VII Congresso Extraordinário
(Intervenções, Saudações, Documentos)

Partido Comunista Português


INTERVENÇÕES EM NOME DO COMITÉ CENTRAL DO P.C.P.
A INFORMAÇÃO E A PROPAGANDA
DIAS LOURENÇO
(Membro do Comité Central do P.C.P.)


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Camaradas:

A frente da informação e propaganda é de uma importância decisiva na batalha política e ideológica em que estamos empenhados.

O fascismo foi derrubado pelo heróico movimento de 25 de Abril, e um regime transitório, de conteúdo amplamente democrático, foi instaurado em seu lugar. Nos seis meses que mediaram desde então, passos transcendentes foram dados no caminho de uma democracia autêntica e alterações profundas se operaram na fisionomia política do nosso país.

Nos domínios da informação e propaganda esta nova situação, rica de perspectivas, colocou, contudo, ao nosso Partido exigências novas, novas tarefas, novos métodos de trabalho, novas formas de acção.

Saído de uma longa noite clandestina, o nosso aparelho de informação e propaganda encontrou-se de repente diante de dificuldades de monta para as quais não estava nem podia estar preparado, pois a modéstia dos nossos recursos técnicos e financeiros dificilmente se poderia coadunar com as necessidades de uma pronta e eficaz intervenção política do Partido na marcha dos acontecimentos.

Houve, por isso, que fazer apelo à inventiva, às energias e ao devotamento ilimitado de inúmeros camaradas — com 11111 lugar de destaque para os nossos jovens operários, empregados e estudantes — e assim, apesar da magnitude das nossas dificuldades, cremos que o nosso aparelho de propaganda e informação foi capaz de suportar com êxito esta mutação brusca das suas condições de actuação e as novas exigências que comportava.

Podemos, pois, dizer que o nosso Partido, neste domínio da sua actividade, soube, no fundamental, estar à altura das suas responsabilidades.

A secção de Informação e Propaganda, ligada ao Comité Central, é um organismo que começa a produzir um trabalho sério e de bom nível propagandístico. Como embrião do verdadeiro serviço informativo do Partido deu já as suas primeiras provas de eficiência e virá a ser, sem dúvida, um importante auxiliar no sistema de relações públicas do nosso Comité Central.

Um núcleo de artistas comunistas de mérito, a trabalhar sob a direcção de alguns quadros capacitados do nosso Partido, está já a dar uma proveitosa colaboração a este- sector de actividade.

Não podemos, neste momento, fornecer dados exactos; acerca do número e da natureza específica dos materiais editados e distribuídos pelo nosso aparelho central de informação e propaganda, nem pelas organizações regionais, distritais e locais do Partido. Mas cifram-se já por milhões as tarjetas e panfletos, os pequenos cartazes coloridos e ilustrados e as reproduções impressas ou poli-copiadas de alguns dos principais documentos políticos do Partido, e, por dezenas de milhares, os sugestivos e artísticos cartazes e posters que por todo o País marcam a presença e difundem as palavras de ordem do Partido. No plano editorial, importantes edições de algumas obras e publicações teóricas são de assinalar: as do Programa e Estatutos do P.C.P. (VI Congresso) — 105 000 exemplares; dos Estatutos — 50 000; de O Radicalismo Pequeno-Burguês de Fachada Socialista — 25 000; dos Discursos de Álvaro Cunhal —10 000; da Revista Internacional — 20 000, etc.

As edições de Rumo à Vitória, de Álvaro Cunhal, e de outras publicações pela Direcção da Organização Regional do Norte, representam também um esforço meritório de assinalar. Também em breve a Editorial Avante! iniciará a publicação das obras de Soeiro Pereira Gomes.

Uma palavra deve ser dita acerca da actividade da nossa ainda incipiente Secção de Cinema. Com um espírito verdadeiramente pioneiro, os camaradas desta secção têm promovido várias sessões de cinema nas zonas operárias de Lisboa, nas quais pequenos filmes sobre a vida dos países socialistas têm suscitado o maior interesse dos assistentes.

É justo assinalar também, como uma iniciativa de muito valor e interesse, a participação dos nossos artistas da canção em comícios e outras manifestações organizadas pelo Partido.

É, entretanto, necessário dizer aqui que o nível actual da nossa informação e propaganda é nitidamente insatisfatório e muito aquém das nossas necessidades e possibilidades. Uma atenção muito grande deve ser dada a este sector de trabalho do Partido. As exigências de elevação da consciência política das massas colocam-nos problemas de quantidade e qualidade, principalmente de conteúdo. Todo o nosso trabalho propagandístico e informativo tem de estar em estreita correspondência com as posições e a linha política do nosso Partido.

Explicar a cada passo às massas as mutações e a complexidade do nosso processo de democratização nacional, esclarecê-las acerca do conteúdo político e ideológico deste processo e a sua dinâmica, fazer que as massas assimilem a linha política do Partido e a façam sua são tarefas ingentes de todo o nosso aparelho de informação e propaganda.

Neste capítulo, um papel de primeira importância cabe ao nosso órgão central, Avante!

A publicação legal do nosso órgão central constituiu um passo dos mais expressivos da inserção do nosso Partido no processo democrático actualmente em curso. Pode-se dizer que na singularidade deste processo o Avante! é um instrumento fundamental de intervenção política do Partido. Gozando de uma justa popularidade, que lhe advém de uma existência de 43 anos na mais rigorosa clandestinidade, dos quais 33 com uma publicação regular absoluta, apesar da odienda perseguição da extinta P.I.D.E.-D.G.S., o nosso Avante!, nas novas condições políticas do País, esforça-se por responder à confiança que as massas nele sempre depositaram.

Neste momento enfrentamos e estamos em vias de vencer a fase difícil de reconversão de um pequeno jornal clandestino num grande jornal de massas de projecção nacional.

Não é fácil nem cómoda a tarefa do nosso órgão central. Aliás, sobre toda a imprensa comunista pesam hoje tarefas difíceis e complexas.

A burguesia pôs de pé uma monstruosa máquina propagandista, publicitária, cujo objectivo é a desinformação e alienação das massas.

Impedida por uma correlação de forças que lhe é desfavorável de esmagar por meio do recurso à guerra as posições avançadas da democracia e do socialismo, é na batalha ideológica que a grande burguesia imperialista cifra os seus esforços principais para tentar deter o processo revolucionário.

Mistificar, desarmar ideologicamente a classe operária, tornou-se para a grande burguesia uma condição necessária para passar então à fase seguinte da sua conspiração contra as forças da democracia, do progresso e da Paz, que seria — sabemo-lo bem hoje pelo que se passou no nosso país) nos últimos dias de Setembro — a supressão violenta das liberdades democráticas, a liquidação para sempre das organizações progressistas mais avançadas e, enfim, usando a arma do terror, sobreviver como classe às inevitáveis tempestades revolucionárias.

O Avante!, jornal da classe operária portuguesa, é, neste momento, em Portugal, o seu mais firme bastião contra a campanha de desinformação e alienação da chamada grande imprensa.

Ao serviço do processo de democratização nacional, de que tem sido o mais importante paladino na imprensa do País, o nosso jornal não perdeu, antes pelo contrário, a sua feição peculiar de órgão leninista do Partido do proletariado. É exactamente como órgão leninista da classe operária portuguesa que o Avante! chama constantemente a atenção para o que é fundamental em cada etapa dada na edificação da democracia em Portugal, para a sua correcta^ institucionalização, para a necessidade de defender e consolidar cada uma das conquistas democráticas do nosso Povo para as justas condições políticas que determinam a amplitude e as formas de luta da classe operária.

O Avante! está inequivocamente ao lado dos trabalhadores portugueses na sua luta contra a exploração do grande capital, ao mesmo tempo que os alerta contra os falsos amigos e verbalistas, alheios à classe operária, cujas consignas aventureiras servem de facto os interesses das forças da reacção, que tentam subverter as conquista^ democráticas do povo português.

Apesar dos aspectos actualmente condicionantes da rede de distribuição comercial a que o Avante! é ainda forçado a recorrer, uma larga margem ainda lhe é proporcionada para o preenchimento da sua função como organizador colectivo, «a particularidade mais importante da Imprensa comunista», no dizer de Lenine. Convém assinalar que unia parte muito considerável da difusão do Avante! é assegurada pelo aparelho partidário. As sedes locais e centros de trabalho do Partido que se estendem pelo País em número superior a 200 são pontos de irradiação do nosso órgão central que possibilitam uma multiplicidade de contactos com os leitores. Ele vai sendo, assim, um elo de ligação orgânica periódica entre a nossa direcção central e a massa dos leitores.

Neste momento enfrentamos e estamos em vias de resolver a fase difícil da reconversão de um órgão clandestino num grande jornal de massas.

A uma primeira tiragem de 500 000 exemplares têm-se sucedido outras naturalmente mais baixas, mas que, assim mesmo, são das mais elevadas de toda a Imprensa portuguesa.

Da massa dos leitores recebemos inúmeras provas da forma como o Avante! é acolhido. Uma aproximação mais directa e viva com as classes trabalhadoras tem sido um factor muito importante para o alargamento da sua difusão no plano nacional. Com frequência, sectores amplos do operariado industrial, dos assalariados agrícolas e mesmo de pequenos e médios agricultores pedem a presença da reportagem do Avante! e a inserção nas suas colunas dos problemas e situações que mais os preocupam. Todo este interesse das massas pelo nosso jornal determina uma atenção particular da direcção do Partido ao conteúdo político e à difusão do Avante!

Através dos nossos editoriais, a cada passo a situação e caracterizada e precisada a linha do Partido. Isto tem sido um factor de elevação do nível de consciência política dos leitores e, por vezes, um instrumento determinante na actividade mobilizadora dos comunistas.

Também a vida do Partido começa a ter no jornal um instrumento orgânico de valia. As experiências de trabalho partidário mais interessantes começam a ser abordadas numa perspectiva de sistematização e generalização. O noticiário elaborado de comícios e sessões de esclarecimento fornece uma experiência viva ao mesmo tempo que uma noção da força e influência do Partido.

Não obstante estes factores positivos, as deficiências são, ainda, notórias. No plano ideológico, o Avante! não dá, ainda, sistematicamente, aos seus leitores uma visão) comunista de toda a informação burguesa. Ainda não realizámos a função lapidarmente definida por Lenine, de que «nada do que é humano nos é estranho». São lacunas cuja eliminação está nos nossos projectos imediatos.

Por outro lado há ainda muito a melhorar na abordagem dos problemas e realizações dos países socialistas, tão importantes para uma visão correcta e objectiva das experiências dos povos desses países, que merecem o maior interesse da parte dos leitores e que só o Avante! em Portugal está em condições de realizar de maneira satisfatória e verídica.

Uma das nossas lacunas mais graves é a dos correspondentes do Avante!. Quando Lenine diz que é «um mal-entendido pensar que só os escritores profissionais são capazes de participar num jornal; pelo contrário, só será útil e vivo se por cada cinco publicistas responsáveis há 500, 5000 colaboradores não responsáveis» — nós sentimos com agudeza os efeitos reais das nossas lacunas neste capítulo.

Daí ser imprescindível aumentar o número dos nossos correspondentes. Em nome dos trabalhadores do Avante! e desta tribuna do nosso Congresso aqui deixo um apelo a todas as nossas organizações e camaradas para que dêem com urgência realização prática a esta tarefa. O Avante! não é o único jornal publicado pelo nosso Partido. Outros órgãos como A Opinião, Margem Sul, UEC e alguns outros constituem experiências válidas de jornalismo comunista.

Finalizo, camaradas, com uma palavra de confiança na capacidade do nosso Partido para pôr de pé um verdadeiro e eficiente aparelho de propaganda.

Avante por um melhor trabalho nesta frente de luta.


Inclusão: 18/05/2020