos meses, tiveram, parece, começado a se virar para o comunismo. O Partido pode, bem entendido, utilizar também tais metamorfoses individuais como meio auxiliar de decomposição do campo fascista. O crime da burocracia estalinista – sim, um verdadeiro crime – consiste todavia no facto que ela se solidariza com esses elementos, que ela identifica suas vozes à do Partido, que ela recusa denunciar suas tendências nacionalistas e militaristas fazendo do folheto profundamente pequeno burguesa, reaccionária-utópica e chauvinista de Scheringer um novo evangelho do proletariado revolucionário. É esta concorrência vulgar com o fascismo que nasceu a decisão, à primeira vista inesperada, do 21 de Julho: vocês têm uma revolução popular, nós também temos uma; na vossa a libertação nacional é um critério supremo – a nossa, é a mesma coisa; vocês proclamam a guerra ao capitalismo ocidental, nós prometemos a mesma coisa; para vocês, há o plebiscito, nós também faremos um e, melhor que isso um plebiscito «vermelho».

É um facto que o antigo operário revolucionário Thaelmann faz todos os esforços possíveis para não ser inferior ao conde Stenbock-Fermor. O relatório da reunião dos militantes do Partido onde Thaelmann inaugurou a reviravolta para o plebiscito, está publicado na Rote Fahne sob o título pretensioso «Sob a bandeira do marxismo». Todavia, Thaelmann coloca no primeiro plano das suas conclusões o pensamento que «a Alemanha é hoje um brinquedo nas mãos da Entente». Trata-se portanto antes de tudo, da ''libertação nacional''.

Ora, num certo sentido, a França, a Itália, e mesmo a Inglaterra, também elas, ''brinquedos'' nas mãos dos Estados-Unidos. A dependência da Europa em relação à América, que reapareceu de novo no momento da proposição Hoover (amanhã essa dependência se mostrará de uma maneira ainda mais aguda e mais brutal), tem uma importância muito mais profunda para o desenvolvimento da revolução europeia que a dependência da Alemanha em relação à Entente. Eis porquê – digamos de passagem – a palavra de ordem dos Estados Unidos Soviéticos da Europa, e não somente a palavra de ordem isolada ''abaixo o tratado de Versailles'', é uma resposta proletária às convulsões do continente europeu.

Mas estas questões são, contudo, questões de segundo plano. A nossa política não é determinada pelo facto que a Alemanha é um ''brinquedo'' nas mãos da Entente, mas antes de tudo pelo facto que o proletariado alemão dividido, enfraquecido e humilhado, é um brinquedo entre as mãos da burguesia alemã. «O inimigo mais perigoso está no nosso país!» ensinava outrora Karl Liebknecht. Esqueceram, caros amigos? Ou talvez este ensinamento não vale nada? Para Thaelmann, ele envelheceu manifestamente. Liebknecht é substituído por Scheringer.(1)


Notas de rodapé:

(1) Scheringer: oficial alemão que passara do campo nazi para o KPD, vendo neste último o instrumento da libertação da Alemanha. Este episódio dará ocasião ao KPD de lançar uma campanha chauvinista visando a concorrer os nazis sobre o seu próprio terreno. (retornar ao texto)

Inclusão 14/05/2017