Ata da reunião do Birô Político do Partido do Trabalho da Albânia em relação à ruptura com a China

Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia

11 de julho de 1978


Recuperação: Darsnor Kaloçi — Grupo Memorie.
Tradução e adaptação: Thales Caramante — Jornal A Verdade.
HTML: Lucas Schweppenstette

Apresentação pelo tradutor

Antes da reunião do Birô Político, no dia 7 de julho de 1978, os chineses encaminharam de Pequim uma carta de oito pontos ao PTA através do diplomata albanês e membro do Comitê Central, Behar Shtylla. A carta deixava claro que a China cancelava todos os acordos políticos e econômicos estabelecidos entre os dois países em 1965 em diante, além de retirar todos os seus especialistas, engenheiros e agentes técnicos do país. Isso significava na prática que os projetos, investimentos econômicos e obras de infraestrutura da qual a China tinha se encarregado de realizar na Albânia, assim como fornecimento de máquinas e materiais de produção retornariam para a China e deixaria a Albânia, mais uma vez, com sua independência nacional ameaçada e sob o jugo de uma série de sabotagens e chantagens econômicas promovidas por forças maiores que a sua. Porém, novamente, o povo albanês não se dobrou diante das provocações. A resposta do Partido do Trabalho da Albânia (PTA), o artigo que ficou conhecido como Carta do Comitê Central do PTA e do Governo Albanês ao CC do PCCh e ao Governo Chinês, à carta chinesa foi um documento fundamental e histórico do Partido do Trabalho (PTA), pois mostrou a coragem daquela organização de vanguarda de todo o povo albanês.

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Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA)
Ata da reunião extraordinária do Birô Político do Comitê Central de 11 de julho de 1978

O Birô Político do Comitê Central do PTA se reuniu extraordinariamente na data de 11 de julho de 1978 para discutir a carta que o governo chinês encaminhou ao nosso governo no dia 7 de julho anunciando o corte de todos os empréstimos, ajuda econômica e militar. Anunciou também a retirada de todos os especialistas chineses no país. A reunião foi aberta pelo Primeiro-Secretário do Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia, o camarada Enver Hoxha. Auxiliando os membros e suplentes do Birô Político, estavam presentes os camaradas Adil Çarçani, Hekuran Isai, Kadri Hazbiu, Manush Myftiu, Mehmet Shehu, Ramiz Alia, Rita Marko, Spiro Koleka, Lenka Çuko, Llambi Gegprifti, Pilo Peristeri, Qirjako Mihali e Simon Stefani. O secretário do Comitê Central do PTA, Prokop Murra, também participou dessa reunião.

Camarada Enver Hoxha: Estamos realizando essa reunião do Birô Político para debater a última carta que nos foi enviada pelo governo chinês, a qual informa o corte da ajuda econômica e militar que nos foi concedida por eles, com base no acordo que concluímos entre nossos dois países em 1975. Eles vão deixar todas as obras inacabadas e sem os especialistas. Todos os camaradas leram essa carta, por isso nos reunimos para trocar reflexões sobre ela e definir em termos gerais nossa atitude, bem como definir nossas tarefas para o futuro. Podemos começar as discussões.

Camarada Spiro Koleka: Essa medida que o governo chinês tomou não nos surpreende. Esperávamos que eles se manifestassem na prática e assim o fizeram, esperam que imploremos por ajuda. Claro, essa atitude dos chineses é semelhante à atitude que os revisionistas soviéticos tomaram contra o nosso país. Esperam imputar a nós a responsabilidade pelo que aconteceu como divisionistas, só que no caso dos chineses isso foi ainda mais grave, pois eles têm um objetivo bem mais caro. Acho que temos que ter uma posição firme. Eles nos enviaram essa carta e nós também devemos respondê-la. A nossa resposta deve ser digna como sempre. Acho que devemos buscar manter relações de Estado. Que tipo de relações manteremos com eles? Será que eles manterão essas relações como mantiveram os tchecos? De fato, nós não estamos muito interessados em como eles manterão essas relações, mas não devemos apertar o gatilho para cortar qualquer relação entre os dois países. Essa pressão, essas chantagens que os revisionistas chineses estão praticando contra nós não tem o menor cabimento, nós jamais nos submeteremos a eles, eles não nos assustam, nós os enfrentaremos com firmeza. Jamais negociaremos nossos princípios, portanto, a responsabilidade disso tudo é deles! Evidentemente que essa medida tomada pelos dirigentes chineses terá grande impacto à nossa economia, por isso devemos considerar esse ato como uma sabotagem para nos colocar de joelhos, mas eles jamais conseguirão isso, pois somente assim eles não alcançarão seus objetivos.

Camarada Enver Hoxha: Devemos ressaltar também que eles queriam nos forçar de maneira subversiva a fazer uma aliança militar com o titoísmo e com a Romênia, que abríssemos os portões do nosso país para toda sorte de traidores, que isso inevitavelmente abriria caminho para que as frotas soviéticas ocupassem o nosso país, colocando os povos da Iugoslávia e da Grécia em risco. Rejeitamos todas essas propostas. Devemos enfatizar sempre que nunca vamos permitir que os Bálcãs virem um barril de pólvora. Devemos denunciar ativamente que eles, com essa política, estão tentando criar um antagonismo nos Bálcãs contra os povos que vivem na região. Deixamos claro diversas vezes que sempre estaremos ao lado da soberania dos povos da Iugoslávia e da Grécia se forem atacados injustamente por uma potência estrangeira de qualquer lado. Devemos pôr um fim nessa intriga criada pelos chineses, devemos deixar claro que o povo albanês e que a Albânia Socialista são um só corpo e que nós sairemos vitoriosos contra essa conspiração! Devemos colocar isso na nossa resposta agora, ou devemos lançar apenas quando Hua Guofeng visitar a Iugoslávia? Devemos analisar com cuidado, uma a uma, todas essas propostas e argumentos, quais lançamos agora e quais guardaremos para mais tarde”.

Camarada Mehmet Shehu: Nessa nota devemos colocar somente as respostas correspondentes aos oito pontos da carta chinesa, porque teremos outros casos, penso eu, em que deveremos preservar nossos argumentos mais inquestionáveis.

Camarada Enver Hoxha: Concordo, não devemos jogar todos os nossos argumentos de uma vez na mesa nessa resposta à carta chinesa. Estou de acordo quanto a opinião de que nem o diário político Reflexões Sobre a China e o livro O Imperialismo e a Revolução devem ser publicados agora, embora alguns conteúdos tratados nesses livros possam ser usados nessa discussão atual contra os chineses. Por que não devemos publicá-los agora? O trabalho que nosso partido fez desmascarou a China de uma vez por todas, e agora temos argumentos e fatos incontestáveis reunidos para lhes dar um poderoso golpe, assim nós fortaleceremos as posições internacionalistas e revolucionárias do nosso partido e do nosso país perante o mundo. Porém, se falarmos de tudo a todo momento, como já debatemos em outras ocasiões, em relação a Mao Zedong principalmente, ainda haverá muita gente em todo o mundo que não compreenderá nossa posição. Não podemos nos encurralar e criar dificuldades desnecessárias; devemos esclarecer as massas, não podemos criar confusão na mente dos povos ao ponto de dizerem: ‘o que esses albaneses falam sobre Mao Zedong é um absurdo, quando falam que ele é isso, isso e aquilo... todos sabem que Mao é um homem honesto e que todos o escutam em busca de sabedoria’ — Temos que lançar os nossos argumentos gradualmente, pouco a pouco, assim as posições do nosso partido e do nosso povo sairão mais fortalecidas.

Camarada Mehmet Shehu: Se fizermos de forma irresponsável, a opinião do povo estará em favor dos chineses, de forma que continuarão a olhar Mao Zedong com simpatia. Tal tratamento incorreto da questão cria a possibilidade de fortalecer a posição de Mao, que, ao contrário, deve ser esmagada. Os documentos devem sair depois, assim como nossa posição de princípios contra a União Soviética.

Camarada Enver Hoxha: Nossa resposta deve conter o episódio que enviamos uma carta para a China contendo nossa opinião sobre a polêmica da revisão de fronteiras de todos os países europeus causada por Mao Zedong em relação à União Soviética. Temos, portanto, unanimidade que devemos responder a carta chinesa, na minha opinião essa questão [das fronteiras] é muito séria. Ao que parece até agora, os chineses queriam manter o conteúdo da carta em sigilo. O camarada Ramiz Alia fez uma proposta interessante ao meu ver, isto é, vamos primeiro fazer um anúncio oficial sobre a carta que os chineses nos enviaram, se não fizermos isso será pior, pois aí começarão a falar imediatamente, vão especular, a dizer isto e aquilo, em uma palavra, precisamos ter uma linha clara. Sem nenhuma dúvida os iugoslavos vão começar a falar.

Camarada Mehmet Shehu: Podemos fazer um breve anúncio na imprensa, onde explicamos o que de fato aconteceu.

Camarada Enver Hoxha: Estou de acordo com a proposta do camarada Ramiz Alia de que devemos dar um parecer à opinião pública sobre o fato dos chineses nos enviarem uma carta na qual informam o corte unilateral do apoio econômico e militar ao nosso país e que também retirará seus especialistas de nosso país. Vale a pena ressaltar neste comunicado que tomaremos as providências necessárias para todos estes ataques.

Camarada Mehmet Shehu: Acha que podemos fazer também um anúncio através da Agência Telegráfica da Albânia (ATSH) em nome do governo albanês?

Camarada Enver Hoxha: Eu acho sim que deveríamos fazer um anúncio através da ATSH e, então, posteriormente, pelo governo albanês; devemos também encaminhar a carta pelo nosso Ministério das Relações Exteriores. Também concordo com sua proposta de que deveremos escrever um informe para todo o partido sobre todas essas questões. Ela não dever ser muito longa, deve ser uma carta bem concisa, da qual o partido inteiro esteja ciente dessas questões. Agora nos deparamos com uma nova contradição, pois surgem novas tarefas diante dessas novas situações. Camaradas, vamos superar essa situação complicada assim como superamos outras situações ainda mais difíceis, antes nós éramos mais fracos em todos os sentidos, hoje estamos mais vigilantes e nossa defesa está cada vez mais sólida; nossa economia cresce, crescerá mais e estamos convencidos de que será ainda melhor no futuro. Evidentemente que é uma situação difícil, devemos estar sempre atentos e olhar para a situação com cuidado, fazer todos os esforços para superá-las. Então é isso, estamos liberados. Tirem seus recessos alternadamente.

Camarada Mehmet Shehu: Pouco a pouco vamos organizar nossos recessos com o camarada Enver também.

Camarada Enver Hoxha: Desejo a todos um bom feriado! Viva o Partido!


O chefe do secretariado do Comitê Central, Pandi Dini, anexou ao documento a carta do camarada Hysni Kapo que foi lida durante a reunião do Birô Político.

Carta do camarada Hysni Kapo

Hysni Kapo
11 de julho de 1978

Caro camarada Enver,

Hoje li com atenção o radiograma que Behar [Shtylla] nos enviou de Pequim sobre a longa carta de oito pontos que os chineses querem submeter ao nosso governo.

Os traidores chineses deram um passo que para nós não era inesperado. Anunciam a retirada de toda ajuda econômica e militar assinado conforme acordo entre os nossos dois países, ao mesmo tempo retiram também todos os especialistas econômicos e militares.

Ou seja, violam, assim, todos os acordos, e ainda puseram fim a qualquer tipo de relação entre nossos países. Querem manter a Albânia apenas como um centro de espionagem, querem manter apenas a sua embaixada, os supostos representantes comerciais, a Xinhua e seus adidos militares.

Fiz uma leitura muito fria desse ato de hostilidade dos chineses ao nosso partido, ao nosso povo e ao nosso país.

Nós, porém, conhecemos bem os nossos inimigos e seus objetivos. Nada nos abala da posição marxista-leninista que nosso partido manteve no passado e mantém hoje, nada nos abala dessa grande luta que travaremos em escala internacional pela defesa do marxismo-leninismo para desmascarar perante o mundo quem são os seus traidores na China, isto é, Mao Zedong e a quadrilha de Hua Guofeng e Deng Xiaoping.

Confio no seu julgamento no que diz respeito à quando e como devemos responder a essa medida hostil dos chineses, mas acredito que devemos fazer ainda pior com eles do que fizemos com Khrushchev e sua quadrilha. Devemos mostrar não apenas para os chineses, mas sim para o mundo inteiro que não se brinca com os albaneses. Devemos dar uma boa lição no centro de espionagem chinesa ainda presente em nosso país e suas centenas de funcionários na embaixada, desde os adidos até os membros da Xinhua e seus funcionários da Rádio.

Nossa resposta deve colocar os chineses no lugar deles: lado a lado com os Estados Unidos da América e com o social-imperialismo soviético. O melhor momento para dar esse passo, o momento mais oportuno para nós, você saberá melhor do que ninguém.

Querido camarada Enver, essas são as minhas opiniões. Você julgará melhor do que ninguém se eles estão certos ou não. Os escrevi com muita frieza e não me causaram incomodo nenhum, comprovado pelo meu aparelho imunológico. Mesmo não podendo me mexer, estou muito tranquilo, me sinto forte e com uma fé inabalável em nosso querido partido e seus ensinamentos, em você pessoalmente e em seu exemplo que nos arma a cada dia em como trabalhar e lutar pelo nosso povo e pelo nosso país, pelo partido e sua grande causa, pela defesa e triunfo do marxismo-leninismo, pela denúncia e derrota de todos os inimigos do nosso povo, do nosso país e do marxismo-leninismo, sejam eles imperialistas, revisionistas, renegados e traidores, incluindo os traidores chineses.

Com muito respeito e amor,
Hysni Kapo.

 


Jornal A Verdade
Inclusão: 24/05/2023