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Primeira Edição: Notas manuscritas, em preparação para intervir num colóquio, 1986
Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
A PO está na rua – não pretendemos fazer uma festa comemorativa, mas debater com os nossos camaradas e amigos, ouvir críticas e sugestões, pedir apoio. Agradecemos a todos.
A PO não é uma grande coisa mas saiu do zero. Numa época em que está na moda no campo da esquerda condenar o voluntarismo como um pecado, é justo aproveitar a oportunidade para lembrar que sem espírito de luta não se vai a lado nenhum. Quando há um ano um punhado de camaradas começou a juntar cotizações de 100 e 500 escudos para fazer uma revista parecia ridículo. Mas foi daí que começou a nascer a edição do Anti-Dimitrov, a empresa e a revista que hoje temos. Quem não anda não descobre o caminho. Hoje pode parecer ridículo falar-se em corrente operária comunista, em Partido Comunista, em revolução, quando somos um grupo de poucas dúzias de pessoas com uma revista que tirou mil exemplares. Vamos pôr um pé à frente do outro, furar para diante, logo veremos do que somos capazes.
Há quem ache a revista estreita e dogmática, há quem receie demasiada abertura ao debate e a pôr coisas em causa. Temos que nos explicar com clareza. Não pretendemos agradar a todos. Não acreditamos no ecletismo das tribunas abertas a todos os ventos. Partimos da convicção de que o capitalismo é o pior de tudo. A luta de classes é o motor de tudo. <esta revista é só para fazer entender a luta de classes, em Portugal e no mundo. Tudo o que não respeite a isso não nos interessa. Mais: partimos da convicção de que a actual crise política profunda do movimento operário tem na base uma crise ideológica que consiste no seguinte: mistura, fusão, confusão dos interesses da classe operária com os da pequena burguesia; subordinação do movimento operário à pequena burguesia, exemplarmente expressa no PCP. Queremos distinguir, destrinçar, separar aquilo que está unido. Mostrar caso a caso que os interesses operários são antagónicos dos da grande burguesia e também dos da pequena burguesia. Ajudarmos a formar aquilo que nunca passou de embrião em Portugal: a consciência crítica do proletariado. A partir daí, acreditamos que pode haver Partido Comunista, hegemonia do proletariado, revolução socialista. Antes, não.
Este projecto leva-nos a entrar em choque com a sociedade burguesa no seu conjunto — isto é, desde o Estado, os monopólios, os partidos de direita, até à pequena burguesia democrática tutora dos operários, que tem o seu mais perfeito representante no PCP e onde também se alinha o PC(R).
Este projecto exige uma luta feroz contra o praticismo dos militantes operários, que é uma forma de resistência passiva a enfrentarem as suas responsabilidades de classe. “Os teóricos que nos definam a política porque nós não sabemos marxismo”. Só uma corrente operária disposta a discutir tudo e a entender tudo terá ousadia para se lançar na revolução.
Por isso também este projecto não admite dogmas de igreja. Cada problema tem que ser observado por vários ângulos e sujeito a polémica. Não queremos uma revista para vender certezas e desbobinar frases feitas galvanizadoras, mas para procurar respostas. Não temos nenhum programa de trabalho matematicamente traçado. Vamos à descoberta, porque é isso o marxismo.
Inclusão | 16/10/2018 |