O Governo deles

Francisco Martins Rodrigues

Novembro/Dezembro de 2006


Primeira Edição: Política Operária, nº 107, Nov-Dez 2006

Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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Eloquente foi Eduardo Vanzeller, o presidente da CIP, quando, no final de uma reunião de empresários promovida pelo PS, declarou à Renascença que, à parte algumas divergências, o programa do Partido Socialista contempla “quase tudo o que nos interessa”, Cavaco Silva, por sua vez, acabou com as ilusões dos que esperavam vê-lo entrar em conflito com o governo. A sua entrevista à RTP foi um elogio rasgado ao programa de Sócrates e uma advertência ao PSD e CDS para que compreendam o seu lugar e moderem eventuais ardores oposicionistas.

É isso, aliás, que Marques Mendes vem fazendo estoicamente à frente do PSD, mesmo sujeitando-se a ser acusado por correligionários descontentes de estar a tornar o partido indistinguível do PS. E é esse o papel distribuído ao CDS, onde Luís Nobre Guedes, aspirante à chefia, defendeu a necessidade de “mudar de rumo” e aprender a fazer “uma oposição eficaz”, porque, sublinhou, “temos um bom governo”.

O que isto significa é que o grande patronato está solidamente unido à volta deste governo, pela obra já realizada e por aquilo que dele espera nos próximos meses. Encantados pela determinação de Sócrates, os homens do capital indicam à oposição de direita a função que lhe compete nesta fase - estimular o progresso das “reformas”, não estorvar-lhes a marcha.

Contra esta frente unida do capital só a frente unida dos trabalhadores pode alguma coisa. Continuar a cingir-se à oposição parlamentar é perder tempo precioso - e defraudar as expectativas dos trabalhadores. Os cortes brutais no nível de vida e nos direitos de quem trabalha, a arrogância do patronato e do seu governo, só por acções de massas, na rua, serão detidos. As últimas greves e manifestações não deixam dúvidas sobre a reanimação do espírito de luta. Têm a palavra os activistas das empresas e sindicatos, os milhões de explorados, para dar sequência ao Protesto Geral da CGTP, de 25 de Novembro, e iniciar a trajectória de queda deste governo infame.


Inclusão 18/08/2019