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Primeira Edição: Editorial do nº 102 de Política Operária, Nov/Dez 2005
Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Como pode a ordem pública ficar de repente à mercê da “escumalha”, em pleno coração da Europa? Alarmados, os políticos constatam que “estamos sentados em cima de um barril de pólvora”.
E têm razão. Os tumultos de Paris recordam que em cada país opulento há um terceiro mundo soterrado que periodicamente emerge com violência. São erupções da revolta social, causada pela discriminação, pelo desemprego, pelos guetos dos subúrbios. São uma resposta espontânea dos pobres à guerra que contra eles vem sendo feita, em França como na Inglaterra, na Alemanha ou nos EUA. Ou em Portugal.
As multidões que se lançam sobre as cercas de arame farpado em Ceuta e Melilla, os afogados que diariamente dão às costas da Andaluzia e do sul de Itália, os conflitos raciais, os campos de internamento que alastram pela Europa – testemunham o nível insuportável da tensão.
Os bonzos da democracia, porém, encerrados na estupidez dos seus privilégios, seguem em frente. Uns lançam a polícia contra os que “odeiam o nosso modo de vida”; outros censuram os motins porque quebram o “contrato de confiança (!?) em que se baseia a democracia”; outros ainda – auge da hipocrisia – reconhecem razões para a revolta, para logo de seguida condenar a “destruição cega” e apelar ao civismo (!) dos oprimidos a quem foram retirados todos os meios de defesa.
Para nós, comunistas, o que importa não é prevenir a repetição dos tumultos, que sabemos inevitável. É conseguir que a revolta tome um rumo mais eficaz no desmantelamento da ordem burguesa.
Inclusão | 16/10/2018 |