Como Melhorar a P.O.?

Francisco Martins Rodrigues


Primeira Edição: Documento interno, sem data (inédito)

Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando A. S. Araújo.

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Alguns elementos para a discussão:

  1. Introdução – Como é do conhecimento de quase todos, devido a ter sido desactivada a OCPO por afastamento voluntário da maioria dos participantes iniciais, a propriedade da revista e do seu aparelho técnico ficou desde há vários anos nas mãos dos únicos membros que se mantiveram agregados em colectivo (agora com uma baixa, pelos motivos que se conhecem), os quais constituem simultaneamente o comité de redacção efectivo e os proprietários das edições Dinossauro. Todas as outras pessoas que colaboram na redacção ou apoiam a revista por várias formas (algumas com muita assiduidade) não mantêm nenhum vínculo organizativo com ela, à excepção do núcleo do Porto, e mesmo esse bastante difuso.

Não tendo a presente reunião capacidade deliberativa, por força das circunstâncias, o comité de redacção tenciona contudo ter na maior atenção as indicações que dela saírem. O comité, que tem procurado, até agora sem êxito, cooptar novos membros, continua interessado em alargar-se (e eventualmente reactivar a OCPO), em condições que assegurem a unidade política da revista, a regularidade da sua edição e a estabilidade da sua base financeira, como até aqui.

  1. Balanço – Consideramos muito positivo o trabalho realizado nos últimos 5 anos, desde a última assembleia da OCPO. Nas condições extremamente adversas que teve que enfrentar, o comité de redacção não só persistiu no projecto inicial, mantendo a linha editorial, a qualidade gráfica e a circulação da PO. como inclusive alargou a intervenção política, primeiro com a criação do MAR (Movimento Anti-Racista) e desde há dois anos, com as edições Dinossauro, com 10 títulos editados, tudo isto sem pôr em causa a estabilidade financeira do projecto. Se estes resultados foram conseguidos por um número muito reduzido de activistas (embora à custa dum esforço insano), é fácil imaginar em que situação vantajosa poderíamos encontrar-nos hoje se não tivesse acontecido a desmobilização da maioria dos participantes iniciais.

Poderia ser melhor a qualidade política dos artigos? Poderia ser aumentada a periodicidade da edição, ou desdobrada em duas revistas, uma teórica e outra política, ou uma revista e um jornal? Poderia a Dinossauro ter já lançado obras mais importantes? Com as forças disponíveis, a nossa resposta é não, nem acreditamos que tão cedo isso seja possível. E se estamos atentos a qualquer possibilidade de avanço, não esquecemos que, em período de refluxo prolongado, ir atrás de miragens poderia ser uma maneira de dar cabo do pouco que temos.

  1. Linha geral – De acordo com o estatuto editorial, temo-nos apegado ao conceito de que a criação duma corrente comunista em Portugal passa pelo corte com a democracia pequeno-burguesa, não apenas em termos ideológicos, mas nas questões da política diária. Isto tem implicado uma campanha, que nos tem causado algum isolamento por ser entendida por certos leitores e amigos como “sectária”, de crítica cerrada e de recusa a qualquer apoio, eleitoral ou outro, ao PCP, PS, UDP, etc., e, no plano internacional, de crítica à capitulação das burguesias nacionais “progressistas” do tipo ANC, OLP, MPLA, Frelimo, Fidel Castro, etc, e de combate ao reformismo nas suas manifestações pacifistas, ecologistas… O maior obstáculo, quanto a nós, à afirmação duma corrente comunista em Portugal está na noção fatalista de que é forçoso “apoiar os menos maus contra os piores”, o que tem perpetuado a sua menoridade ideológica.

Isto não exclui, como é evidente, o apoio a todas as posições pequeno-burguesas radicais desde que abertamente anti-imperialistas (ex. Chiapas, Salvador). De modo geral, temos considerado como pedra de toque da linha comunista a oposição frontal às agressões imperialistas, em cima do acontecimento: casos da guerra do Golfo (em que animámos mesmo uma comissão de luta), das operações de “pacificação” na Somália, Ruanda, Bósnia, etc. Orgulhamo-nos de ser, neste aspecto, a única publicação nacional com uma postura anti-imperialista coerente.

Nos temas mais gerais do colapso do “campo socialista”, carácter da “nova ordem”, crise geral do capitalismo, luta de classes nos países imperialistas e nos países dependentes, tem-nos sido obviamente difícil fazer grandes progressos (que implicariam a existência de uma equipa dedicada ao trabalho teórico, que não temos) mas consideramos marcos positivos a série de artigos sobre a revolução russa, assim como a divulgação de um certo número de documentos traduzidos da imprensa estrangeira, que ajudam a alargar horizontes. Nesta área, em que há muitas questões em aberto, temos mantido abertura à polémica entre pontos de vista diferentes, embora sem concessões ao eclectismo, que achamos deve ser mantida.

  1. Modelo – O modelo híbrido da revista, simultaneamente de actualidade política e de debate ideológico, já tem dado muita discussão e continua a ser considerado insatisfatório por diversos leitores. Há quem fale em “manta de retalhos”. É contudo, quanto a nós, o que melhor defende a existência da PO no período difícil que vimos atravessando, visto que combina comentários políticos, informação das empresas, artigos ideológicos, problemas nacionais e internacionais, revista de livros, imprensa, televisão, etc., o que permite captar o interesse duma maior faixa de leitores do que se optássemos só por uma “especialização”.

Também na Dinossauro temos aplicado o critério de procurar que a maior venda de obras literárias ligeiras ajude a financiar a edição de obras de maior fôlego político, já que aqui não nos é possível acumular défices financeiros iguais aos da PO. 

(...)


Inclusão 10/06/2018