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A guerra havia entrado já no terceiro ano. Devorava milhões de vidas humanas, deixando uma esteira de mortos, de feridos, de seres que pereciam em virtude das epidemias produzidas pela guerra. A burguesia e os latifundiários se enriqueciam com ela, enquanto que os operários e camponeses sofriam cada vez mais miséria e mais privações. A guerra destruía a Economia nacional da Rússia. Cerca de 14 milhões de trabalhadores fortes e sãos tinham sido arrebatados à produção pelo Exército. Paravam fábricas e oficinas. A colheita dos campos de cereais decrescia, por falta de braços. A população e os soldados na frente passavam fome e andavam nus e descalços. A guerra havia devorado todos os recursos do país.
O Exército czarista sofria derrota após derrota. A artilharia alemã descarregava sobre as tropas czaristas verdadeiras saraivadas de projéteis, enquanto no Exército czarista escasseavam os canhões, munições e até os fuzis. Às vezes, havia um fuzil para cada 3 soldados. Já em plena guerra, se descobriu a traição do ministro da Guerra czarista, Sukhomlinov, que se verificou estar em relações com os espiões alemães. O próprio ministro da Guerra se encarregava de executar as instruções da espionagem alemã: deixar a frente desabastecida de munições, não enviar para a frente nem canhões nem fuzis. Alguns ministros e generais czaristas contribuíam com disfarce para os êxitos do Exército alemão; em ligação com a czarina, que estava ligada com os alemães, delatavam a estes os segredos militares. Não tem, pois, nada de estranho que, nestas condições, o Exército czarista fosse derrotado obrigado a bater em retirada. Lá para o ano de 1916, os alemães conseguiram apoderar-se da Polônia e de uma parte da região do Báltico.
Tudo isso despertava o ódio e a cólera contra o governo czarista por parte dos operários, dos camponeses, dos soldados e dos intelectuais, e acentuava e robustecia o movimento revolucionário das massas populares contra a guerra e contra o czarismo, tanto na retaguarda como na frente, tanto no centro como na periferia.
O descontentamento começou também a tomar conta da burguesia imperialista russa. Esta se sentia indignada diante do fato de se tornarem senhores da Corte malandros da marca de Rasputin, que trabalhavam claramente em prol de uma paz separada com os alemães, se convencendo cada vez mais de que o governo czarista era incapaz de fazer uma guerra vitoriosa. Temia que o czarismo, para salvar a situação, recorresse a uma paz separada com a Alemanha. Em vista disso, a burguesia russa decidiu organizar um "complot" palaciano para derrubar o czar Nicolau II, pondo no trono o grão-duque Miguel Romanov, que se achava ligado com a burguesia. Pretendia com isto matar dois pássaros com um só tiro; em primeiro lugar, escalar o poder e assegurar o prosseguimento da guerra imperialista, e em segundo lugar, atalhar com um pequeno "complot" palaciano o avanço da grande revolução popular, cada vez mais ameaçador.
A burguesia russa contava para esta empresa com o apoio incondicional dos governos inglês e francês. Estes governos viam que o czar era incapaz de prosseguir a guerra e temiam que terminasse por assinar uma paz separada com os alemães. Se o governo czarista fizesse uma paz separada, os governos da Inglaterra e da França perderiam com a Riissia, um aliado que, além de entreter em sua frente as forças do inimigo, punha à disposição da França dezenas de milhares de soldados russos escolhidos. Eis por que apoiavam a burguesia russa en suas intenções de levar a cabo o "complot" palaciano.
O czar achava-se, portanto, isolado.
Ao mesmo tempo que se multiplicavam os reveses na frente, o desastre da Economia ia se acentuando cada vez mais. Nos meses de janeiro e fevereiro de 1917, a catástrofe do abastecimento das matérias-primas e dos combustíveis chegou ao seu ponto culminante. O aprovisionamento de Petrogrado e de Moscou cessou quase em absoluto. Começaram a fechar fábricas após fábricas. O fechamento de fábricas veio acentuar o desemprego forçado. A situação se tornava verdadeiramente insuportável para os operários.
Massas cada vez mais extensas do povo iam-se convencendo de que só havia um caminho para sair daquela situação insustentável: a derrubada da autocracia czarista.
O czarismo estava atravessando claramente uma crise mortal.
A burguesia julgava poder resolver a crise por meio de um "complot" palaciano.
Mas foi o povo que a resolveu à sua maneira.
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Inclusão | 02/12/2010 |