O Aviso

Francisco Martins Rodrigues

8 de Julho de 1981


Primeira Edição: Em Marcha, 8 de Julho de 1981

Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.


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O “Tempo” denuncia em primeira página uma campanha terrorista que estaria a ser preparada pela “esquerda não-democrática”. Há um plano articulado de subversão, assegura. Os incidentes aparentemente dispersos não são mais do que “elos de uma cadeia imensa”. Mais! Existe já “um clima de recrudescimento terrorista”!

As provas vêm lá todas, esmagadoras. Primeira: nos distúrbios da Luz intervieram “agitadores profissionais' bem conhecidos, armados com alicates corta-arame. Segunda: nos incidentes da Nazaré foi detectado um destacamento especializado no “municiamento de pedras da calçada para agressão das forças da ordem”. Terceira: ainda na Nazaré, o pelotão da PSP sofreu uma “emboscada” no cruzamento da R. Mouzinho de Albuquerque, por parte uma força contrária composta por 50 elementos.

O “Tempo” imita bem o estilo do falecido “Diário da Manhã”. Os caceteiros fardados passam a vítimas. As vítimas passam a agitadores subversivos. Os protestos populares na rua tornam-se cenário de guerra civil. O inimigo a abater é a “esquerda não-democrática”.

O objectivo do “Tempo” não é só justificar a brutalidade dos gorilas do Almeida Bruno. É ajudar a passar à prática a Lei Terrorista nas empresas e na Reforma Agrária. É abrir caminho ao Serviço de Informações. As pessoas têm que começar a habituar-se, avisou risonho o ministro Meneres Pimentel na televisão.

À medida que se vai tornando claro que a AD no poder conduz mesmo ao regresso do salazarismo, as pessoas perguntam: quem se vai opor?

O PS? É ler as declarações de Mário Soares! É ver Almeida Santos no bate-papo com o Meneres, na televisão, colaborante, humilde. O PS está ansioso por “compartilhar as responsabilidades do poder”.

O PCP? Esse, sempre responsável, [falha no original] de apelos ao PS e a Eanes. Entretanto redobra treinando para o que der e vier. No dia 27 já vai-se mostrou na Rotunda que não receia a luta violenta. Contra os “esquerdistas”, entenda-se...

Quem resta então para fazer frente à ameaça do fascismo? Restam os que não têm nem remorsos de ser da esquerda. A massa o povo, farta de política suja e disponível para a política que ainda não se fez. Somos a maioria. Podemos derrotar a direita. Basta querermos.


Inclusão 22/08/2019