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Primeira Edição: Em Marcha, 22 de Dezembro de 1980
Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Acácio Barreiros é o que se pode chamar um político pela negativa. As suas opiniões tornaram-se um ponto de referência obrigatório para a esquerda saber aquilo que não lhe convém.
No semanário onde simpaticamente pontifica. Acácio expõe três reflexões eleitorais que merecem comentário. Primeira, "a vitória de Eanes, na medida em que é uma vitória da democracia sobre um projecto antidemocrático, é uma vitória da esquerda". Segunda, a derrota da UDP e de Otelo foi o merecido castigo pelo seu "radicalismo gesticulante''. Terceira, o resultado eleitoral "abre novas perspectivas para a esquerda socialista afirmar o valor dos seus projectos políticos alternativos".
Como quem diz: o esvaziamento eleitoral da esquerda revolucionária demonstra que ela já nada tem a fazer e que só lhe resta pôr-se em saldo para dar lugar ao estabelecimento "alternativo” de Acácio.
É uma pressa compreensível da parte de quem tão brilhantemente venceu as eleições, mas Acácio, mais uma vez baralha as coisas.
O voto popular em Eanes mostra que os politicões reformistas souberam explorar a ameaça fascista como bons chantagistas para convencer os trabalhadores a passar um cheque em branco à direita "civilizada". É um banal "conto do vigário", como os que se fazem todos os dias por esse mundo fora. Tocar trombetas à "vitória da esquerda" nas eleições só lembraria de facto a Barreiros ou Barreirinhas.
A esquerda não conseguiu expressão eleitoral. Foi o castigo merecido pela falta de convicção em si mesma, por se deixar amarrar pelo sentimento de culpa e pela frustração dos seus erros anteriores, por se manter distante da massa que está em baixo, e que está descrente de tudo, disponível para tudo. A esquerda sofreu, não de "radicalismo gesticulante” mas por se deixar contaminar pelo "realismo rastejante” de que Acácio é precisamente um expoente.
E agora? Dar a vez ao "projecto alternativo" Acácio? Não. Agora, quando a maioria, amarrada e amordaçada pelos reformistas, se conformou a deixar-se governar pela direita, é vital que a vanguarda revolucionária se mantenha íntegra e de pé. É preciso disputar os trabalhadores ao reformismo, empresa a empresa, sindicato a sindicato, aldeia a aldeia, e arrancar pela luta a passagem a um novo ascenso. E deixar aos reformados da esquerda o tropel da debandada.
Inclusão | 30/05/2018 |