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Primeira Edição: Tribuna do Congresso nº 16, 2 Fev 1983 (boletim interno de debate para o 4º Congresso do PC(R)
Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
(O presente artigo foi recusado na última semana pela Comissão da Tribuna, com argumentos que considero injustificados e atentatórios do Regulamento. Pelo facto, já apresentei um protesto por escrito à Comissão, a que aguardo resposta).
A convocação de eleições antecipadas veio complicar em extremo o processo do Congresso. Não só pela acumulação de tarefas que acarreta mas sobretudo porque vem dar enorme alento às tendências que procuram fugir a uma clara demarcação de posições. É um perigo que tem que ser denunciado e combatido sem demora por todo o Partido. Disso depende o êxito ou o fracasso do Congresso e com ele todo o destino do Partido.
De facto, não faltam no Partido, e sobretudo no Comité Central, os camaradas receosos de enfrentar a viragem que o Congresso exige, desejosos de esbater os erros, ansiosos por uma transição pacífica que mude alguma coisa mas salve o mais possível da nossa política anterior. Basta ver o silêncio persistente da maioria dos membros do Comité Central na Tribuna, apesar das críticas que esse procedimento levanta, para não ter dúvidas de que a viragem ainda mal começou e está ameaçada.
Para todos esses camaradas receosos da mudança e do ajuste de contas com o oportunismo, a premência das tarefas eleitorais surgiu como um maná do céu. Agora já podem, em nome da defesa do deputado da UDP e de “unir o Partido na acção”, passar o Congresso para segundo plano, evitar o aprofundamento do debate, pôr uma surdina na critica ao desvio de direita e ao 3º Congresso, apagar a tarefa imperiosa e decisiva, que é a unificação urgente do Partido em torno de uma linha revolucionária e a eleição de um Comité Central coeso, disposto a levar até às últimas consequências a luta para extirpar o oportunismo infiltrado no PC(R) sob a via do 25 de Abril do povo.
Há o risco de as eleições legislativas servirem de pretexto para afogar o Congresso e sonegar a viragem à esquerda esboçada nas teses. Esse risco só pode ser superado se o Partido não se deixar arrastar pelo falso argumento de que a “defesa do deputado da UDP é a tarefa central do momento”. A tarefa central do momento é a derrota total do desvio de direita e o êxito pleno do Congresso. Aí têm que ser concentrados de imediato os esforços. Como pode alguém acreditar que se possa conduzir uma campanha eleitoral revolucionária na situação de confusão e de crise em que se encontra o Partido e sobretudo o CC? Vencer primeiro o Congresso para depois poder vencer as eleições é uma questão de bom senso elementar. Até o PSD e o CDS o entendem. Só no nosso Partido parece haver dúvidas a esse respeito.
É absurdo pensar-se numa mobilização enérgica de todas as forças partidárias para a campanha eleitoral quando assistimos a posições públicas como a do Secretariado da UDP, que há dias analisava a antecipação das eleições como uma “colagem” de Eanes às exigências populares! Apresentar a situação como se Eanes estivesse a reboque do movimento de massas quando é o contrário que sucede, não é só inépcia política. Mostra a tendência enraizada de uma parte da direcção do Partido e da UDP para ocultar, sob as cores da “vitória”, os novos perigos de envolvimento das massas numa manobra de “abertura” e a grandeza das tarefas que se nos colocam.
Ter alguma hipótese de assegurar o deputado revolucionário da UDP significa concentrar, durante todo o período que falta para o Congresso, o grosso das nossas forças no debate, na unificação política do Partido, no levantamento do Partido. Assim é que o problema tem que ser posto.
É preciso acabar com o boicote à Tribuna e reclamar a definição pública de posições dos dirigentes e quadros perante o Partido. É preciso reforçar o Bandeira Vermelha, alargar para 4 as páginas dedicadas ao Congresso. É preciso apoiar os debates nas assembleias e conferências com a presença dos dirigentes e quadros do Partido, para ajudar todo o Partido a compreender o que está em jogo e decidir em consciência. É preciso recorrer sem receio a amplas assembleias de militantes para debate, o que em nada viola o regulamento do Congresso, visto que as eleições e votações serão sempre feitas nas assembleias e conferências. É preciso concentrar as melhores forças do CC e dos quadros na preparação dos projectos de resolução e outros documentos a submeter à aprovação do Congresso. E preciso proceder a intensos debates e consultas para determinar a linha a seguir pelo Partido nas organizações de frente e nomeadamente na UDP. É preciso fazer vir ao de cima os militantes com mais espírito de luta e de vigilância contra o oportunismo e o centrismo e propor a sua candidatura ao futuro Comité Central, comités regionais, etc. É preciso planificar já a divulgação das resoluções do Congresso e a batalha pela unificação do Partido em torno delas. Quando tudo isto está comprometido, não se pode conciliar com quaisquer tendências para subestimar o Congresso. Exigir tudo pelo Congresso é neste momento uma das formas principais de derrotar o oportunismo e o centrismo.
Inclusão | 06/09/2018 |