MIA> Biblioteca> Francisco Martins Rodrigues > Novidades
Primeira Edição: Política Operária nº 102, Nov-Dez 2005
Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Não faltam nestes dias na nossa imprensa comentários repassados de chauvinismo obtuso contra os tumultos dos jovens de França. Mas, de todos, os mais saborosos pela sua pouca vergonha são os dos democratas encartados. Como o ilustre Prado Coelho, no Público de 9 de Novembro.
Começando por dar uma visão dantesca dos bandos que “espalham o terror e a ideia de morte” (não mataram mas podiam ter matado!), concede ele que os jovens magrebinos em revolta “são as principais vitimas da crise do Estado social” e que foram empurrados para periferias desumanizadas e deixados ao abandono. Mas, acrescenta, isso não os justifica, porque “uns reagem de uma maneira, outros de outra”. Veja-se o exemplo da comunidade dos emigrantes portugueses, sempre dóceis, esforçados e agradecidos. Porquê? Porque “nunca deixaram de se sentir europeus”!
Aí está a diferença! Um europeu civilizado não se comporta como esses bárbaros mal agradecidos que, “em certos casos beneficiaram de todos os aspectos positivos do sistema” (vê-se!), “voltam-nos contra o que somos e o modo como vivemos”. Porque, 110 fundo, o sonho deles e a “demolição obstinada de tudo o que os europeus construíram”.
Está aqui tudo, neste pequeno tratado de arrogância xenófoba que parece copiado dos discursos de George W. Bush. Cata-vento sensível às voltas da luta de classes, o europeu Prado Coelho escolhe o seu campo. Com tanta desenvoltura que louva os nossos emigrantes por não gostarem de ser confundidos com as comunidades de africanos de língua portuguesa!
A pergunta é: como pode uma personagem destas continuar a ser aceite como guru da esquerda?
Inclusão | 18/08/2019 |