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Primeira Edição: Política Operária nº 108, Jan-Fev 2007
Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
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A palavra escapou a Sócrates, no calor do debate parlamentar: as medidas de ataque ao enriquecimento ilícito propostas pelo deputado João Cravinho não foram aceites pelo governo porque eram "uma asneira
Sócrates sabe do que fala. O capital precisa de liberdade. O que aconteceria se, em nome da moral, se começasse a levantar entraves ao livre jogo dos subornos, tráficos de influência e lavagem de dinheiros? A base de uma sã economia de mercado é o florescimento sem peias do negócio.
Restrições às liberdades, medidas de vigilância e espionagem, agravamento das penas de prisão, são indiscutivelmente necessárias nestes tempos difíceis – mas para defender a sociedade dos manejos da desordem e do terrorismo. Aplicar tais medidas aos capitalistas seria monstruoso.
Quem pegou o boi pelos cornos foi o professor Luciano Amaral. Explicou ele, num notável artigo de jornal, que “quando as restrições atingem níveis insuportáveis, a corrupção é a única maneira de dar vida a uma economia”, Aí está: a corrupção é o correctivo que os capitais aplicam às leis demasiado tacanhas.
É por isto que a corrupção está incontrolável. Os homens de negócios censuram à sua maneira o “peso intolerável” da máquina do Estado. E vão fazer força até que os governos desistam de picuinhas legais, abram as comportas e deixem respirar livremente a iniciativa dos empreendedores.
Caiu tão baixo este regime que um concurso da RTP está em vias de eleger Salazar como “o maior português de sempre”. Pode haver pior bofetada a esta democracia do dinheiro?
Inclusão | 18/08/2019 |