Dossier Brigadas Revolucionárias


COMUNICADOS DAS BRIGADAS REVOLUCIONARIAS
1971 - 1974


COMUNICADO N.º 1
UMA BASE DA NATO DESTRUÍDA

Na madrugada do dia 7 de Novembro de 1971, a Brigada Revolucionária n.º 2, levou a efeito, com êxito, a destruição de uma base secreta da NATO no Pinhal do Arneiro (Fonte da Telha — Distrito de Setúbal), acabada de construir e prestes a entrar em funcionamento.

Esta base subterrânea, com uma área total de cerca de 2 km2, construída especialmente para resistir a bombardeamentos nucleares, era destinada ao contrôle de foguetões portadores de ogivas nucleares.

A sabotagem destruiu completamente o comando desta base, equipado com os mais avançados sistemas electrónicos, avaliados em dezenas de milhar de contos.

Esta importante acção — primeira manifestação das Brigadas Revolucionárias — insere-se e é párté integrante da luta do Povo Português contra o imperialismo, sustentáculo do regime fascista e colonialista de Marcelo Caetano. Ao mesmo tempo, é parte integrante da frente mundial anti-imperialista de que somos solidários.

Inspirados pela luta dos povos do mundo contra o imperialismo, dedicamos esta primeira vitória, muito especialmente, à luta heróica dos povos do Vietnam, Angola, Guiné, Moçambique e Palestina.

A NATO é o principal instrumento de agressão do imperialismo, particularmente do imperialismo americano. Como o demonstra a existência desta base e de muitas outras instaladas no nosso país e no estrangeiro, o seu fim é tentar subjugar pela força os povos do mundo nas suas aspirações de Liberdade, Paz e Socialismo.

Mas não tenhamos ilusõs, somente prosseguindo e intensificando a nossa luta, numa posição consequentemente internacionalista, poderemos obter novas vitórias contra o imperialismo e os seus lacaios fascistas e colonialistas.

Só por si, acções violentas deste tipo não poderão conduzir à derrota definitiva do fascismo e à tomada do poder pelos trabalhadores. Elas terão que ser inseridas e enquadradas numa luta política global. que assuma todas as formas (legais, semi-legais e ilegais), sem que nenhuma delas seja subestimada.

Mas há que combater com intransigência o oportunismo de direita e o reformismo que excluem na prática todas as formas de violência revolucionária. A libertação do povo português, tal como todas as mudanças históricas, só por meios violentos se poderá alcançar.

As Brigadas Revolucionárias, formadas por operários, que têm como forma especial de luta a acção armada, proclamam como seus objectivos fundamentais:

Aos operários, camponeses e estudantes revolucionários compete criar novos organismos de acção armada — novas Brigadas Revolucionárias.

VIVA A LUTA REVOLUCIONÁRIA ARMADA.

Brigada Revolucionária n.º 2

Nota: As Brigadas Revolucionárias apelam para todas as organizações e militantes revolucionários no sentido de difundirem, por todos os meios este comunicado.


COMUNICADO Nº. 2
NOVO ÊXITO DAS BRIGADAS REVOLUCIONÁRIAS
NO BARREIRO UMA BATERIA DE CANHÕES DESTRUÍDA

A Brigada Revolucionária n.º 4, levou a efeito, com êxito, na madrugada do dia 12 de Novembro de 1971, a destruição de uma bateria de canhões, modelo 8 x 8, em Santo António da Charneca — Barreiro.

Esta bateria de canhões tinha sido instalada neste local após as grandes greves da CUF, com o fim de impressionar e intimidar o corajoso proletariado desta região.

No seguimento da importante acção de sabotagem da base secreta da NATO, na Fonte da Telha, realizada com pleno êxito pela Brigada Revolucionária n.º 2, na madrugada do passado dia 7, anunciamos com alegria, cinco dias depois, este novo sucesso da luta dos trabalhadores contra o capitalismo e o seu aparelho de Estado fascista.

Não temos, nem queremos, porém espalhar ilusões triunfalistas. A luta será dura, longa e difícil. As debilidades de organização e unidade do movimento revolucionário português são reais e visíveis.

Somente através de uma prática verdadeiramente revolucionária, de uma crítica severa dos métodos ultrapassados e caducos de trabalho e acção, de um grande esforço de organização — em primeiro lugar nas fábricas e nos campos — e, finalmente de um debate aberto, vivo e sem limitações entre todos os revolucionários, no sentido de criar uma unidade actuante, assente em bases inequívocas, será possível caminhar para uma nova fase da nossa luta que abra na prática uma perspectiva real de vitória da Revolução Socialista em Portugal.

Não é uma atitude revolucionária ficar na passividade, na expectativa ou na esperança de que todas as condições estejam criadas para nos decidirmos à acção. Por isso chamamos todos os operários, camponeses, intelectuais e estudantes revolucionários a estudar e discutir as formas de criar, no mais rigoroso secretismo, novos organismos de acção armada — novas Brigadas Revolucionárias, e a proclamar como seus objectivos:

VIVA A LUTA REVOLUCIONÁRIA ARMADA.

Brigada Revolucionária n.º 4

Nota: Numa tentativa de fazer crer que o movimento revolucionário foi liquidado através da última vaga repressiva fascista, o governo de Marcelo Caetano mudou de táctica e impede agora toda e qualquer referência na Imprensa às últimas acções armadas realizadas com êxito em Portugal.

O movimento revolucionário português, não foi, nem será liquidado.

Informar o povo com verdade é uma tarefa revolucionária. Apelamos mais uma vez para todas as organizações, núcleos e militantes revolucionários no sentido de difundirem, por todos os meios ao seu alcance, os comunicados n.º 1 e n.º 2 das Brigdaas Revolucionárias.


COMUNICADO N. 3
ACÇÃO DE SABOTAGEM CONTRA A GUERRA COLONIAL REALIZADA PELAS BRIGADAS REVOLUCIONÁRIAS
15 CAMIÕES PESADOS BERLIET DESTRUÍDOS EM CABO RUIVÓ

Na madrugada do dia 11 de Julho, em Cabo Ruivo, as Brigadas Revolucionárias realizaram, com êxito, mais uma acção armada: 15 camiões pesados Berliet (franceses), que iam ser entregues ao exército fascista para servirem na guerra colonial, foram destruídos. O seu valor ascende a cerca de 15 mil contos.

Esta acção está na sequência das acções realizadas pelas Brigadas Revolucionárias na madrugada do dia 1.º de Maio, com a tentativa de corte de energia em parte do centro e em todo o sul do país, e da acção do dia 11 de Junho, de recuperação de centenas de quilos de explosivo, na pedreira entre Loulé e Boliqueime, no Algarve.

A acção do 1.º de Maio, que visava paralisar toda a actividade económica para que os trabalhadores comemorassem o seu dia, embora tenha sido realizada com os maiores cuidados técnicos, não resultou devido à uma alteração na potência do explosivo utilizado.

A recuperação do explosivo da pedreira do Algarve visou superar esta situação, o que foi totalmente conseguido. O guarda da pedreira, ao contrário do que afirma a nota da PIDE, foi tratado com todo o respeito, o respeito que nos merecem os trabalhadores, ao mesmo tempo que lhe foi explicado o significado e importância política de uma tal acção.

Com esta primeira acção contra a guerra colonial, as Brigadas Revolucionárias manifestam a sua profunda determinação de tudo fazerem para transformarem a guerra colonialista dos fascistas e imperialistas numa guerra revolucionária dos trabalhadores contra os seus opressores.

É na prática do combate contra o inimigo comum que se torna viva a solidariedade entre o povo português e os povos das colónias.

A acção armada das Brigadas Revolucionárias é parte integrante da luta geral dos trabalhadores portugueses pela revolução socialista. Contrariamente ao que pretende fazer crer o Governo fascista de Marcelo Caetano através dos comunicados da PIDE o proceso de luta armada é irreversível em Portugal.

A única alternativa para a tomada do poder pelos trabalhadores e o triunfo da ditadura do proletariado é a luta armada e não qualquer outra via, como pretendem ilusões reformistas, através de manobras de cúpula, desligadas das massas.

Caminhar firmemente para ligar num mesmo objectivo a acção armada e a luta de massas — eis a tarefa imperiosa que se põe a todos os revolucionários.

VIVA A LUTA REVOLUCIONÁRIA ARMADA.

Lisboa, 11 de Junho de 1972.

BRIGADAS REVOLUCIONÁRIAS


COMUNICADO Nº. 4
«ELEIÇÃO» PRESIDENCIAL

Em Portugal, as eleições são uma burla e nunca através delas se resolverão os problemas do povo português.

Para além disso, a «eleição» de hoje é uma fantochada maior e uma porcaria. Assim escolhemos o PORCO para símbolo do Tomaz eleito e de quem o elegeu.

BRIGADAS REVOLUCIONÁRIAS DE AGITAÇÃO E PROPAGANDA
(Distribuído aos milhares através de petardo, no Rossio e em Alcântara no momento em que apareceram os porcos).
Porco vestido de Tomaz
Tomaz, Presidente ao quilómetro

COMUNICADO Nº. 5
NOVA ACÇÃO DAS BRIGADAS REVOLUCIONÁRIAS
SABOTAGEM DO CENTRO DE COMUNICAÇÕES TELEGRÁFICAS E TELEFÓNICAS COM AS COLÔNIAS, ÁFRICA DO SUL, INGLATERRA E ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

1.º — Na noite do dia 25 de Setembro, três destacamentos das Brigadas Revolucionários, numa acção coordenada, realizaram com êxito, a sabotagem das instalações electrónicas de Palmela e Sesimbra da COMPANHIA MARCONI (trust internacional) que em Portugal exerce o monopólio de todas as comunicações telegráficas e telefónicas intercontinentais e com as colónias.

Estas duas importantes instalações, avaliadas em muitos milhares de contos eram fundamentais elementos do sistema de comunicações com as colónias, África do Sul, Inglaterra e Estados Unidos da América.

2.º — Esta acção é assim, simultaneamente, anti-colonialista e anti-imperialista. Somos solidários com os povos das colónias; a nossa acção é contra o inimigo que nos é comum: o capitalismo, o colonialismo e o imperialismo.

Recordamos hoje de modo especial o início, há exactamente 8 anos, da luta armada em Moçambique. Através da FRELIMO, que saudamos fraternalmente, dedicamos esta acção vitoriosa ao heróico Povo de Moçambique, como testemunho do nosso combate solidário. Esta nossa acção juntar-se-á assim, às importantes acções realizadas nesta data pelo povo e pelos combatentes revolucionários de Moçambique.

Reafirmamos hoje mais uma vez ao MPLA, ao PAIGC, e à FRELIMO e através deles aos povos de Angola, Guiné e Moçambique, que uma das direcções fundamentais das Brigadas Revolucionárias é a luta contra o colonialismo e o neo-colonialismo. Tudo faremos para transformar a guerra colonial dos fascistas e imperialistas numa guerra revolucionárias dos trabalhadores contra os seus opressores.

3.º — Numa nova vaga de terror fascista, a PIDE efectuou ultimamente dezenas de prisões, por simples suspeita. Nenhuma destas prisões atingiu a nossa organização. Entretanto, nem por isso deixará de ser menos firme a nossa acção solidária perante todas as vítimas do terror fascista, perante todos os presos políticos.

Há que prosseguir e intensificar o trabalho revolucionário organizado em todas as frentes de luta. Esta é a única resposta válida para enfrentar o terror fascista, para conquistar novas vitórias. É necessário também continuarmos o combate político ao oportunismo de direita e de esquerda, ao reformismo, que apesar das severas derrotas que têm sofrido, continuam a tentar desviar o movimento revolucionário da sua perspectiva — a Revolução Socialista.

VIVA A LUTA REVOLUCIONÁRIA ARMADA.

25 de Setembro de 1972.

BRIGADAS REVOLUCIONÁRIAS


COMUNICADO Nº. 6
OFENSIVA DAS BRIGADAS REVOLUCIONÁRIAS CONTRA A GUERRA COLONIAL
ACÇÃO ERNESTO E LUÍS

1. Na madrugada do dia seis de Abril as Brigadas Revolucionárias realizaram mais uma acção armada: a destruição das instalações do Distrito de Recrutamento e Mobilização do Porto, situado numa das alas do edifício do Governo Civil e do Comando Distrital da PSP, e das instalações do Quartel-General da Região Militar do Porto, situado na Praça da República. Nas primeiras ficaram destruídas completamente as várias secções dos Serviços de Recrutamento (incluindo ficheiros e arquivos) bem como as instalações no Porto do Movimento Nacional Feminino. No Quartel-General da 2.º Região Militar foi destruída a parte correspondente às instalações da 2º Repartição (Serviços Secretos do Exército), o Gabinete do Chefe do Estado Maior, bem como os respectivos serviços, assim como os serviços de transmissão e de cifra.

Os objectivos que tinham sido fixados para esta acção foram integralmente cumpridos e mesmo ultrapassados: sabotar o comando militar desta importante região militar bem como os serviços de recrutamento.

Com o início das acções armadas no Norte a organização desta zona do País presta homenagem à memória dos camaradas Ernesto e Luís, mortos em acção.

Ernesto e Luís eram dois militantes operários das Brigadas Revolucionários, que deram a vida pela revolução. Perante a violência da burguesia que lança a juventude para a guerra e para a emigração, estes militantes não escolheram o caminho do conformismo nem da desistência. Nem tão pouco escolheram o caminho fácil do reformismo legalista, escolheram o caminho difícil da luta revolucionária clandestina, a via da luta política armada, a única que tornará possível a tomada do poder pelos trabalhadores para a instauração do socialismo.

Apontamos o exemplo dos camaradas Ernesto e Luís, militantes das Brigadas Revolucionárias. E hoje podemos afirmar que novos camaradas aderiram às Brigadas inspirados pelo seu exemplo e estamos certos. que outros virão. À sua morte não foi vã e foi mais um factor de transformação da nossa própria luta — trazemos connosco o seu sacrifício para fazer mais e melhor pela causa dos trabalhadores.

HOMENAGEM A AMILCAR CABRAL

2. Estes dois camaradas perderam a vida nas acções dos dias 9 e 10 de Março, que foram mais uma resposta concreta à situação da guerra colonial e aos colonialistas portugueses. Estes não hesitam mesmo em organizar o assassínio de Amílcar Cabral, grande chefe revolucionário africano, que nunca foi contra o povo português, mas sim contra o Governo, que oprime e explora o povo da Guiné, como os povos de Angola e Moçambique.

Nos dias 9 e 10 de Março as Brigadas Revolucionárias realizaram acções de sabotagem no Distrito de Recrutamento e Mobilização na Avenida de Berna, no Quartel-General, na Rua Rodrigo da Fonseca e nos Serviços Mecanográficos do Exército, no Quartel da Graça em Lisboa. À acção contra o Distrito de Mobilização destinou-se a destruir as fichas de recrutamento, e a do Quartel-General destinou-se a desorganizar o sistema de abastecimentos à guerra colonial. A acção do Quartel da Graça provocou o incêndio nos Serviços Mecanográficos, causando estragos incalculáveis, não só sob o ponto de vista material como, principalmente de funcionamento da máquina do Exército, como o próprio Ministro da Defesa foi obrigado a reconhecer.

Como se tornou claro, as três acções destinaram-se a ocorrer à mesma hora — cerca das 3 da manhã. Acidente técnico, ou no sistema ou no material, provocou a explosão prematura em duas delas encontrando-se em estudo quais as causas, que serão divulgadas.

Toda a gente sabe que as Brigadas Revolucionárias não querem causar vítimas. Nós não somos contra os soldados, somos pelos soldados, muitos de nós foram ou são militares. Somos contra a burguesia e o seu exército, que os obriga a fazer a guerra.

ASSALTO AOS SERVIÇOS CARTOGRÁFICOS DO EXÉRCITO

3. Coerentes com a posição de luta pelo fim da guerra e solidários com os movimentos de libertação, realizaram as Brigadas Revolucionárias em Dezembro de 1972 uma acção de recuperação de mapas militares de grande importância: assalto aos Serviços Cartográficos do Exército, com obtenção de um exemplar de todos os mapas das colónias ali elaborados. Estes mapas (cerca de 200) foram entregues aos movimentos de libertação — PAIGC, MPLA e FRELIMO — para os quais constituem instrumento muito importante para a intensificação da luta, como aqueles movimentos afirmaram nas mensagens de saudação às Brigadas Revolucionárias.

4. A partir desta acção verificaram-se excepcionais medidas de vigilância em todas as instalações militares instituídas pelos Altos Comandos Fascistas. Pelo trabalho organizado e pela determinação das Brigadas Revolucionárias essas medidas foram derrotadas como provam as primeiras acções de 9 e 10 de Março em Lisboa. Perante medidas de vigilância ainda mais apertadas após estas acções, as Brigadas Revolucionárias voltaram a atacar com êxito no Porto, o que significa que quando estão em Jogo os interesses profundos dos trabalhadores nada faz parar a luta e todos os obstáculos são vencidos.

5. Estas acções são um contributo concreto para o desenvolvimento da luta contra a guerra colonial, entendida não numa perspectiva humanitária e reformista, mas sim numa perspectiva revolucionária de coincidências histórica dos interesses dos trabalhadores portugueses com os povos das colónias, no combate contra o explorador que nos é comum. Neste sentido o ano de 1973 iniciou-se com uma importante acção anti-colonialista: a ocupação pelos cristãos em greve da fome na Capela do Rato, com assembleia livre de cristãos e não cristãos. Esta manifestação contra a guerra ganhou um conteúdo de classe ao ultrapassar os muros da Capela através das acções de agitação de 31 de Dezembro e 6 de Janeiro dos Trabalhadores Revolucionários (organismos político clandestinos da classe operária), que utilizaram novas formas de propaganda (petardos), ao lançar dezenas de milhar de exemplares de um justo manifesto à população.

6. O desenvolvimento da acção revolucionária em Portugal veio consolidar e intensificar a solidariedade internacional e os laços que-nos ligam a outros Movimentos Revolucionários.

7. As acções armadas prosseguirão. Mas não tenhamos ilusões — só a organização da classe operária pode conduzir ao processo revolucionário de tomada do poder. As Brigadas Revolucionárias saíram dos trabalhadores e é dentro deles que crescerão, mas novos militantes da classe operária devem consciencializar a importância desta frente de luta revolucionária, reforçando-a com à sua adesão. Da conjugação destas com as lutas de massas, fruto da organização clandestina nascerá o processo de violência que derrubará a burguesia. Para isso é necessário que todos os trabalhadores se organizem, consolidando as formas clandestinas de luta e conduzindo a todos os níveis — legal, semi-legal, e ilegal — o caminho da Revolução. A organização é possivel e pode desenvolver-se com êxito se em primeiro lugar for observada uma linha política justa com as consequentes medidas de defesa; apontamos o exemplo das Brigadas Revolucionárias que conseguiram nascer, crescer e entrar em acção sem que até hoje tivesse havido qualquer prisão.

Não é o reformismo, não é o eleitorismo, não são discursos daqueles feitos em nome dos trabalhadores, que darão a estes o poder e o socialismo. Nem são milagres vindos de fora que trarão a solução.

A solução, o poder, o socialismo, está nas mãos dos trabalhadores criá-los, porque só eles podem conquistar o que lhes pertence; ninguém pode fazer por eles a revolução.

VIVA A LUTA REVOLUCIONÁRIA ARMADA.

6 de Abril de 1973.

BRIGADAS REVOLUCIONÁRIAS


1.º DE MAIO

Neste momento do extremo Norte ao extremo Sul de Portugal, em 200 locais diferentes, está a ser distribuído por dezenas de milhar este mesmo apelo. Aproxima-se o 1.º de Maio, dia mundial dos trabalhadores.

Comemora o 1.º DE MAIO lutando pelos interesses da tua classe.

Organiza-te para paralizações, greves, manifestações. Porque perante a exploração dos ricos, sejam eles portugueses ou estrangeiros, explorem eles brancos ou negros, só há uma resposta segura — a organização revolucionária de todos os explorados. Nos últimos tempos trabalhadores e soldados pegaram em armas contra a guerra colonial e a exploração capitalista, demonstrando que é possível lutar com êxito.

Mas a Revolução Socialista não é um «milagre» nem um presente de Natal que alguém nos ofereça. Ela só será possível quando os trabalhadores se organizarem muito mais e por toda a parte, e lutarem por todos os meios — pacíficos e violentos.

Faz neste 1.º DE MAIO um passo no caminho da Revolução.

Luta pelos teus interesses imediatos — salários, saúde, educação, habitação — ao mesmo tempo que lutas pela Revolução Socialista, que é o poder dos trabalhadores.

Por um 1.º DE MAIO de combate:

Comissões de trabalhadores revolucionários.

Brigadas revolucionárias de agitação e propaganda.

Nota: Cópia de um exemplar do apelo para o 1.º de Maio aos trabalhadores distribuído por petardos no dia 30 de Abril.


COMUNICADO Nº. 7
UM 1º DE MAIO DE COMBATE: NOVAS ACÇÕES VITORIOSAS DAS BRIGADAS REVOLUCIONÁRIAS E DAS COMISSÕES DE TRABALHADORES REVOLUCIONÁRIOS

No dia 30 de Abril as Brigadas Revolucionárias de Agitação e Propaganda conjuntamente com as Comissões de Trabalhadores realizam com êxito uma grande acção de agitação de Norte a Sul de Portugal.

Um apelo dirigido aos trabalhadores sobre o 1.º de Maio foi distribuído às dezenas de milhar, simultaneamente, em cerca de 200 locais diferentes, através de petardos de fraca potência.

Desde já podemos assinalar os seguintes locais onde fci distribuído o apelo, através de um ou vários petardos (de acordo com a importância populacional da localidade): Viana do Castelo, Braga, Santo Tirso, Famalicão, Trofa, Maia, Matosinhos, Porto, Vila Ncva de Gaia, S. João da Madeira, Aveiro, Águeda, Leiria, Caldas da Rainha, Marinha Grande, Torres Vedras, Peniche, Mafra, Sintra, Cacém, Amadora, Benfica, Algés, Pontinha, Loures, Sacavém, Alverca, Alhandra, Vila Franca de Xira, Cacilhas, Almada, Cova da Piedade, Seixal, Barreiro, Lavradio, Baixa da Banheira, Mota, Montijo, Setúbal, Alcácer do Sal, Grândola, Beja, Portimão, Olhão, Faro, Tavira, Vila Real de Santo António e Lisboa.

Através desta forma revolucionária de agitação, mais uma vez ficou demonstrado que é possível vencer a repressão, e que nada pode impedir o contacto das forças revolucionárias organizadas com os trabalhadores e com o povo. À censura e os órgãos de propaganda fascistas, controlados pelo grande capital, não se vencem com abaixo-assinados e protestos, mas sim intensificando a agitação e propaganda revolucionárias por métodos seguros.

2. ACÇÃO DE SABOTAGEM DO MINISTÉRIO DAS CORPORAÇÕES — INSTRUMENTO DE EXPLORAÇÃO E REPRESSÃO DOS CAPITALISTAS.

Na madrugada do dia 1.º de Maio (exactamente às 2 horas e 50 minutos) as Brigadas Revolucionárias realizaram com êxito, uma nova acção armada: a destruição das várias secções de «relações de trabalho» do Ministério dos Corporações, na Praça de Londres, em Lisboa.

Os objectivos que tinham sido fixados para esta acção foram integralmente cumpridos: a destruição do 4.º e 5.º pisos do Ministério é total, como os próprios jornais fascistas são obrigados a confessar. Ao mesmo tempo, devido às medidas tomadas pelas Brigadas Revolucionárias, junto dos moradores dos prédios contíguos ao edifício, foi possível garantir a sua total imunidade.

O Ministério das Corporações é, por um lado, o instrumento mais directo dos patrões portugueses e estrangeiros, que através dele fixam as condições de trabalho do proletariado — salários, horários — enfim, exploração e repressão (de que os contratos colectivos dé trabalho são um símbolo); e por outro, um instrumento de exploração directo dos trabalhadores, através da Previdência, que não é uma organização caritativa, como o Governo pretende fazer crer, mas uma poderosa organização capitalista, que faz descontos fabulosos, fornecendo serviços de Saúde e Previdência miseráveis.

Esta acção das Brigadas Revolucionárias integra-se assim, no conjunto de lutas dos trabalhadores que ficaram a assinalar este 1.º de Maio, como uma importante jornada de combate do proletariado, especialmente em Lisboa e no Porto.

3. As acções armadas prosseguirão. As Brigadas Revolucionárias através desta acção vitoriosa mais uma vez reafirmam que uma das direcções fundamentais da sua orientação é a luta contra o capitalismo e o seu aparelho de estado fascista.

Mas o prosseguimento e intensificação da acção concreta supõe que não se subestime todas as outras direcções da luta revolucionária.

O reformismo está a ser batido na acção concretá, e, se se prosseguir com audácia no trabalho de organização e mobilização, será possível garantir a curto prazo o triunfo de uma orientação revolucionária do movimento operário. Se durante algum tempo se pôde desculpar a pretexto desta ou aquela justificação, que militantes operários ficassem acorrentados a um determinado passado, manifestando dúvidas sobre a viabilidade duma nova oriêntação revolucionária do movimento operário, hoje nenhum pretexto há para que esses militantes se mantenham em posições sentimentais e ineficazes. Chegou a hora dos verdadeiros revolucionários se entenderem fraternalmente no caminho da revolução.

Há que prosseguir o esforço de organização clandestina, sobretudo entre a classe operária. Há que organizar mais e mais a luta de massas, em conjugação com a acção armada. Este é o caminho seguro que conduzirá os trabalhadores à vitória — a revolução socialista.

VIVA A LUTA REVOLUCIONÁRIA ARMADA.

1 de Maio de 1973.

BRIGADAS REVOLUCIONÁRIAS


COMUNICADO Nº. 8
A LUTA PROSSEGUE
AS BRIGADAS REVOLUCIONÁRIAS ATINGEM PELA 2.º VEZ O QUARTEL-GENERAL DA 2º REGIÃO MILITAR, NO PORTO

1. Às 22 horas e 2 minutos do dia 26 de Outubro, nova sabotagem levada a cabo pelas Brigadas Revolucionárias estava consumada com êxito.

A deflagração — seguida de incêndio — que destruiu por completo uma das secções de arquivos e causou igualmente grandes estragos no edifício e nas repartições subjacentes, coincidiu com o início do discurso de Marcelo Caetano que, por esse meio, dava o último retoque na preparação da farsa eleitoral fascista de 28 de Outubro.

Entretanto, e em Lisboa, a guarnição militar, alertada pela acção do Porto, pode despoletar e neutralizar uma carga que as Brigadas Revolucionárias tinham colocado no Quartel-General e que, a deflagrar, tinha atingido a estrutura do edifício dado que, ao contrário do que noticiaram alguns jornais a carga fora colocada no interior duma parede mestra. Não hesitou a propaganda fascista, através de uma nota oficial, em dizer que, a rebentar, a carga teria provocado vítimas. Mas a verdade eloquente dos factos é bem outra: se lhes foi possível conseguir neutralizar a carga, isto deveu-se apenas ao facto de as Brigadas Revolucionárias terem tomado, como sempre, todas as precauções no sentido de não provocar vitimas entre a população e os soldados, operando de modo a que o rebentamento tivesse lugar às 4 horas e meia da madrugada do dia 27.

Assim estiveram presentes no «acto eleitoral» as Brigadas Revolucionárias.

Perante a impotência política a que ficaram reduzidos os revisionistas e os reformistas presentes no «momento eleitoral», as, Brigadas Revolucionárias actuaram para que se demarcassem as posições em torno, não só de objectivos tácticos, mas também, e sobretudo, dos objectivos finais. Actuando no final da campanha eleitoral, num momento em que estava consumada essa impotência, as Brigadas Revolucionárias pretenderam que nos factos ficasse impresso, em toda a sua extensão o fracasso da via reformista e eleitoralista, apontando uma vez mais a violência revolucionária como única forma do proletariado conquistar o poder.

Neste período, no qual decorreu a farsa eleitoral, as contradições do poder burguês e a sua instabilidade tornaram-se mais visíveis que nunca. A repressão passou a não ser a única política, e ela é a prova da incapacidade do capitalismo em resolver as suás contradições.

Nesta situação, as ilusões oportunistas dos reformistas — revisionista e sociais-democratas — de que podem «conquistar a legalidade», acabam de sofrer uma grave derrota, manifestando mais uma vez o seu aventureirismo. Aventureirismo que, face às sucessivas derrotas e consequente desespero; logicamente os poderá vir a conduzir ao golpismo e ao putchismo.

2. Tentando desacreditar a violência revolucionária, o Governo fascista, servindo-se dos seus órgãos de propaganda, lança boatos e calúnias, montando mesmo verdadeiras provocações. O exemplo mais recente de uma verdadeira provocação é a explosão que ocorreu-no Lavradio-Barreiro e que vitimou uma criança. Nesta manobra destacaram-se em especial a TV, a EN, o «Diário de Notícias», «A Capital» e a «Época».

Mas, tal como no passado, não conseguiram confundir ninguém e bastaram alguns jornais diários, controlados pela censura, para desmascararem mais esta provocação criminosa.

Entretanto será necessário afirmar hoje:

Às provocações fascistas responderemos intensificando a luta. Esta nova acção é, por si só, um desmascaramento das. manobras provocatórias fascistas.

3. Que o Governo fascista e os seus órgãos de propaganda tentem confundir com calúnias e provocações, não nos surpreende nem poderá surpreender ninguém. É o seu interesse, é a sua natureza de classe, é a sua própria lógica.

Mas que indivíduos e grupos que se proclamam «anti-fascistas» e mesmo «socialistas», e que durante muito tempo fizeram o mais completo silêncio sobre as acções armadas e outras manifestações revolucionárias realizadas em Portugal, tentem hoje desacreditar a violência revolucionária urdindo, a partir da emigração, a calúnia e utilizando a mesma adjectivação que o inimigo, eis o que se poderia considerar surpreendente.

Do mesmo modo, as Brigadas Revolucionárias denunciam, na unanimidade dos seus militantes, dois indivíduos que, vegetando isolados no exílio, procuram confundir militantes e entidades num verdadeiro trabalho de sabotagem da actividade revolucionária no interior do país. Estes indivíduos, que nunca tiveram nada à ver com as Brigadas Revolucionárias e que pretenderam envolvê-las em manobras frentistas sociais-democratas, tendo sido desmascarados nessas manobras, reagem pela calúnia.

As Brigadas Revolucionárias, enquanto que, organização política que politicamente se expressa pela luta armada, repudiaram e repudiam todas as tentativas de utilização da sua actividade, reafirmam-se no seu propósito de, através da actuação consequente, conduzirem à criação do exército revolucionário que, armado, formado e orientado pelo proletariado, conduzirá à tomada do poder e à instauração e exercício da ditadura do proletariado.

As Brigadas Revolucionárias saberão, em cada caso, encontrar os meios adequados de resposta.

Que não se criem ilusões: primeiro, porque só confundem quem se quer deixar confundir; segundo, porque não está nas suas mãos O processo revolucionário; terceiro, porque o proletariado saberá identificar o inimigo, não permitindo que os seus objectivos de classe sejam deturpados.

Ou mudam rapidamente de métodos, ou ficará claro que não passam de seitas reaccionárias iguais a tantas outras que o movimento operário conheceu e para quem o dizerem-se «anti-fascista» e «socialistas» não passa de flor de retórica para mais facilmente esconderem as suas ambições e o seu oportunismo.

É esta a «contribuição» que estes senhores, de lá de longe, prestam à luta dos militantes revolucionários no interior do país.

A clareza dos nossos objectivos, num combate sem tréguas contra o inimigo de classe, é e será a nossa resposta a estes senhores e às suas seitas.

4. As Brigadas Revolucionárias, que desde a primeira hora estão conscientes de que não preenchem todo o processo revolucionário saudam unanimemente a criação recente, através de um congresso de militantes revolucionários, do Partido Revolucionário do Proletariado — PRP.

Assim, estão hoje preenchidas as condições para o reforço e coordenação dos vários níveis e formas de luta, num processo comum que conduza à insurreição vitoriosa e à tomada do poder pelo proletariado.

Sem este passo não seria possível responder às exigências que hoje se colocam ao movimento revolucionário: reestruturar e reorganizar a organização clandestina do proletariado em todos os sectores, a fim de se poderem preparar novas ofensivas a um nível que será cada vez mais elevado.

Organizar para lutar, lutar para organizar — eis uma preocupação constante para a qual se deve, dialecticamente, encontrar em cada momento o equilíbrio.

5. Com estas acções, que atingiram o aparelho de Estado fascista e colonialista, as Brigadas Revolucionárias reafirmam, na prática, os seus objectivos:

VIVA A LUTA REVOLUCIONÁRIA ARMADA.

27 de Outubro de 1973.

BRIGADAS REVOLUCIONÁRIAS


COMUNICADO Nº. 9
BRIGADAS REVOLUCIONÁRIAS
NOVAS ACÇÕES CONTRA A GUERRA COLONIAL

1 — No dia 9 de Abril, às 17.34 h, as Brigadas Revolucionárias efectuaram uma acção de sabotagem no navio «Niassa», no momento em que este ja partir para Bissau com um contingente de soldados.

A explosão da carga provocou, além de um rombo de 80 cm no casco, um incêndio que levou 6 horas a ser extinto pelas muitas corporações de bombeiros presentes, tendo todo um sector do navio ficado seriamente danificado.

Uma hora e 15 minutos antes da explosão as Brigadas Revolucionárias informaram a PSP, a Polícia do Porto de Lisboa e alguns órgãos de informação da existência da carga do navio, a fim de que este fosse evacuado.

Tentando minimizar os efeitos da acção, as autoridades militares fascistas deram ordem de partida ao barco, obrigando os soldados a viajarem em péssimas condições de alojamento e segurança.

2 — Já antes, no dia 22 de Fevereiro, pelas 19 horas, as Brigadas Revolucionárias haviam sabotado o Quartel General da Guiné, provocando a inutilização total do edifício do comando. A hora da explosão foi escolhida de forma a não provocar vítimas entre os soldados.

Esta acção só agora é reivindicada por motivos de segurança.

3 — Estas foram mais duas acções levadas a cabo com êxito pelas Brigadas Revolucionárias contra a máquina de guerra fascista, instrumento de opressão da burguesia contra os trabalhadores portugueses e os povos das colónias, no momento em que é manifesta a importância dos reformistas (PCP, grupos esquerdistas) para responder à actual crise do regime. As Brigadas Revolucionárias põem em destaque estas acções como exemplo da verdadeira solidariedade para com os povos das colónias. Através delas manifestam a sua posição anti-colonialista e saúdam, pela única forma válida, a justa luta dos povos daqueles países — a solidariedade revolucionária não é uma abstracção, é antes um termo que só na prática tem sentido.

4 — Pelos seus comunicados e sobretudo pela sua prática, é hoje claro para toda a gente que as Brigadas Revolucionárias tudo farão para não provocar vítimas entre os trabalhadores e os soldados (trabalhadores obrigatoriamente fardados), preocupando-se, como até aqui, na escolha dos locais e horas das suas acções. No entanto, reservam-se o direito de actuar contra indivíduos que exercem repressão sobre trabalhadores ou militantes revolucionários.

5 — Aproveitam as Brigadas Revolucionárias pará publicamente fazerém um ultimato a todos quantos falseiam o carácter da sua actuação. Referimo-nos sobretudo aos órgãos de informação burguesa. Consideramos que a propaganda intencionalmente falsa que fazem das Brigadas Revolucionárias é, pela sua larga e unilateral divulgação, uma forma subtil de exercício da violência reaccionária, à qual saberemos opôr a violência revolucionária. Desde já responsabilizamos as direcções dessas empresas pelos prejuízos materiais que daí possam ádvir para os seus trabalhadores.

6.— Denunciam ainda as Brigadas Revolucionárias a átitude criminosa da PSP e das autoridades militares, de Lisboa e do Porto, quando, nas acções de sabotagem do «Niassa» e do Quartel General do Porto, não tomaram medidas apesar de prevenidas com a antecedência suficiente. Trata-se, evidentemente, de uma atitude deliberada no propósito de virem a acontecer desastres pessoais de cujo aproveitamento político se encarregaria a propaganda fascista.

7 — As Brigadas Revolucionárias, tendo em conta os interesses de classe que estão na origem do problema colonial, afirmam a necessidade duma política de classe anti-colonial de acordo com os interesses do proletariado.

Neste contexto, as Brigadas Revolucionárias denunciam a política traiçoeira neo-colonialista dos reformistas que, falando em nome do proletariado, procuram desse modo sobrepor aos interesses deste os da pequenã e média burguesia.

Ao mesmo tempo, as Brigadas Revolucionárias saúdam o Partido Revolucionário do Proletariado como organização que, na definição da sua linha política, bem como na sua actuação, soube manter-se coerente com os interesses do proletariado.

8 — Na sociedade capitalista, a detenção dos meios de produção por uma minoria provoca a sua divisão em duas classes fundamentais de interesses antagónicos — burguesia e proletariado.

Em períodos de crise do sistema capitalista, a parte da riqueza social produzida pelos trabalhadores, e que lhes é atribuída pela burguesia sob a forma de salário, desce abaixo dos limites mínimos de subsistência.

Na actual conjuntura, a crise manifesta-se em Portugal por uma inflação galopante, pela emigração em massa, pela estagnação do ritmo de desenvolvimento industrial, pelo aumento dos impostos, pelas deficiências dos serviços de assistência médica e social, pela estagnação dos sectores de exploração económica menos rentáveis (agricultura), pela subida vertiginosa do custo da habitação, pela insuficiência e carestia dos meios de transporte públicos, etc.

Esta crise é agravada pelo elevado custo de manutenção da guerra colonial em meios materiais e humanos, e os seus efeitos culminam com uma profunda cisão no seio da própria burguesia.

A impossibilidade em que se vê a burguesia nacional de responder a esta crise, leva-a a colocar-se cada vez mais na dependência económica, financeira, tecnológica, militar e política do imperialismo, ficando o proletariado português sob a exploração directa desse imperialismo. Por sua vez, dada a crise do imperialismo, essa dependência é mais um factor de agudização da crise a nível nacional.

A crise do capitalismo em Portugal é, pois, parte integrante da crise do capitalismo à escala internacional na sua fase mais avançada — o imperialismo.

9 — É partindo da constatação da natureza capitalista da crise actual que o proletariado deve definir a sua estratégia. Ora a crise do capitalismo coloca na ordem do dia a instauração do socialismo, isto é, a tomada de poder pelo proletariado. Esta a única estratégia que serve os interesses da classe.

Quanto a soluções de ordem táctica cabe aos revolucionários defini-la e lutar pela sua concretização. Assim, as Brigadas Revolucionárias abrem perspectivas ao darem exemplo de como é possível lutar nesta conjuntura, pondo-se a si e aos seus meios ao serviço da classe na luta pela conquista do poder.

Não pensem, pois, os trabalhadores que as Brigadas Revolucionárias libertarão a classe. Tem de ser a classe a organizar-se, a lutar pela sua libertação, a tomar o poder e a exercer a sua ditadura. Por isso as Brigadas Revolucionárias se reconhecem insuficientes, por isso reafirmam a necessidade da conjugação da luta armada com a luta de massas de que deve resultar o recurso aos meios violentos pela própria classe na luta pelos seus objectivos e em sua própria defesa.

Já no comunicado n.8 afirmamos que à tarefa era organizar para lutar — lutar para organizar. E agora acrescentamos organizar e lutar a todos os níveis e em todos os campos.

10 — A situação política coloca a classe perante a necessidade urgente do cumprimento de tarefas a que, aliás, já souberam corresponder os operários de algumas empresas (TAP, Timex, Metropolitano, etc.). Ao organizarem-se clandestinamente no local de trabalho para impor as suas reivindicações, ao responderem, na medida das suas possibilidades, à violência reaccionária com a violência revolucionária de massás, esses camaradas demonstram estar na única via pela qual a tomada do poder pelo proletariado e por meios violentos é possível.

À altura da sua responsabilidade enquanto que proletários estão também os soldados que sabotam de várias maneiras a máquina de opressão que é o Exército, que retiram armas e munições para o prosseguimento da luta, que procuram organizar camaradas nos quartéis e que aí fazem agitação e propaganda revolucionárias.

O cumprimento de tarefas imediatas tem, neste momento, de ter em conta o 1.º de Maio.

Há que organizar grupos de agitação e propaganda em torno do 1.º de Maio.

Há que levar por diante as mais diversas iniciativas no sentido de mobilizar a classe para, nessa altura, impor as suas reivindicações.

Há que organizar uma paralisação geral do trabalho no 1.º de Maio.

Sem criar ilusões sobre as insuficiências da classe em meios e organização, há que lutar para que o 1.º de Maio seja mais um passo no avanço da luta pela conquista do poder pelo proletariado.

No 1.º de Maio: Organizar para Lutar — Lutar para Organizar.

VIVA A LUTA REVOLUCIONÁRIA ARMADA

10 de Abril de 1974.

BRIGADAS REVOLUCIONÁRIAS


ACÇÕES DAS BRIGADAS REVOLUCIONÁRIAS

7/11/71:

Acção de sabotagem que destruiu a base secreta da NATO no Pinhal do Arneiro (Fonte da Telha — Distrito de Setúbal), acabada de construir e prestes a entrar em funcionamento: Esta enorme base subterrânea foi construída especialmente para resistir a bombardeamentos nucleares e era destinada ao contrôle de foguetões portadores de ogivas nucleares. A sabotagem destruiu completamente o comando desta base da NATO, equipado com os mais avançados sistemas electrónicos, avaliados em dezenas de milhares de contos.

12/11/1971:

Destruição de uma bateria de canhões, modelo 8x8, em Santo António da Charneca — Barreiro. Esta bateria de canhões tinha sido instalada a seguir às grandes greves da CUF, com o fim de impressionar e intimídar o corajoso proletariado desta região.

11/5/72:

Tentativa de corte de energia em parte do centro e em todo o sul do País.

11/6/72:

Recuperação de centenas de quilos de explosivo, na pedreira entre Loulé e Boliqueime, no Algarve.

11/7/72:

Foram destruídos 15 camiões «Berliet» (franceses) que iam ser entregues ao exército fascista para servirem na guerra colonial. O seu valor ascende a 15 mil contos.

— A acção do 1.º de Maio não resultou devido a uma alteração na potência do explosivo utilizado. A recuperação do explosivo da pedreira do Algarve visou superar esta situação, o que foi totalmente conseguido.

Julho de 1972:

Distribuição através de petardos de milhares de panfletos denunciando a farsa da eleição presidencial. Durante esta acção de agitação e propaganda foram lançados dois porcos vestidos de almirante, no Rossio e em Alcântara. Estes dois porços eram o símbolo do Tomás eleito e de quem o elegeu.

25/8/72:

Três destacamentos das BR, numa acção coordenada levaram a cabo a acção de sabotagem das instalações electrónicas de Palmela e Sesimbra da Companhia Marconi (trust internacional) que em Portugal exerce o monopólio de todas as comunicações telegráficas e telefónicas intercontinentais e com as colónias.

Estas duas instalações, avaliadas em muitos milhares de contos, eram elementos fundamentais do sistema de comunicações com as colónias e com a África do Sul, os Estados Unidos da América e a Inglaterra.

Dezembro de 1972:

Acção de recuperação de mapas militares de grande importância: assalto aos Serviços Cartográficos do Exército, com obtenção de um exemplar de todos os mapas das colónias ali elaborados. Estes mapas (cerca de 200) foram entregues aos movimentos de libertação — PAIGC, MPLA e FRELIMO, para os quais constituem instrumento muito importante para a intensificação da sua luta, como eles afirmaram em saudações dirigidas às Brigadas Revolucionárias.

9 e 10 de Março de 1973:

Acções de sabotagem no Distrito de Recrutamento e Mobilização na Avenida de Berna, no Quartel-Mestre General da Rua Rodrigo da Fonseca e nos Serviços Mecanográficos do Exército, no Quartel da Graça em Lisboa. A acção contra o Distrito de Mobilização destinou-se a destruir as fichas de recrutamento e a do Quartel-Mestre General destinou-se a desorganizar o sistema de abastecimentos à guerra colonial. A acção do Quartel da Graça provocou o incêndio nos Serviços Mecanográficos, causando prejuízos incalculáveis, não só sob o ponto de vista material como, principalmente, do funcionamento da máquina do Exército, como o próprio Ministro da Defesa foi obrigado a reconhecer.

6/4/1973:

Destruição das instalações do Distrito de Recrutamento e Mobilização do Porto, situado numa das alas do edifício do Governo Civil e do Comando Distrital da PSP, e das instalações do Quartel-General da Região Militar do Porto, situado na Praça da República. Nas primeiras ficaram destruídas completamente as várias secções dos Serviços de Recrutamento (incluindo ficheiros e arquivos) bem como as instalações, do Porto, do Movimento Nacional Feminino. No Quartel General da 2.º Região Militar foi destruída a parte correspondente às instalações da 2,º Repartição (Serviços Secretos do Exército), o Gabinete do Chefe do Estado-Maior, bem como os respectivos Serviços, as secções de transmissão e cifra. Os objectivos fixados para esta acção foram atingidos: sabotar o comando militar desta importante região militar bem como os serviços de recrutamento. Esta acção armada deu início às acções armadas no norte do País e prestou homenagem aos camaradas Ernesto e Luís que perderam a vida na execução das acções realizadas nos dias 9 e 10 de Março. Noutro local deste jornal prestamos homenagem aos dois camaradas mortos em luta.

29 de Abril de 1973:

Nas vésperas do 1.º de Maio foi distribuído do extremo-norte ao extremo-sul do país, em 200 locais diferentes, um panfleto chamando os trabalhadores portugueses para um 1.º de Maio de luta. A distribuição dos panfletos foi feita por petardos, que rebentaram simultaneamente em duas centenas de localidades diferentes de Portugal, do Minho ao Algarve.

1 de Maio de 1973:

Na madrugada do 1.º de Maio, cerca das 2,50 horas, foi realizada uma nova acção armada: destruição de várias secções de «relações de trabalho», do Ministério das Corporações, na Praça de Londres, em Lisboa. Foram alcançados os objectivos fixados: destruição dos 4.º e 5.º pisos do Ministério, como a própria Imprensa fascista noticiou. As BR garantiram a total imunidade dos moradores vizinhos, através de um aviso telefónico feito antes da acção.

Esta acção integrou-se no conjunto das lutas dos trabalhadores portugueses, fazendo do 1.º de Maio uma importante jornada de combate do proletariado.

26/10/1973:

Nova acção armada cerca das 22.02 h. Destruição de uma das secções de arquivos e grandes estragos no edifício e nas repartições subjacentes no Quartel-General da Região Militar do Porto. Esta acção coincidiu com o início do discurso de Marcelo Caetano que, por esse meio, dava o último retoque na preparação da farsa eleitoral fascista de 28 de Outubro. Uma outra bomba colocada em Lisboa, no Quartel-General, foi despoletada e neutralizada.

A guarnição militar fora alertada pela acção do Porto.

Assim estiveram presentes no «acto eleitoral» as Brigadas Revolucionárias.

22/2/1974:

Sabotagem do Quartel-General da Guiné, em Bissau, provocando a inutilização total do edifício do comando.

9/4/1974:

Acção de sabotagem no navio «Niassa», no momento em que este ia partir para Bissau com um contingente de soldados. A explosão da carga provocou, além de um rombo de 80 cm no casco, um incêndio que levou 6 horas a ser extinto pelas muitas corporações de bombeiros presentes, tendo todo um sector do navio ficado seriamente danificado. Uma hora e 15 minutos antes da explosão, as BR informaram a PSP, a Polícia do Porto de Lisboa e alguns órgãos da informação, da existência da carga no navio, a fim de que este fosse evacuado.

— Durante todo este período levaram a efeito as Brigadas Revolucionárias, acções de outros tipos que, por um ou outro motivos, não foram reivindicadas. Dentre estas, e como já anteriormente foi referenciado, destacamos vários assaltos a instalações bancárias e cujas somas eram exclusivamente empregues em despesas inerentes ao prosseguimento da luta revolucionária.

Foto 1
As acções das Brigadas Revolucionárias provocaram grandes agrupamentos, como é natural.
No meio deles estavam sempre militantes das Brigadas,
observando os efeitos e ouvindo os comentarios, informando-se acerca das manobras da Polícia
(Rua Rodrigo da Fonseca — 9 de Março de 1973)
Foto 2
Grande estragos provocados no Quartel-Mestre General na Rua Rodrigo da Fonseca
- 9 de Março de 1973. Aqui morreu o camarada Luis.
Foto 3
Quartel da Graça, 10 de Março de 1973. Ao contrario do que era afirmado oficialmente
a maioria dos soldados e outros orgãos das F.A. recebia muito bem as acções
das Brigadas Revolucionárias. Eram de resto elementos das F.A. como de pode deduzir logicamente,
que introduziram as bombas nos quartéis e outras instalações militares.
O ar sorridente com que estes militares limpam os destroços demonstra
um pouco a mentira das teses governmentais a resposta da reacção às acções.
Foto 4
Fotografia feita pela Pide a relógios e pilhas recuperados dos petardos de propaganda

CARTA DO AGOSTINHO NETO

[AQUI FALTAM DUAS PÁGINAS (pp. 103 e 104) NO LIVRO ORIGINAL]

...o desenvolvimento da nossa luta e são um testemunho da determinação das Forças Democráticas Portuguesas de lutar contra o fascismo e contra o colonialismo. Assim, as Brigadas Revolucionárias mostraram de maneira inequívoca que as nossas lutas estão intimamente ligadas.

O MPLA reafirma a sua determinação de lutar lado a lado com todas as Forças Democráticas Portuguesas contra o fascismo e o colonialismo portuquês.

Agradecemos ao FPLN, por ter tomado uma posição clara e sem equívocos, entregando as cartas militares ao MPLA, vanguarda do Povo Angolano em armas.

Saudações Revolucionárias
A VITÓRIA É CERTA!
Agostinho Neto
(Presidente do MPLA)


Inclusão 17/06/2019