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Primeira Edição: Em Marcha, 24 de Abril de 1980
Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Esta semana, o pequeno Sá Carneiro ganhou da imprensa francesa o classificativo humorístico de “o homem de ferro de Lisboa”. A aplicação pressurosa da directiva de Cárter para o corte de relações económicas com o Irão e a defesa ferrenha que fez em Estrasburgo dos interesses do imperialismo americano (“o que os Estados Unidos precisam é de apoio e não de críticas”) tornaram Carneiro uma curiosidade da política europeia. O primeiro ministro de ocasião pode finalmente saborear a vingança sobre o obeso Freitas que chegara a fazer-lhe sombra nas reuniões internacionais.
Insensível ao ridículo, Sá Carneiro não nota que os discursos belicistas não soam na sua boca da mesma maneira do que na de um Cárter ou de Brejnev. Em vez de alarmar ou indignar fazem rir. A verdade é que Sá Carneiro herdou em linha recta de Salazar a falta de imaginação, a política de “orgulhosamente sós” e a mania de dar prelecções à reacção mundial. Mas tem ainda menos senso político do que o mestre.
Seria um erro contudo ver a política do governo só pelo lado da farsa. Os chefes da AD fazem estas indignas exibições de servilismo face aos EUA porque querem comprar o apoio do Pentágono para a aventura política em que se lançaram. E não deve haver ilusões de que essa aventura se encaminha rapidamente para um ponto crítico em que tudo será de esperar.
A escolha para candidato à Presidência dum “tenebroso” como Soares Carneiro diz muito sobre os planos da AD. Não foi certamente por estupidez que se optou por um general que tresanda a Pinochet ou a Videla, incapaz de atrair os votos da grande massa. Foi porque se sacrificou deliberadamente a popularidade, a troco do que se considera essencial: a força, o apoio da extrema-direita militar para o que der e vier. Soares Carneiro candidato quer dizer que a perspectiva da AD é já mais de golpe do que de votos.
Mais um aviso de que nem um dia pode ser perdido no levantamento da acção popular contra o governo, de modo a fazê-lo cair. E quanto maior for o tombo, mais garantias haverá de não vir outro semelhante a seguir.
Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha
Inclusão | 02/12/2018 |