A Batalha

Francisco Martins Rodrigues

Setembro/Outubro de 1995


Primeira Edição: Política Operária, nº 51, Set-Out 1995

Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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A nossa abstenção, dizem-nos. foi um erro. Se a grande meta era correr com Cavaco, devia haver algum partido que pudéssemos apoiar sem quebra de princípios. Tudo seria preferível a ficarmos ausentes da 'batalha".

Simplesmente, a tal “batalha” resumiu-se a uma campanha publicitária pela aquisição de votos, campanha indigente, indecorosa, roçando amiúde o grotesco. O que não é casual: à medida que se completa a absorção do país no espaço europeu e se esvaziam os poderes, já de si simbólicos, do parlamento, mais ociosa se torna a disputa eleitoral, mais vazias as polémicas, mais baixos os truques.

Mas poderia não ser assim. Suponhamos que a breve agitação operária da Marinha Grande e do Pejão se tinha prolongado e amplificado ao longo do ano. Alguém duvida que o quadro eleitoral seria totalmente diferente, que o “caso” PSD estaria resolvido por natureza e que um governo PS teria de fazer sérias concessões aos trabalhadores?

Abstivemo-nos por faltarem as condições mínimas para transformar a feira eleitoral num autêntico combate político. O que, de resto, foi confirmado pela infeliz experiência das candidaturas de esquerda.

Há uns 130 anos. Engels chamava ao parlamento alemão o “estábulo”. Não encontramos melhor qualificativo para a ilustre assembleia que vai por estes dias tomar posse.


Inclusão 18/08/2019