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O quadro sucessório para a presidência da República em 1960 começa a adquirir contornos menos obscuros, após a definição do ministro da Guerra como provável candidato.
Pode-se, assim, embora em perspectiva passível de alteração, opor-se, desde agora, o marechal Lott a Jânio Quadros: o chefe do Exército, aglutinando as correntes basicamente industrialistas, nelas compreendidas larga parcela do PSD, o PTB e o PCB, e o ex-governador de São Paulo, somando, fundamentalmente, o agrarianismo latifundiário, a classe média “liberal” e as camadas plebéias menos ativas na vida política do país. A UDN constituirá, por sua maioria, a espinha dorsal do arcabouço eleitoral de Jânio.
Certo, essa distribuição de forças entre os dois candidatos não deve ser levada a rigor, mas em termos de aproximação, dada a fluidez dos partidos, que exprimem, em vez de unidades ideológicas nacionais, um conglomerado de interesses regionais, dado o desenvolvimento desigual das várias regiões brasileiras. Se o PSD, em conjunto, pode ser considerado expressão do industrialismo, incorpora, contudo, “coronéis” latifundiários das áreas econômicas mais atrasadas. De sua parte, a UDN, além dos potentados do latifúndio cafeeiro e cacaueiro, abarca restritos setores da indústria. Não se apresenta menos “impuro” o PTB. Haja vista seu “líder” Jango, um dos maiores proprietários de terras do Brasil. Essas considerações são, de igual modo, válidas para os pequenos partidos, exceção feita do PCB. De toda maneira, a polarização “ideológica” dos candidatos apontados verificar-se-á em torno do pretenso nacional-reformismo de Lott e do agrarianismo conservador antiestatista de Jânio Quadros.
Mas não tenhamos dúvidas: qualquer dos dois que venha a ser eleito — é verdade que o demagogo casposo em maior medida — subordinará sua administração aos interesses da burguesia brasileira e de seus sócios imperialistas. Se Jânio nunca fez segredo de sua subserviência ao imperialismo e, como programa de governo, nada apresentou até aqui além da safada e hipócrita “moralização” especulando com a existência do gatuno descarado que é Adhemar de Barros, o marechal da espada dos pelegos deixou bem claro em entrevista recente, o caráter de seu “nacionalismo”: “quando estão em jogo, simultaneamente, os interesses do país e os estrangeiros estou legitimamente com os nossos próprios interesses”. E justifica seu apoio à Petrobrás — note-se bem — não porque é (???) uma forma de conter a cobiça dos trustes e sim porque “as companhias não têm nenhum interesse em explorar o nosso (da burguesia, é evidente!) petróleo, mas, APENAS, em dispor das nossas jazidas”. Desde logo se vê que o ministro da Guerra aprendeu, direitinho, a lição, na viagem que fez, há pouco, aos Estados Unidos. Só um basbaque oportunista como Prestes e esses pequeno-burgueses ingênuos ou malandros do “nacionalismo verde-amarelo” descobrem antiimperialismo no chefe do Exército, que faz alarde de seu incondicionalismo a todos os governos, “entreguistas” ou não. Bom democrata, esse, que serviu a todas as tiranias de Bernardes, com o inferno da Clevelândia, a Vargas, do “Estado Novo” terrorista, sem desvirginar a espada, enquanto milhares de moços, militares e civis, morriam pela liberdade.
Existe, ainda, um traço comum aos dois candidatos — no Antonio Conselheiro caspento, como sempre, em maior dose: a ausência de compromisso com os partidos e, por conseqüência, a falta de plataforma definida. A gravidade disso, para as rudimentares instituições democráticas brasileiras e, sobretudo, para os trabalhadores, repousa em que, eleito presidente, qualquer dos dois tenderá a evoluir para o bonapartismo, isto é, para o poder unipessoal, supostamente acima das classes. E as presentes e catastróficas condições econômico-financeiras do Brasil, que prometem agravar-se, ao extremo, no decurso deste ano, conforme os próprios economistas burgueses, propiciarão, com as greves e lutas de massas em ritmo ascendente, o clima para tentativas de ditadura, facilitada pela origem híbrida e formação mental de ambos os candidatos. Se é que um dos candidatos chegue mesmo a tomar-se presidente, hipótese insegura, face ao descalabro da situação econômico-financeira e por força dos dois blocos eleitorais em presença, ambos de cunho inelutavelmente demagógico.
De qualquer modo, isto que está aí, até o momento, como candidatos, nada tem de comum com os interesses reais da classe operária e os trabalhadores em geral, muito menos com os socialistas marxistas.
Sem dúvida, Prestes e o Estado-Maior do PCB, cumprindo seu destino de mulher de soldado que gosta de apanhar, apesar de repelidos, desde já, por Lott, anticomunista declarado, que nada quer com eles, vão tentar, a todo custo, arrastar os trabalhadores para o rebanho eleitoral do ministro da Guerra, enfeitando este com inexistentes virtudes democráticas e antiimperialistas.
De sua parte, Jânio, como já fez, comprará “pelegos” sindicais para o jogo de sua candidatura nos meios operários.
Não obstante a distância que ainda nos separa das eleições de 1960, desde logo os trabalhadores conscientes devem opor um NÃO aos chamados dos prestistas-lottistas e “pelegos” janistas, assim como dos “líderes” petebistas.
Aos cantos das sereias oportunistas do PCB de Prestes, que proclama nada mais pretender senão “nacionalismo” para o Brasil de hoje e aos dos demagogos de Jango Goulart ou do farsante Jânio, os trabalhadores precisam responder com uma frente-única de classe contra a miséria crescente, pela escala-móvel de salários, por uma Central Sindical Operária, desligada do Ministério do Trabalho, por ações de massas contra os exploradores burgueses nacionais e seus sócios imperialistas.
Para o proletariado e seus aliados de todas as camadas pobres da população, o pleito presidencial de 1960, nos termos em que está sendo posto no momento, não deve significar outra coisa senão o robustecimento de uma política independente contra o capitalismo e pelo socialismo, através dos sindicatos e das organizações marxistas revolucionárias.
Fora dos meios operários os agentes do nacional-reformismo burguês e da demagogia “liberal” e latifundiária.
Notas de rodapé:
(1) “Editorial” da Ação Socialista, Órgão da Liga Socialista Independente, Ano II, n.º 3, Julho de 1959. (retornar ao texto)
Inclusão | 21/04/2014 |