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Primeira Edição: Discurso do Comissário do Povo para Assuntos Militares e Navais, camarada Trotsky.
Fonte: do texto em russo: http://goo.gl/Z1oCfQ. Título em russo: “Svyashchennaya zadacha Krasnoy armii”. Áudio disponível em: http://goo.gl/kh5hhy.
Tradução: Erick Fishuk - Blog: Traduções Erick de Fishuk - http://www.fishuk.cc/2015/09/sagrada.html#volta4
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Camaradas soldados do Exército Vermelho! Em 8 de março deste ano, veio me ver no Comissariado do Povo para Assuntos Militares o velho tártaro Burmay(1), natural da província de Samara(2). Ele foi mandado a Moscou pelos conterrâneos, trabalhadores camponeses tártaros, e com lágrimas nos olhos agradeceu ao Poder Soviético por ter libertado sua província dos bandos de Dutov(3). Eis o que ele me disse:
“A presença dos cossacos em nosso povoado foi terrível. Seus oficiais não apenas tomavam nossos cavalos, gado, cereais, sem pagar nada, principalmente aos camponeses pobres. Não, mais ainda, nos humilhavam, perseguiam, agrediam, fuzilavam! Nós, tártaros, sofríamos o pior. Ouvimos que o Exército Vermelho estava se deslocando para a província de Samara, mas não sabíamos se seria melhor ou pior. E quando os cossacos deixaram o povoado, dando lugar aos soldados vermelhos, logo vimos que era outra gente. Não fomos mais ultrajados, os soldados falavam conosco como irmãos, no povoado e em todo o entorno se instalou a ordem. Respiramos aliviados e bendissemos o Exército Vermelho!”
Assim me disse o velho tártaro, pai de uma família numerosa, e ouvindo essas palavras, camaradas soldados, fui sentindo imenso orgulho de nosso Exército Vermelho Operário-Camponês. Este pequeno exemplo traduziu o legítimo caráter das tropas revolucionárias, bem como o pleno sentido desta guerra que nos obrigam a travar. De um lado, as tropas burguesas carniceiras representam na prática, em todo e qualquer lugar a que chegam, a pior forma de ludíbrio que havia sob os tsares, a opressão dos pobres. Do outro lado, as tropas vermelhas trazem a libertação a todos.
Então lembrem-se: é muito claro que cabe a vocês garantir o comer e beber dos pobres. Azar ao soldado que não entende a que foi indicado. E ao autêntico soldado do Exército Vermelho, que corajoso e honesto defende os direitos e interesses dos pobres, honra e glória, e a gratidão das massas trabalhadoras!
Notas de rodapé:
(1) As transcrições que encontrei davam, sem ter certeza, o nome como “Бурлаев” [Burlayev] ou “Бурлай” [Burlay], mas a meu ouvido pareceu mais “Бурмай” [Burmay], que também pode ser tanto um prenome quanto sobrenome de origem túrquica. (retornar ao texto)
(2) Em russo, “província de Samara” é “Самарская губерния” [Samarskaya gubernia], sendo a gubernia uma divisão administrativa hoje extinta e dita governorate em inglês. Define-se a rigor em português, mas sem tradução exata, como divisão administrativa dirigida por um governador, e uma das definições do Aurélio (2004) para “governo” é justamente “Território da jurisdição de um governador”. A Wikipédia em português oscila entre as traduções “província” (verbete “guberniya”), forma que adotei para fluir a leitura e evitar confusão, e “governo-geral” (verbete “governorate”). (retornar ao texto)
(3) Aleksandr Ilich Dutov (1879-1921), líder de tropas cossacas durante o período tsarista, já em novembro de 1917 liderou uma revolta antibolchevique no sul da Rússia, depois se integrou às tropas “brancas” da guerra civil e, após a derrota, foi morto no exílio chinês por um agente comunista. (retornar ao texto)