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A menos que a classe operária, através de suas organizações sindicais e políticas, some suas forças de modo a tomá-las a espinha dorsal de potente movimento popular em defesa das liberdades democráticas e por SEU ROBUSTECIMENTO, não tardará e teremos restauração da ditadura bonapartista, desta feita, provavelmente, sob o império da espada. O intermezzo legal de Juscelino se encaminha para o fim. Só o pânico diante das explosões de revolta do povo que, de norte a sul, vem manifestando sua repulsa à classe dominante em geral, contém os ditatorialistas militares e civis. Não é outro, também, o motivo dos repetidos apelos de conciliação entre os partidos “centristas”, feitos principalmente por Felinto Müller, do governo, e Vilasboas, da oposição.
Os próprios líderes burgueses proclamam que nos encontramos em plena crise pré-revolucionária, com os trabalhadores afogados na miséria a cada hora tornada mais aguda pela bacanal inflacionária, que lhes reduz do SALÁRIO REAL a pouco mais que nada. O próprio Ministério da Saúde confessa que a média per capita de calorias consumidas pelos brasileiros, isto é, pelos pobres do Brasil, está abaixo do índice de calorias consumidas pela população da índia. E o Ministro Lucas Lopes que declarou há pouco, devermos contar com mais vinte por cento de DESVALORIZAÇÃO do cruzeiro em 1959, acaba de prometer aos patrões imperialistas nos Estados Unidos, onde foi mendigar dólares, um próximo “período de austeridade”, quer dizer, de mais fome para o povo, como garantia do dinheiro empregado pelos tubarões de Washington nas “metas desenvolvimentais” de Juscelino e seus “nacionalistas”. Sem dúvida, mais dólares virão, a pretexto de salvar-se o Brasil das garras de Moscou, pois essa é, agora, a chantagem usada pelas podres e impotentes burguesias dos países subdesenvolvidos como o nosso, para se encherem e, mais ainda, aos seus SÓCIOS ricos de Washington, que levam a seiva do trabalho nacional em polpudos juros, royalties e amortizações.
A inflação arrasa os lares proletários, roubando-lhes o pão, enquanto, como em nenhuma outra época de nossa história, verdadeira enxurrada de dólares invade o Brasil. Nos últimos três anos, a taxa média de crescimento da entrada de capitais estrangeiros se elevou a quatrocentos e trinta e três por cento! Nos sete primeiros meses de 1955 foram colocados no Brasil 81,8 milhões de dólares; em idêntico período de 1957, 436,8 milhões. É nesses moldes que a “burguesia progressista” promove o desenvolvimento da economia brasileira, sob calorosos aplausos dos “nacionalistas”, de todos os matizes, que defendem a industrialização... para o imperialismo e seus aliados nacionais.
A classe operária, ou melhor, os trabalhadores em conjunto, principiam a compreender a natureza desse “nacionalismo” esfomeador, cujos líderes, COM RARÍSSIMAS EXCEÇÕES, a serviço de interesses ocultos, os mandam apertar o cinto e colaborar com a burguesia nacional “progressista”.
A cantilena colaboracionista está, porém, se desmoralizando rapidamente, como se vê pelos quebra-quebras e manifestações de protesto em todo o país. Esta a razão por que, face à bancarrota do governo Juscelino, os partidos “centristas” buscam unir-se CONTRA o povo, para melhor contê-lo, de sua parte os nacionais-reformistas-stalinistas, paisanos ou militares, estimulam um golpe bonapartista do general Lott, que este hesita em desferir, temeroso das represálias econômico-financeiras do imperialismo norte-americano, que alimenta a falida burguesia nacional COBRANDO-SE REGIAMENTE, bem como da reação de setores das forças armadas e grupos burgueses, dispostos a encontrar nos “quadros legais” solução para a crise.
Contudo, esse equilíbrio instável dificilmente poderá manter-se por muito tempo, diante da crise econômico-financeira, de caráter crônico, que o aventureirismo demagógico do governo Juscelino, mesmo com as injeções de ouro de Wall Street, só faz agravar.
Longe estão os socialistas marxistas de “amar” a legalidade burguesa. Mas de modo nenhum desejam vê-la substituída por uma DITADURA BURGUESA, civil ou militar, que apenas poderá trazer para o proletariado e as massas populares maior miséria e mais dura opressão. Ao contrário, o que reclamam os socialistas marxistas, que não crêem absolutamente na burguesia e, menos ainda, em um ditador “iluminado” é, antes, a ampliação em seus limites máximos, das atuais instituições democráticas. Não será nas trevas de uma ditadura bonapartista — LEMBREMO- NOS DO ESTADO NOVO DE VARGAS! — que o povo, com o proletariado à frente, conseguirá defender suas escassas conquistas contra a exploração capitalista e, muito menos, aprofundar suas lutas pela redução da miséria ou supressão do regime da propriedade privada, origem fundamental de todos os males de que sofre.
À FRENTE-ÚNICA BURGUESA PROPOSTA EM NOME DOS EXPLORADORES por Felinto Müller e Vilasboas, oponhamos a FRENTE-ÚNICA DAS ORGANIZAÇÕES OPERÁRIAS POLÍTICAS E SINDICAIS contra a exploração capitalista e qualquer espécie de golpe, seja lottista ou dos cartolas burgueses. Que não se tolere, nos meios operários, a ação dos agentes ditatorialistas, pregoeiros do golpe “nacionalista”, que só poderá retardar o avanço da classe operária e do povo rumo à libertação socialista.
Notas de rodapé:
(1) “Editorial” da Ação Socialista, Órgão da Liga Socialista Independente, Ano I, n.º 1, dezembro de 1958. (retornar ao texto)
Inclusão | 21/04/2014 |