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Primeira Edição: Política Operária, nº 98, Jan-Fev 2005
Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
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Estranham alguns o nível rasca da campanha eleitoral, mas sem razão. O vazio do debate, os duelos de imagem dos líderes, os golpes baixos, são os ingredientes necessários nas eleições em que apenas se disputa o acesso a verbas, cargos, oportunidades de negócio - é o caso dos clubes de futebol, das câmaras municipais e dos governos subalternos.
Com o poder de decisão transferido para as multinacionais, grande milagre seria que a classe política não se afundasse no pântano. Reclamar que se confrontem ideias, estratégias, programas de governo, é absurdo. Não se pode discutir o que não existe.
Mas quanto mais irrelevantes as opções, maior o clamor para que todos exerçam o seu direito sagrado. O que Interessa é arrebanhar uma percentagem decente de votantes. É verdade que muito irão lá só para barrar o caminho ao mal maior, outros por teimosa nostalgia clublsta, muitos outros arrastados pela manipulação mediática — mas isso que importa? O espectáculo será cumprido: “O povo fará a sua opção livre e democrática”.
E a esquerda? Em vez de comparecer nesta batalha para denunciar o logro e apelar à luta contra o totalitarismo do capital, PCP e BE desdobram-se em propostas governativas que todos sabem impossíveis. A sua ambição não vai além do papel de figurantes neste mau teatro.
Na noite de 20 de Fevereiro, contados os votos, proclamada a empresa vencedora, reencontrar-nos-emos com o nosso único problema: como revitalizar o movimento dos trabalhadores, como ganhar capacidade de intervenção contra as máfias governantes.
Inclusão | 18/08/2019 |