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Os países dependentes, semicoloniais e coloniais constituem a formidável reserva de matérias primas e a mais importante fonte de carne para canhão do imperialismo, razão porque a luta de libertação nacional dos povos oprimidos e explorados contra o imperialismo é o único caminho pelo qual podem libertar-se da opressão e da exploração em que vivem, realizando ao mesmo tempo passos largos para a sua libertação social.
No Brasil, país de formação econômico-social semicolonial, pelo seu próprio desenvolvimento e principalmente como reflexo da luta no quadro internacional do imperialismo contra o socialismo, existem duas forças sociais básicas, que ativamente se opõem: uma, a vanguarda proletária, que vê no socialismo a libertação nacional e o progresso humano; outra, a grande burguesia urbana e rural, que mantém o país subordinado ao imperialismo do qual é agente dependente, consciente ou não, mas sempre beneficiária. Entre ambas, as mais amplas massas de trabalhadores atrasados, analfabetos, indiferentes e apáticos, com exceção de certos setores operários, aceitando a miséria em que vivem como fatalidade e desígnio divinos. Essas amplas massas trabalhadoras, urbanas e rurais, em geral famintas, em completo estado de subnutrição, nos campos ainda roídas pela endemias e nas cidades pela tuberculose e cardiopatias, constituem a maioria esmagadora da população do país. Há, também, grande massa de pequenos burgueses, em geral vacilantes, sem. convicções, à espera de que a luta defina qual a força vencedora, para então tomar posição partidária. “Entre o medo e a esperança, salvarão a pele durante a luta, e depois se juntarão ao vencedor: tal a sua natureza.” — já o dizia Engels.
“Em política, não há senão duas forças decisivas: a força organizada do Estado, do exército, e a força desorganizada, a força elementar das massas populares”.
(Engels — A “missão alemã” da Prússia. A Liga Nacional e Bismarck — in “Le rôle de la violence dans l’Histoire” — II — Pág. 63 — Editiones Sociales, 1947).
Mas... “o proletariado se converteu, no decorrer do tempo, de uma força insignificante em uma força histórica e política de primeira ordem”. (Hist. del P.C. (b) de la URSS — Pág. 127 — Ed. espanhola).
Portanto, no Brasil, de um lado, temos a grande força da vanguarda operária, para a qual tende incessante e irresistivelmente a esmagadora maioria da classe operária, o proletariado agrícola, os semiproletários, os camponeses pobres e as massas assalariadas não proletárias, bem como camadas extensas pequeno-burguesas em processo de proletarização; de outro, a força poderosa do Estado, órgão de opressão e coerção, instrumento do capitalismo nacional, apoiado pelo internacional, que se exprime pelas forças policial, militar e burocrática, divorciando-se cada vez mais do povo, em geral. Esse Estado, através de todos os meios de convicção como a imprensa, o rádio, o cinema e o livro, procura atenuar esse divórcio que se acentua, deformando a noção dos interesses individuais e nacionais, confundindo-os com os do Estado capitalista, ou seja, com os da reduzida grande-burguesia.
No desenvolvimento dos acontecimentos que se precipitam, contudo, esse divórcio de mais em mais acentuado entre o Estado e o povo se exprime pelos grandes deslocamentos de partes das forças básicas do Estado, não só porque as forças militares do Estado, recrutadas entre o povo, substancialmente entre os trabalhadores urbanos e rurais, sofrem o reflexo imediato do pioramento das condições de existência do próprio povo, como também de forma cada vez mais extensa e intensa a realidade, a vida, vai a todos revelando qual das forças fundamentais em luta defende de verdade os interesses da Nação, em geral, e de cada classe e indivíduo, em particular.
“Quando um homem viu o seu pai e sua mãe viverem sob o jugo dos latifundiários e dos capitalistas, quando participou ele mesmo dos sofrimentos dos que primeiro empreenderam a luta contra os exploradores; quando compreendeu os sacrifícios que custam a continuação dessa luta e a defesa do conquistado e quão furiosos inimigos são os latifundiários e os capitalistas, esse homem, nesse ambiente, educasse como comunista”.
(Lênin — Obs. Escog. — T. II — Págs. 842-43 — ELE, 1948 — Tareas de las Juventudes Comunistas).
As dificuldades de vida crescentes, portanto, levarão extensas camadas ao desespero e terminarão por vencer o aliado mais poderoso do Estado burocrático-policial-militar ou seja a força terrível do costume, do passado que nos serviliza e retém com mil mãos, do hábito, da tradição, a vis inertiae da História, que imobiliza milhões de pessoas, obrigando-as, por fim, a trilhar a estrada pedregosa das lutas econômicas e políticas, das quais somente a vanguarda proletária é a diligente consequente, prova-o a História.
A luta coesiona e instrui com rapidez. Cada passo no seu desenvolvimento sacode e desperta as massas assalariadas em geral e as conduz com uma força invencível precisamente para as fileiras da vanguarda proletária, ensina-o a História, como a única que reflete de modo consequente e completo os seus verdadeiros interesses, seus interesses vitais imediatos e futuros, que são, última ratio, os do país.
Sim, porque um país como o nosso, com estrutura econômica e social semifeudal à época do imperialismo, evidentemente que o seu povo não pode evitar ser impiedosamente explorado pelo imperialismo enquanto se submeter passivamente aos agentes nacionais do imperialismo, que dispõem do Poder, do Estado, e por isso podem subordinar os supremos interesses do Brasil aos da oligarquia financeira internacional, ao imperialismo escravocrata.