O PCP e a Luta pela Reforma Agrária

Partido Comunista Português


I CONFERÊNCIA DE TRABALHADORES AGRÍCOLAS DO SUL (Évora, 9 de fevereiro de 1975)
INTERVENÇÃO DE ÁLVARO CUNHAL NA SESSÃO DE ABERTURA DA CONFERÊNCIA(1)


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Camaradas:

Esta 1.ª Conferência dos Trabalhadores Agrícolas do Sul é uma prova mais da elevada consciência, de classe, da combatividade, do espírito criador, do sentido de responsabilidade do heróico proletariado rural do nosso país.

Permiti, camaradas, que transmita à 1.ª Conferência dos Trabalhadores Agrícolas do Sul e por intermédio dos participantes na Conferência a todos os trabalhadores agrícolas do Sul, as calorosas e fraternais saudações de combate do Comité Central do Partido Comunista Português.

Esta Conferência tem por objectivo examinar e procurar soluções para os mais importantes, e imediatos, problemas dos trabalhadores do Sul: o desemprego, a sabotagem económica, a organização sindical, os contratos colectivos de trabalho, a previdência e assistência, a situação geral dos meios rurais e as necessidades das populações.

Qualquer destes problemas justificaria só por si, amplamente, a realização da Conferência. Mas, na ordem de trabalhos, está inscrito ainda outro assunto mais, e esse assunto adquire, no momento que vivemos, um profundo significado para os trabalhadores rurais: é a Reforma Agrária.

A liquidação dos latifúndios tomou-se um objectivo profundamente sentido pelas mais amplas massas trabalhadoras. Para já, sem perda de tempo, é necessário que por toda a parte as terras incultas ou mal aproveitadas sejam entregues aos trabalhadores rurais desempregados. Trata-se de uma necessidade imperiosa na luta contra o desemprego e pelo aumento da produção agrícola.

A liquidação dos latifúndios responde ao mesmo tempo à urgência de emprego para os trabalhadores e à urgência de aumentar a produção nacional. Os interesses dos trabalhadores são absolutamente coincidentes com os interesses nacionais.

Ao examinar o problema da Reforma Agrária, a Conferência, não o faz como se tratasse de um objectivo distante. Não, camaradas. A Reforma Agrária está na ordem do dia. Com este nome ou sem ele, a Reforma Agrária começa a dar os primeiros passos graças à luta organizada, decidida, esclarecida e heróica dos trabalhadores rurais do Sul, com especial referência aos trabalhadores rurais do Alentejo e Ribatejo.

É importante que a Conferência se debruce sobre todos estes problemas, dê um balanço às ricas experiências dos trabalhadores e procure indicar as melhores soluções.

Esta Conferência realiza-se no seguimento de grandes iniciativas e de grandes lutas dos trabalhadores agrícolas do Sul. Os problemas que vão discutir-se são vividos dia a dia e hora a hora pelos trabalhadores. Os trabalhadores, melhor do que ninguém, estão em condições de indicar acertadamente quais as medidas a tomar para resolver os sem problemas.

Camaradas:

Esta Conferência realiza-se por iniciativa do Partido Comunista Português.

Muitos camaradas gritaram agora «PCP» e muitos outros gritaram «UNIDADE». É natural, está bem uma coisa e outra. Aqui no Sul não se pode falar das iniciativas e das lutas dos trabalhadores agrícolas sem falar do Partido Comunista Português. E não se pode falar do P. C. P. sem falar das lutas dos trabalhadores agrícolas, Partido Comunista Português e classe operária são inseparáveis. Da mesma forma, falar do P. C. P. é falar da unidade, porque o P. C. P. é o mais consequente lutador pela unidade da classe trabalhadora.

Entretanto, deve sublinhar-se que esta Conferência não é uma Conferência de comunistas mas uma Conferência aberta a todos os trabalhadores rurais do Sul que nela tenham querido participar. Os trabalhos devem desenvolver-se de forma completamente democrática. Todos os trabalhadores, sejam ou não comunistas, podem expor os seus pontos de vista livremente. Todos podem dar a sua contribuição. E poderão dá-la livremente.

Camaradas:

Os trabalhadores rurais do Sul conhecem bem o P. C. P., o Partido dos trabalhadores.

Conhecem bem os comunistas, desde os tempos difíceis da ditadura fascista. Sabem que os comunistas não são como certos senhores que só descobriram que o Alentejo existe, só descobriram que existem trabalhadores rurais no Alentejo, só descobriram que há desemprego e fome agora que estão eleições à porta e vêm à caça de votos.

Os trabalhadores do Sid sabem que o P.C.P. teve sempre como razão fundamental da sua actividade ajudar e apoiar os trabalhadores, pôr a sua experiência, os seus quadros, os seus meios de acção, ao serviço dos trabalhadores.

Foi com esse espírito que o P. C. P. tomou a iniciativa de convocar esta Conferência. Vamos pois ao trabalho, camaradas, e que logo à tarde, ao terminar a Conferência, as conclusões da Conferência sirvam para iluminar ainda com mais luz o caminho da luta dos trabalhadores rurais do Sul pelo direito ao trabalho, Vela melhoria das condições de vida das massas populares, pelo desenvolvimento da produção agrícola, por um Portugal democrático, pacífico e independente caminhando para o socialismo.

continua>>>

Notas de rodapé:

(1) Intervenção pronunciada de improviso. (retornar ao texto)

Inclusão 29/05/2019