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Primeira Edição: Em Marcha, 30 de Outubro de 1980
Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
A candidatura da Otelo ai está. E com este trunfo excepcional: enquanto todos os outros candidatos se envolvam em disputa para sabor que rumo dar ao 26 de Novembro. Otelo aparece a bater-se pelas liberdades, pelo bem-estar do povo, pela independência, pelo caminho de Abril. Otelo não tem concorrentes na esquerda.
Isto abre campo para a afirmação de uma grande corrente democrática e popular no dia 7 de Dezembro. Porque grande parte do eleitorado do PS e do PCP não se conforma com os argumentos tortuosos que tentam convencê-lo de que, para derrotar Soares Carneiro, se tenha que apoiar Eanes, chamar-lhe "democrata", "positivo" e não sei que mais. "Não será que a melhor maneira de bater o candidato do fascismo é unirmo-nos em torno do candidato do antifascismo?" Esta pergunta espontânea que nasce nas massas pode tomar-se uma força demolidora dentro do PS e do PCP.
O que está no fundo dos conflitos entre Mário Soares e o Secretariado Nacional do PS senão a repugnância das bases socialistas a serem usadas como carneiros do rebanho eanista? E no PCP, o que obrigou Cunhal a quebrar silêncio reverente face a Eanes senão as "severas criticas dos militantes à actuação do Presidente", segundo a sua própria confissão, anteontem, em Sacavém?
O terreno está adubado para um grande êxito da candidatura de Abril. Mas a árvore não crescerá se não atacarmos as ervas venenosas que tentam sufocá-la. Soares está a tentar canalizar o descontentamento dos socialistas para força de regateio com Eanes. Cunhal lança Carlos Brito para quebrar, pouco a pouco a recusa do PCP ao voto em Eanes.
Só há um meio de soltar, pela base, uma grande corrente de apoio a Otelo. É a esquerda tomar a iniciativa de afirmar o seu candidato como a única alternativa, real e não simbólica, a Soares Carneiro. É colocarmo-nos como meta, não apenas "marcar presença" mas criar uma dinâmica de fundo que torne irremediável a derrota do candidato da AD. Resistir ao empenhamento a fundo na batalha por Otelo, sejam quais forem os argumentos que se apresentem, será virar costas aos espoliados da Reforma Agrária, aos operários em luta contra a jornada de 12 horas, aos moradores do Viso, no Porto, matracados pela policia de choque, aos mineiros em greve, ao caminho de Abril.
Porque estar com a candidatura de Otelo é hoje a única forma de corresponder à fonte inesgotável da luta operária e popular.
Inclusão | 25/05/2018 |