MIA> Biblioteca> Francisco Martins Rodrigues > Novidades
Primeira Edição: ....
Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
No "Diário Popular" do dia 6, Rodrigues da Silva atira-se aos operários pequeno-burgueses. O alvo é bom mas parece-me que erra o tiro.
O tema vem a propósito do triunfo do nazismo na Alemanha. Há meio século, Erich Fromm concluía que a batalha contra o nazismo em ascenção estava perdida porque uma boa parte dos operários alemães afectos ao Partido Social Democrata e ao Partido Comunista admiravam Bismarck e Napoleão, duvidavam que o socialismo pudesse virar a face do mundo, desconheciam o teatro de Brecht, queriam as suas mulheres em casa, proibiam-nas de se pintarem...
Deste indícios concluía Fromm que a massa dos operários de esquerda tinha uma mentalidade pequeno-burguesa autoritária, "próxima da mentalidade fascista", pelo que estavam condenados à partida a perder a batalha contra o nazismo.
É uma estranha maneira de ver a questão. Em 1931, a vanguarda operária alemã estava batida, não por causa de certas ideias atrasadas, mas porque os seus chefes socialdemocratas, receosos da revolução, a forçavam a ajoelhar diante dos bandos terroristas a soldo do capital financeiro. Estava batida porque o seu Partido Comunista era incapaz de tirar as lições dos levantamentos revolucionários de 1918 e 1923 e não conseguia afastá-la da socialdemocracia. Acusar os operários alemães de esquerda de estarem influenciados pela mentalidade autoritária e fascista é apagar a traição que lhes foi feita pelos agentes da burguesia disfarçados de "marxistas".
Lénine, por exemplo, nunca se ocupou em estudar a "estrutura caracteriológica" dos operários russos. Se se tivesse metido nisso, provavelmente teria concluído em 1917 que a revolução era impossível... Lénine interessava-se pelos embates políticos em que os operários se empenhavam e pelas lições que daí tiravam para o assalto ao poder. Só a experiência revolucionária, dizia Lénine, só a derrota dos conciliadores e reformistas, podia libertar a consciência operária do embrutecimento produzido pela exploração, pela submissão, pela ignorância. É um ponto de vista oposto ao de Erich Fromm.
Lição para hoje? É que não há razão para descrermos da nossa classe operária, pelo facto de ser inculta, estar fanatizada pela bola ou ser machista. Há que ajudá-la, sim, a travar lutas de envergadura revolucionária, que a libertem do veneno paralisante do veneno do reformismo. Daí virá o resto.
Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha
Inclusão | 02/12/2018 |