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Primeira Edição: Em Marcha, 17 de Junho de 1981
Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Vai ser posto à venda (finalmente) o livro de memórias de Lino Coelho. Este velho operário de Sacavém que, ao fim de andar 40 anos no PCP, vem declarar com orgulho que já não lhe serve o partido que deixou de ser revolucionário, ensina-nos algumas coisas.
Ensina-nos, por exemplo, como era, no Portugal dos anos 30, um partido operário revolucionário. Nesse PCP respiravam-se os interesses, os pontos de vista, a moral, a esperança, não dos portugueses em geral, mas de uma classe — a classe operária. Que por isso o defendia ciosamente como o seu tesouro.
Lutando no seu partido, passando fome, acossados pela PIDE, correndo as prisões, esses operários rebeldes sonhavam com o dia em que deitariam abaixo o poder dos burgueses e fariam a sociedade dos trabalhadores.
O que os sustentava nessa luta desigual? Era o ódio. O ódio ardente dos pobres pelos ricos, pelos privilégios, pelas mentiras, por esta sociedade que não serve para gente viver nela.
Era assim o velho Partido Comunista.
Foi quando se levantou a chusma dos Cunhais, dos Fogaças, dos Pedro Soares, a explicar, com sabedoria condescendente, que o ódio era “primário”, que não era marxista-leninista, que não dava para fazer política ampla com a Oposição... E o ódio foi empalidecendo, recuando para os cantos escuros. Até que foi solenemente abolido, a bem da Unidade de todos os portugueses honrados.
O resultado aí está: este PCP onde os operários aceitam timidamente a tutela dos intelectuais, dos técnicos e dos quadros, na esperança de que os “doutores” os defendam e os ajudem a melhorar de vida. A ideia da revolução evaporou-se com o ódio. Revolução, só pacífica e só quando tiver o acordo da burguesia quase toda (se não puder ser toda...)
Guerra aos intelectuais? Seria uma estupidez. Porque os intelectuais são preciosos. Mas é preciso que decidam se querem servir a classe operária, sem condições. E se querem aprender com ela.
Porque a classe operária tem muitas limitações, está visto. Mas tem uma qualidade que falta aos outros todos: sabe odiar. E o ódio operário é a única força no mundo capaz de destruir o nojo que aí está e fazer o socialismo.
Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha e no jornal Política Operária.
Inclusão | 06/02/2019 |