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Fonte: https://vermelho.org.br
HTML: Fernando Araújo.
Aldo Arantes, que completa 80 anos nesta quinta-feira (20), é um homem que usa as palavras como arma de luta.
Encontrei-me pessoalmente pela primeira vez com o Aldo Arantes em 1979, depois que ele saiu da prisão, beneficiado pela Lei de Anistia. Foi no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, num ato em comemoração àquela conquista. O Aldo fora feito prisioneiro depois da quinta-feira sangrenta de 16 de dezembro de 1976 (faz 42 anos) em que ocorreu a Chacina da Lapa, onde foram assassinados Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e, sob torturas, João Batista Drummond; foram presos também Elza Monnerat, Haroldo Lima, Joaquim Celso de Lima e Maria Trindade e Wladimir Pomar, todos submetidos a torturas bárbaras. Todos membros do Comitê Central do PCdoB, que estava reunido naquela ocasião.
Aldo Arantes já era, à véspera de completar 38 anos de idade, um comunista histórico – fora um fundadores e dos dirigentes da Ação Popular (AP), depois transformada em Ação Popular Marxista Leninista (APML) que, em 1972, foi incorporada ao PCdoB. Entre 1961 e 1962 foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), tendo intensa participação na Rede da Legalidade convocada pelo governador gaúcho Leonel Brizola para resistir à tentativa de golpe militar contra a posse do vice-presidente João Goulart ao cargo de Presidente da República, vago desde a renúncia do presidente Jânio Quadros. Resistência contra a ação golpista da direita que foi redobrada durante o governo de João Goulart até finalmente a deposição do presidente no golpe de abril de1964.
Era um personagem histórico e não havia ainda nem cumprido a metade do número de anos que completa neste 20 de dezembro de 2018, quando intera oito décadas de combate democrático permanente.
Mas, mais que camarada, fui me tornando amigo próximo de Aldo Arantes a partir da década de 1990. Fui membro da Comissão Editorial da revista Princípios e, nessa condição, aproximei-me dele como editor que comentava periodicamente os textos a serem publicados, no duro combate contra o neoliberalismo que avançava no Brasil sob o governo do conservador Fernando Collor de Mello. Alguns deles se tornaram antológicos nesse combate, ajudando a muitos democratas, progressistas e comunistas a serem abastecidos de argumentos na luta de idéias que era implacável.
Luta de idéias em que Aldo Arantes é um combatente inflexível e rigoroso mas também cordial e leal com seus camaradas, uma qualidade que conheço de perto. Fui membro, com ele, da secretaria de meio ambiente do PCdoB, entre 2007 até mais ou menos 2013. E tínhamos uma grande divergência teórica a respeito de alguns aspectos da questão ambiental e do alardeado aquecimento global. Enquanto Aldo aceita as alegações de muitos cientistas, difundidas amplamente pela mídia, da existência de uma forte participação humana nas emissões de carbono que provocariam o efeito estufa, responsável pelo aumento da temperatura do planeta, eu me incluo entre aqueles que são denominados “céticos” por duvidar que haja capacidade, técnica e material, acumulada pelos seres humanos para provocar tal efeito. Penso que, contra aqueles que falam em ameaça ao planeta, as questões ambientais são muito mais pontuais e ameaçam os seres humanos de maneira mais próxima, pela contaminação das águas, do solo, do ar, que estão em nossas vizinhanças e não nessa remota atmosfera apregoada pelos que falam em aquecimento global.
Muitas vezes os debates com o Aldo Arantes foram acalorados mas, posso testemunhar, sempre muito respeitosos – nunca usando argumentos de autoridade para impor seu ponto de vista. Dentro do comportamento democrático, comunista exemplar: debater para, com base nos fatos, compreender e esclarecer.
Esta é a lição deixada por um comunista que completa 80 anos de idade – debater com tenacidade e vigor, mas também com amizade e espírito fraterno.
Grande Aldo! Muitos anos ainda virão!