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«Fechamos hoje um período crítico da nossa revolução. As crises têm sempre saldos negativos, em descrença, em angústia, em dúvida, em erosão da sanidade económico-financeira do Estado e até em erosão de figuras e soluções políticas.
Deixarei aqui uma referência à capacidade de trabalho e abnegação dos responsáveis do V Governo.
Poderemos discutir os objectivos que prosseguiram, como Governo de gestão de duração delimitada.
Não regatearam esforços, militância e coragem. A luz das realidades consequentes nos revelará o seu verdadeiro perfil projectado em termos de eficácia revolucionária.
Neste preciso momento político, ser Governo não é tarefa simples.
A nossa sociedade não está ainda adaptada a um estilo novo de vivência em liberdade.
A mutação brusca provocada pelo 25 de Abril fez irromper uma multidão de forças e fraquezas, de entusiasmo e angústias, de verdades e mitos.
A sedimentação estável de tantos factores sociais antagónicos não está feita, e as características salientes da nossa sociedade de hoje são a sua hipersensibilidade e confusão perante o fenómeno político.
Nesta situação, todas as decisões de um governante são sempre urgentes e marcadas por um risco político importante.
A inspiração, o talento e a decisão são agora mais importantes do que a prudência e os estudos exaustivos de cada situação.
A batalha económico-financeira e a consolidação das conquistas revolucionárias alcançadas são as coordenadas fundamentais neste momento do processo em curso.
Autoridade, estabilização social, relançamento da economia, paz, segurança, ordem e liberdade são anseios profundos do povo português, cuja vontade é soberana.
A defesa das classes desfavorecidas exige de todos o maior pragmatismo e a coerência das atitudes mais construtiva.
Porque o aspecto sociológico das afirmações anteriores é uma evidência, muitos desejaram crer que seria simples a formação deste VI Governo.
Não foram simples as negociações com os partidos políticos até à redacção de um programa de definição política.
Registemos aqui a actividade notável, a incansável persistência do senhor almirante Pinheiro de Azevedo, que partiu da fecunda originalidade de obter esta plataforma prévia de compromisso pluripartidário.
Também não foi simples a fase seguinte, de definição da estrutura governamental e de distribuir Governos e mudar personalidades pelos postos governamentais.
Só depois foi possível entrar na concretização das personalidades havidas como melhores para o desempenho de funções governativas em situação tão espinhosa.
Debelada esta crise, sinto ainda o clamor dos impacientes políticos que entenderiam fácil alterar Governos e mudar personalidades e órgãos em termos simplistas.
Foi longa a obtenção de uma muito ponderada solução capaz de mobilizar a vontade da maioria do povo português.
Temos de construir um Portugal socialista com dimensão tão ampla que nele caibamos todos os portugueses, defendendo no percurso as classes mais desfavorecidas até à sociedade sem classes.
Durante o percurso, que é longo, espera-nos mais trabalho do que palavras, mais realismo do que idealismo, mais objectivismo do que subjectivismo.
As revoluções são fenómenos concretos, emanações de povos reais que existem em termos mutáveis, mas com vontade própria.
Finalizo com uma declaração de esperança no povo português, cujo instinto político admiro e cuja vontade respeito.
Eu, o Conselho da Revolução e o novo Governo vamos trabalhar dedicadamente para merecer a confiança do povo que também somos.
Socialismo é trabalho. Vamos todos trabalhar rumo ao socialismo.»
continua>>>Inclusão | 19/05/2019 |