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OS ACONTECIMENTOS mostraram bem os meios que os monopólios americanos utilizam para atingir os objetivos fundamentais do plano Marshall, isto é. escravizar economicamente a Europa Ocidental e criar uma união militar destes países com o fim de uma agressão na Europa.
À forma da pretensa ajuda americana desempenha, por si só, um papel considerável neste sentido. É sabido que os fundos para o plano Marshall são concedidos aos países europeus sob o aspecto de «subsídios» (isto é, donativos) e empréstimos.
Tendo o Congresso americano aprovado a soma das concessões de crédito somente por um ano, a divisão dos fundos para os subsídios e os empréstimos deve igualmente ser feita anualmente. Os países da Europa ficam numa ignorância absoluta, não só do total das somas que poderão receber durante o período de ação do Plano Marshall, como também da proporção segundo a qual estas somas serão divididas entre os subsídios e os empréstimos. Desta forma, também, sob este aspecto se abre um vasto campo ao arbítrio dos tutores americanos, que obtêm uma vasta possibilidade de exigirem dos países que participam do plano Marshall uma linha de conduta que faça o jogo dos Estados Unidos. O jornal francês «A Tribuna das Nações» disse com razão que as autoridades americanas concedem sua «ajuda» a Europa nas mesmas condições em que antigamente Luiz XVIII outorgou a Carta à França... Os partidários do Plano Marshall vêem nos «subsídios» aos países europeus uma ocasião de elevar às nuvens a intitulada generosidade sem precedente, o pretenso desinteresse dos Estados Unidos. Na realidade, o que é sem precedente é outra coisa.
O produto da venda das mercadorias recebidas pelos países da Europa a título de subsídios forma um fundo especial em moeda local. A despesa fica inteiramente sob o controle dos Estados Unidos.
Por exemplo, no «acordo» firmado pelos Estados Unidos a respeito do plano Marshall com a Itália, o artigo 4 prevê que este país criará um fundo especial em liras, correspondente ao valor em dólares de todos os subsídios na Itália. Os fundas em liras serão destinados às despesas de administração americana, referente ao plano Marshall nesse país, ao pagamento dos transportes internos e outras despesas semelhantes, assim como à «criação e desenvolvimento da produção de materiais cuja falta se faz sentir, ou possa vir a se fazer sentir, nos Estados Unidos».
O acordo firmado com a Dinamarca estipula que o produto da venda das mercadorias americanas recebidas a título de donativo deve ser lançado numa conta especial. Uma parte desta soma deve ser posta à disposição dos delegados para o plano Marshall que se encontrem junto à embaixada da América. A outra parte deve ser destinada ao financiamento e desenvolvimento da produção, assim como ao incentivo das riquezas minerais em que os Estados Unidos estão interessados e desejam receber.
As cláusulas da «ajuda» sob o título do plano Marshall colocam a
despesa do fundo em moeda local sob o controle dos delegados americanos. Controle total, que se insinua em toda parte e fornece aos emissários dos monopólios do outro lado do Atlântico possibilidades realmente sem precedente para se imiscuírem em toda a atividade dos governos, aprovação ou interdição de qualquer tipo de emprego das fundos do Estado, etc.
Esta forma desconhecida de tutela sobre os países da Europa Ocidental é completada pelas condições humilhantes de utilização das mercadorias entregues a título de subsídios. Por exemplo, estas mercadorias devem ser munidas de etiquetas especiais atestando que são um donativo da generosa América aos países europeus. Os governos dos países que participam do plano Marshall são expressamente encarregados de fazerem entre a população uma ampla propaganda das «altas qualidades morais» dos filantropos de além Atlântico.
Para se compreender bem até que ponto se menosprezam os povos, devemos considerar o fundo econômico da questão. O fato é que, sob a cor de donativos intitulados gratuitos, os monopolistas americanos nada mais fazem do que restituir aos países da Europa Ocidental uma parte bem modesta dos lucros por eles já embolsados e que continuam a embolsar às suas custas.
É o que ressalta mais claramente para países como a Itália, a Áustria, assim como para as zonas ocidentais da Alemanha.
São do conhecimento de todos, os números publicados pela imprensa democrática italiana desde fevereiro de 1946. Já nesse momento, os valores materiais que as autoridades de ocupação americanas, que agem à vontade na Itália, tinham conseguido por todos os meios, somavam cerca de 400 bilhões de liras, ou seja ao câmbio dessa data, 4 bilhões de dólares. E, que valores enormes, de então para cá, os monopólios americanos sorveram da economia italiana!
Por outro lado, aproveitando da facilidade do governo De Gasperi, que executa docemente as ordens de Washington, os industriais e os banqueiros italianos organizaram numa escala sem precedente a transferência de capitais para o estrangeiro. Afluíram ao estrangeiro as riquezas amontoadas pelos aproveitadores da guerra fascista, pelos acaparadores do mercado negro, as riquezas provenientes das especulações de divisas, nas condições de uma inflação desenfreada e de outros processos de pilhagem das massas populares. Segundo os resultados de um inquérito especial, foram transferidos 300 bilhões de liras, durante 1946 e 1947 nos bancos dos Estados Unidos e da América Latina, e 200 bilhões de liras nos bancos suíços.
Confrontemos com estes números imponentes os da «ajuda» americana à Itália. Hoffman, administrador do plano Marshall, disse que o plano de «ajuda provisória» à Itália para o trimestre abril-junho de 1948 previa 140 milhões de dólares de subsídios e 25 milhões de dólares de créditos. Segundo uma informação ulterior do mesmo Hoffman, a importância que a Itália deve receber para todo o ano, do 1 de abril de 1948 a 31 de março de 1949 é de 703.600.000 de dólares. Não é evidente que se trata de uma piedosa esmola em comparação aos valores que os monopolistas americanos e seus auxiliares tiraram da economia italiana sangrada a frio?
Mas eloqüentes ainda são os dados relativos à Alemanha Ocidental, transformada, depois da guerra, numa nova Califórnia para os monopolistas americanos, esses contemporâneos exploradores do ouro.
Desde fevereiro de 1946 que Nixon, antigo diretor do serviço americano no trabalho de inquérito sobre os cartéis alemães e os bens alemães no estrangeiro, junto à administração militar americana na Alemanha, avaliava em 3 bilhões de dólares os valores alemães no estrangeiro, adquiridos pelas autoridades americanas. Se acrescentarmos a isso o enriquecimento desenfreado dos monopólios americanos por meio da retirada deferramentas industriais, muita vez únicas em seu gênero, assim como do estoque de matérias primas e produtos manufaturados, através do embargo sobre as patentes alemães e por outros meios, a importância de 7 bilhões de dólares parecerá ainda menor em relação com as reparações recebidas da Alemanha pelos monopolistas da América sob uma forma velada, durante o primeiro período, a lua de mel, por assim dizer, da ocupação.
No período seguinte os monopolistas americanos encontraram uma nova e inesgotável fonte de riqueza à custa da Alemanha Ocidental, no domínio do comércio externo. A atividade da famosa JEIA (Agência unificada de exportação e importação anglo-americana), causaria inveja a qualquer alquimista da idade média. Esta organização achou um meio extremamente simples para fabricar ouro com ar. Aproveitando seu monopólio, a JEIA compra os produtos alemães a preços ínfimos e revende os mesmos no estrangeiro por preços desmedidamente altos. A exportação do carvão do Ruhr já é em si mesma uma verdadeira mina de ouro. Levou-lhes centenas de milhões de dólares de lucro líquido. A JEIA tirou igualmente enormes lucros da exportação de automóveis, produtos químicos, aparelhos fotográficos alemães, etc.
Finalmente, deve ser notado o lucro que as autoridades americanas obtiveram pela reforma monetária realizada separadamente na Alemanha Ocidental. Segundo as informações de que se dispõe, já puseram em circulação mais de 11 bilhões de marcos. Em vista do valor mínimo da troca por habitante, é fácil compreender que a parte do leão da emissão em «marcos alemães» constitui uma renda líquida para as autoridades americanas. Com esse dinheiro os emissários dos monopólios do lado de lá do Atlântico compram por preços miseráveis casas, terrenos e. lotes de ações das empresas industriais e dos bancos; embolsam assim uma parte cada vez maior do patrimônio nacional da tri-zona.
Comparemos estes empréstimos sobre a economia da Alemanha Ocidental às somas que representa a «ajuda» concedida a título do plano Marshall. Do 1 de abril de 1948 a 31 de março de 1949, os abonos previstos somaram 437.400.000 dólares para a bi-zona e a 96.400.000 dólares para a zona francesa. É evidente que esta soma é apenas uma parte ínfima do que as autoridades americanas retiraram e continuam a tirar da Alemanha Ocidental.
Fato característico: mesmo a Turquia, país de miséria, que não participou da guerra e não sofreu a ocupação alemã, paga enorme tributo aos monopólios americanos. Não há muito, por exemplo, a imprensa turca divulgou uma declaração do general Mc Bride, chefe da missão militar americana na Turquia, na qual ressalta, entre outras coisas, que o valor de 4 submarinos entregues a este país ultrapassa 20 milhões de dólares pelo menos o de toda a importância dos créditos abertos à Turquia pelos Estados Unidos. Segundo as considerações publicadas a estadia dos técnicos da missão Mc Bride e dos outros oficiais e soldados americanos que estão na Turquia importa em 32.700.000 dólares por ano ao magro orçamento deste país. A imprensa comunica que o governo turco, obrigado a pagar em divisas uma parte dos fornecimentos americanos, recorreu à sua reserva ouro, que ameaça se esgotar de maneira catastrófica: de setembro de 1946 a junho de 1948 caiu de 230 para 110 toneladas.
Mas, dirão; talvez que países como a Inglaterra, a França, a Holanda ou a Bélgica recebam os subsídios americanos a título realmente gratuito? Absolutamente! Só em deslocar estes países do mercado mundial, os monopolistas americanos conseguem lucros que ultrapassam muitas vezes as esmolas que distribuem em forma de subsídios. O controle sobre os mercados vantajosos, que anteriormente estavam nas mãos da Inglaterra, da França e da Holanda, os lucros retirados das possessões coloniais destes países, constituem para as firmas americanas uma fonte de receita enorme e sempre crescente. Basta lembrar as operações extremamente vantajosas realizadas pelos americanos na Índia, Indochina, Indonésia, no Congo Belga e outros países coloniais. Verifica-se que também para os outros países da Europa os donativos dos magnatas americanos nada mais são do que manifesta mascarada.
Inclusão | 28/03/2008 |