Textos Históricos da Revolução

Organização e introdução de Orlando Neves


COMUNICADO SOBRE OS ACONTECIMENTOS DO FIM DE SEMANA
(21/7/1975)


COMUNICADO DO COPCON (18/7/1975)
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1. Não existindo por parte de forças políticas responsáveis a intenção de promover qualquer «marcha sobre Lisboa», aliás como refere o próprio Partido Socialista ao afirmar em recente comunicado que é falso estar a organizar aquela marcha, considera o COPCON que qualquer movimentação organizada sobre Lisboa é provocada por forças reaccionárias e contra-revolucionárias apenas interessadas em confrontações físicas.

2. Torna-se evidente que a reacção organizada quererá aproveitar-se da situação de alarme criada pela difusão de comunicados partidários e o clima de tensão e extrema animosidade entre grandes partidos políticos nacionais em confronto, para lançar um ataque em força.

3. É possível que o E. L. P. ou outras forças contra-revolucionárias no exterior do País se aproveitem da situação criada por confrontos físicos desencadeados no interior para procurar semear maior confusão, o que só poderá interessar a reacção.

4. Apesar de divergências partidárias para as quais ainda não foi possível encontrar solução, devemos todos unir-nos para fazer frente ao inimigo comum — as forças reaccionárias a soldo dos interesses imperialistas interessadas em entravar o processo revolucionário.

Só com verdadeira unidade e espírito de sacrifício e patriotismo poderemos reconstruir o País que merecemos.

5. O Copcon, que, como órgão revolucionário, tem procurado manter-se desde o início da revolução numa posição intransigente isenção, ao lado das classes mais desfavorecidas ou oprimidas do povo português, deplora que grandes partidos políticos nacionais não harmonizem as suas soluções políticas para a crise que o País atravessa, arrastando as massas populares trabalhadoras para uma iminência de conflito que pode vir a assumir as graves consequências.

Afirma, ainda, que está na firme disposição de actuar com as suas forças sempre generosas no seu desejo de bem servir o povo, no sentido de minimizar os efeitos do conflito, não o podendo talvez evitar, mesmo que para tal tenha que fazer efectivo da força das suas armas, o que tem, até hoje, evitado a todo o transe.

COMUNICADO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA (20/7/1975) — O V GOVERNO

«O presidente do Conselho da Revolução, general Costa Gomes, no seu reiterado desejo de informar o Povo Português, torna público:

Estão a ser feitos todos os esforços para a rápida constituição do quinto Governo Provisório que continuará a tarefa de orientar a administração pública no sentido da vontade popular já expressa por várias formas.

A retirada do quarto Governo de partidos fundamentais implicará a constituição de novo governo sem o carácter de coligação partidária.

No entanto, o respeito pela vontade do Povo Português cria a necessidade de nele representar várias correntes socialistas do pensamento político.

Nestas condições, confia-se que os partidos colocarão em primeiro plano os interesses nacionais, evitando qualquer obstáculo partidário a que militantes seus sejam incorporados no quinto Governo a constituir.»

COMUNICADO DO MFA (21/7/1975) — OS ACONTECIMENTOS

Portugal viveu, uma vez mais, dias decisivos para o seu processo revolucionário, caracterizados desta vez por um clima de instabilidade política, habilmente arquitectado por homens que parecem colocar, acima dos superiores interesses e anseios do Povo português, a sua vaidade, o seu egoísmo e a sua ambição.

Assistiu-se neste período por parte de dirigentes de um partido que, pelo seu programa, deveria ser um dos mais importantes partidos políticos portugueses, a uma escalada de violência verbal, que, hábil mas traiçoeiramente, explorou as carências e insuficiências do nosso processo revolucionário e provocou, através da demagogia, da mentira e da calúnia, uma escalada de violência física que já causou vítimas inocentes no seio do Povo português.

Insultando-se a pureza e honestidade de intenções que motivam o M. F. A. na defesa do Povo a que pertence, aviltando-se o trabalho insano a que soldados, sargentos e oficiais se devotam quotidianamente na prática da revolução a que entregaram as suas vidas, mentiu-se, caluniou-se, ofendeu-se.

E mais do que a nós, militares, ultrajou-se o Povo a que pertencemos pois mentiu-se-lhe deturpando as realidades, pretendendo-se esconder a floresta atrás da árvore.

Não basta escolher as palavras e saber utilizá-las com mestria, para, com subtilezas de linguagem, se cometer simultaneamente o crime e fabricar o álibi.

Desde Braga que se incitou o Povo, que compareceu a ouvir aqueles que o deviam ajudar a cometer desmandos, manipulando reaccionariamente sectores honestos da população e historicamente aliados desta revolução.

No Porto, pretendeu-se sugerir que o M. F. A. está a tentar levar o Povo Português para uma ditadura.

Acusou-se a 5.ª Divisão do E. M. G. F. A., bem conhecida do Povo através das Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica, de pretender instaurar uma ditadura estalinista. Tudo isto com o obectivo claro de dividir as Forças Armadas, procurando fazer crer ao Povo que esta 5.ª Divisão desenvolve uma acção desinserida dos princípios contidos no Plano de Acção Política do M. F. A.

Em Lisboa, e apesar dos incidentes provocados em áreas dos distritos do Porto, Aveiro e Leiria, pelo clima de agitação irresponsável que fomentaram, e pela actuação das forças contra-revolucionárias que desse modo se libertaram, atingiram esses elementos o auge do despudor. Aqui, não se limitaram a permitir que sectores dos manifestantes que reuniram insultassem os militares que compareceram para sua defesa, chamando-lhes «nova

Pide» e «assassinos», esquecendo-se que esses homens contribuíram decisivamente para a libertação do povo português, liberdade que agora é utilizada para os insultarem. Permitiram-se denegrir um dos homens que mais se tem dado ao povo português, sem nada lhe pedir em troca, e que na força e sinceridade das suas simples mas profundas palavras o povo bem conhece e respeita. Pretendeu-se subtilmente meter cunhas divisionistas entre os que com esforço e sob os olhos de todos, servem o País integrando o Conselho da Revolução, que o povo bem conhece, principalmente através dos generais Costa Gomes, Vasco Gonçalves e Otelo Saraiva de Carvalho. Não está em causa a liberdade de expressão e crítica ao Governo e ao M. F. A., mas sim a necessidade de respeitar o povo português, baseando essas críticas na análise objectiva dos factos.

Nós não pagaremos o ódio que nos votam com ódio.

Contra a calúnia responderemos com os nossos actos. Contra a demagogia utilizaremos a razão que assiste às camadas exploradas do povo português que defendemos.

Não nos deixamos iludir.

Não estamos contra os partidos que defendem o socialismo na nossa terra, e muito menos contra o povo que neles votou.

Estaremos sempre com o povo, mas nunca com aqueles que o enganaram e que dele se pretendam utilizar.

Portugueses! Trabalhadores!

São necessários os esforços de todos para reconstruir a terra que amamos. Não nos dividamos.

O M. F. A. está e estará sempre com todos os que, honesta e conscientemente, pretendem construir o Portugal de felicidade que os vossos filhos mereçam.

Unidos, venceremos!

continua>>>
Inclusão 14/05/2019