Revendo cartas e retratos Taciana recordava-se da única fase da sua felicidade.
Três meses depois de chegar da Europa ela começou a se apaixonar por um jovem capitão do exército. Rapaz insinuante, inteligente, de caráter acendrado, de grande valor. Encontrou-o a primeira vez em casa de uma família de suas relações; depois em vários lugares e passeios combinados. Mais tarde passou a vê-lo em sua casa, na fazenda. Alma serena. Grande caráter. Taciana apaixonou-se seriamente pelo jovem militar. Ele também a amava muito.
Revendo seu arquivo secreto Taciana folheava seu “diário”. Nunca mais continuou a escrever au jout le jour suas ideias, suas impressões, seus pensamentos. Depois que ele partiu, as folhas do caderno ficaram em branco, pela metade. Um ano de saudade. Taciana relia as últimas páginas escritas.
“Luiz partiu para sempre. Escreveu-me uma carta dizendo que só me procuraria quando tivesse uma grande posição social. Ele se ofendeu com uma brincadeira minha. Foi, de fato, uma pilhéria de mau gosto. Eu o ofendi sem medir as consequências das minhas palavras. E o fiz com o propósito de magoá-lo para o experimentar. Disse-lhe quando me falou em nos casarmos que eu almejava um futuro opulento, que pensava em viver luxuosamente e que minha intenção era de me casar com um homem rico. E acabei dizendo que nunca me casaria com um simples capitão. Se ao menos fosse general... Foram estas as últimas palavras que lhe disse. Deixei-o partir na certeza de que voltaria como de costume. Hoje recebi uma carta sua chamando-me de mulher sem alma, sem coração.
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Ah! Se tu soubesses, Luiz, o quanto te amo, o quanto tenho sofrido, tu me perdoarias, como se perdoa uma criança.
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Tenho, em vão, procurado o Luiz. Ninguém sabe para onde ele foi. Creio que partiu para o Rio de Janeiro, para a casa de sua mãe. E eu não sei onde reside sua família! Meu Deus! fazei com que Luiz volte!
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A roseira de rosas amarelas, lindas echeirosas, essa roseira que espetou o dedo de Luiz quando tirou pela última vez, uma rosa para mim, essa roseira que sobe pela
janela do meu quarto, está morrendo. E com ela a minha última esperança...
Luiz, meu amor, onde estás? Vem para junto de mim.
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Meu Deus! Para que me destes momentos de felicidade para me deixar depois neste abandono, nesta tortura? O teu amor Luiz é tudo para mim. A riqueza do teu talento, do teu caráter, vale tudo nesta vida.
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Eu fui castigada demais. Luiz não suportou a minha afronta. Grande caráter, grande homem. Como eu te admiro, ó meu amor, como eu te desejo, Luiz ! Minha alma se eleva para o teu perdão.
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Luiz matou o meu orgulho, o meu orgulho imenso e mudo. Hoje o meu único desejo consiste em viver a seus pés como uma escrava.
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Faz hoje um ano que Luiz partiu. Parece que foi há um século! Nunca mais tive noticias do meu amado, desse homem que arrebatou meu pensamento, que me fez a mulher mais triste da terra.
Mas se um dia voltares serás meu, eternamente.”
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Dessa pagina em diante nada mais havia escrito. Taciana contemplava o retrato do seu amado. Dois fios de lágrimas corriam pelas faces até os lábios que tremiam com saudade daquela única boca que os beijara, que os mordera.