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Primeira Edição: Em Marcha, 2 de Dezembro de 1981
Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Foi há seis anos e parece que foi há um século. O silêncio fúnebre do estado de sítio fazia contraponto à explosão de alegria do 25 de Abril. O golpe dos coronéis corrigia o golpe dos capitães. A campana burguesa retomava os carris da ordem.
Mesmo assim, a direita já olha de esguelha para as “ambiguidades” do 25 de Novembro e deixa que o centro tome conta dele. O 25 de Novembro ultrapassado — quem tal diria? E ainda há quem se queixe de que isto não anda nem desanda!
Os planos operacionais de Eanes e Jaime Neves, é tudo história. O 25 de Novembro foi dado de bandeja. Os pides fugiam, o ELP aterrorizava, o Carlucci aliciava, os faxos acotovelavam-se no PS. Mas, no meio do fungágá da generosidade e do civismo, ninguém sabia o que fazer. Quando o Otelo falou em metê-los no Campo Pequeno ficou tudo escandalizado.
Os campeões da Aliança Povo-MFA eram os maiores... na boa-fé. Cunhal explicava aos senhores oficiais que as conquistas eram irreversíveis. Vasco ensinava, com a voz embargada o socialismo pela batalha da produção. Costa Gomes, na última semana, ainda desmentia formalmente os rumores de golpe. Todos tão ingénuos!
Será possível não ver agora, à distância, a manha que governava estas ingenuidades? Oferecia-se o socialismo para que os operários não o fizessem, garantia-se-lhes a protecção do MFA para que não pensassem em armar-se, dava-se o capitalismo como enterrado para que não o enterrassem. Dava-se a burguesia como perdida para a a salvar. Truque tão antigo!
A triste verdade, é que os operários foram comidos como uns patos. Desmantelada a primeira linha de defesa da burguesia com a derrocada do Estado Novo e do Império, rota a segunda linha dos Spínola, Palma Carlos, Sá Carneiro e Soares, a multidão operária e popular veio entregar, confiante, os destinos da sua revolução a Cunhal, Vasco Gonçalves, Costa Gomes, sem perceber que eles eram afinal a terceira e última linha de defesa da burguesia.
“O 25 de Novembro foi a escolha definitiva entre dois modelos de sociedade”, proclama o Governo. Seria bom que, para nós, o 25 de Novembro fosse a prova definitiva de que parar diante da terceira linha inimiga é perder a batalha.
Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha e no jornal Política Operária.
Inclusão | 06/02/2019 |