Discurso na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro
(Solenidade de entrega do Título de Cidadão Fluminense ao Presidente do Conselho Mundial da Paz)

Luiz Carlos Prestes

28 de Agosto de 1985


Primeira Edição: setembro 1985.

Fonte: Plaqueta Dívida Externa e a Paz.

Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo, janeiro 2007.
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Sr. Presidente.

Sr. Marechal Francisco Costa Gomes

Sr. Romesh Chandra

Demais Componentes da Mesa

Srs. Deputados

Demais Membros do Conselho Mundial da Paz

Cabe-me, em nome dos brasileiros que aspiram pela paz, lutam contra o desencadeamento de uma terceira guerra mundial e contra a corrida armamentista, nesta oportunidade da entrega a Romesh Chandra, eminente presidente do Conselho Mundial da Paz, que encabeça a Delegação que visita nosso País, do diploma que lhe outorga, em nome do povo fluminense, de cidadão do Estado do Rio de Janeiro.

Ilustres senhores deputados!

Minhas senhoras, meus senhores!

Companheiros e amigos, lutadores pela paz no mundo!

Valorosos companheiros do Centro Brasileiro de Defesa da Paz e da Ecologia.

Esta visita, de tão ilustres e destacadas personalidades, constitue, por si só, um evento da mais relevante importância, que marcará época na vida cultural de nosso povo. Hoje, em que desgraçadamente, uma boa parte da intelectualidade brasileira, sob a influência dos meios de comunicação — imprensa escrita, rádio e televisão — é sistematicamente desinformada, coloca-se em posições anti-soviéticas, subestima o papel histórico do grande País soviético, onde, pela primeira vez, os explorados chegaram ao poder, é da maior oportunidade esta visita de tão ilustres personalidades que, por lutarem conseqüentemente pela paz no mundo, são admiradores da União Soviética e de sua conseqüente política de defesa da paz e de luta pela coexistência pacífica entre povos de regimes sociais e políticas diferentes.

É de acentuar porém que realizada esta honrosa visita neste mês de agosto, que assinala o quadragésimo aniversário do bombardeio atômico de Hirochima e Nagasaki, como que acentua o contraste e eleva a nível mais alto, o significado desta visita. O bombardeio atômico daquelas cidades foi o evento mais terrível e atrós até hoje havido conscientemente pela mão do homem, dirigido por homens de Estado egoístas e insensatos. Centenas de milhares de pessoas desapareceram em segundos, consumidos pelas chamas, vítimas da gigantesca energia liberada pela Ciência. Até os dias de hoje, vítimas daquele crime hediondo, cometido contra a humanidade, continuam a morrer em terrível martírio, conseqüente da radiação mortífera.

São passados 40 anos! Tenta-se ainda hoje, explicar o crime, a fim de desviar, com argumentos infundados, os verdadeiros motivos de tão insensato golpe atômico, causador de extermínio em massa da população de cidades densamente povoadas.

Aquelas explosões de bombas tornaram-se um símbolo sinistro do futuro, de um perigo universal e de um repto lançado pelo imperialismo à própria existência da humanidade; ameaça a um direito sagrado do homem, que é seu direito à própria vida.

São passados 40 anos, mas as forças da reação esperam ainda poder reduzir a essência da vida dos povos a uma competição, para ver quem acumulará e instalará mais depressa novos típos de armas nucleares, tanto na terra, como no mar e, já agora, também no Cosmos.

Não podemos deixar de reconhecer que o perigo de catástrofe nuclear contínua a pesar sobre todas as desgraças da humanidade contemporânea. Mas acontecimentos como os de Hirochima e Nagasaki devem servir de advertência e de recordação dolorosa para todos os habitantes da Terra. Deve soar como um apelo comum à união da Humanidade, diante do maior perigo de nosso século, proveniente da chantagem nuclear, do incessante alastramento do potencial nuclear.

Diante de tão grande perigo, não podemos deixar de aqui ressaltar e saudar as grandes massas trabalhadoras de nosso País que, ao mesmo tempo que lutam contra a miséria e o atraso em que são compelidas a vegetar, quase instintivamente, graças ao seu instinto de classe, não deixam de avaliar com acerto o perigo atômico e de manifestar sua admiração e seu afeto pela União Soviética, e de reconhecer o papel histórico do primeiro Estado do proletariado do mundo, na luta conseqüente em defesa da paz e pela coexistência pacífica de todos os povos, como única alternativa a uma terceira guerra mundial. São homens e mulheres, jovens e velhos, que recebem salários de fome, cada dia menores, como vem de acontecer em 1º de maio do corrente ano, quando o salário nominal foi dobrado, mas de fato reduzido de 50 para 40 dólares por mês.

Mas contra o perigo atômico e contra uma terceira guerra mundial, o que se ergue no mundo é o Movimento Mundial pela Paz, a maior organização hoje existente no mundo, com raízes e em todos os países, tanto do campo socialista como do capitalista. É graças à sua atividade, mas também simultaneamente ao prestígio e força da União Soviética, que no mês de maio último pôde ser comemorado no mundo inteiro o fim da Segunda Guerra Mundial e os 40 anos decorridos sem a eclosão de uma terceira guerra mundial. Isto, apesar das numerosas tentativas feitas pelas forças mais reacionárias no sentido de transformar guerras locais em conflito bélico de proporções mundiais.

À frente do Movimento Mundial da Paz está o Conselho Mundial da Paz, do qual participaram destacadas personalidades de numerosos países do mundo inteiro, e que tem como seu Presidente o insígne cidadão Romesh Chandra que nos honra com sua presença nesta Assembléia.

A biografia de Romesh Chandra reflete sua integral dedicação à luta em defesa da paz no mundo e sua ativa participação, desde a juventude, naquela pelos superiores interesses de seu povo, pela independência e o progresso social da Índia. Romesh Chandra teve participação ativa na criação do Movimento Mundial da Paz, bem como do Conselho Mundial da Paz, do qual é membro desde o ano de 1957, em seguida, seu Secretário Geral, de 1966 a 1977, e, desde então, seu Presidente. Em sua juventude teve grande papel em Movimentos pela libertação da Índia. Foi destacado militante estudantil, presidente do Movimento Estudantil em Pumdjab e Secretário da Federação Pan Indiana de Estudantes. Jornalista profissional, foí editor-chefe de diversos periódicos. Julgado e condenado por escrever artigos sobre os planos secretos britânicos para suprimir o Movimento Nacional Indiano. Foi também dirigente da luta pela libertação nacional na clandestinidade. Foi ainda um dos fundadores do Movimento Pan Indiano pela Paz e continua desempenhando um papel destacado na Organização Pan Indiana de Paz e Solidariedade, na condição de membro da presidência. Sempre à frente de todos os movimentos de solidariedade com as lutas dos povos pela independência nacional, Romesh Chandra é, na verdade, um cidadão do mundo, que tem influído decisivamente para a criação de uma opinião pública que apoia as iniciativas favoráveis à paz nas Nações Unidas, como também do movimento de não-alinhados e da Organização da Unidade Africana.

Romesh Chandra tem participado ativamente da Assembléia Geral da ONU, e é dos poucos representantes das Organizações Não-Governamentais que intervém em ambas Sessões Extraordinárias sobre Desarmamento da Assembléia Geral das Nações Unidas. Graças ao seu prestígio e à sua infatigável atividade, o Movimento Mundial da Paz abarca hoje a 140 países. Desde 1967 realizou vários Congressos e Conferências internacionais contra a guerra nuclear, em favor da paz, do desenvolvimento, do desarmamento e em prol do progresso social. No momento atual, à frente do Conselho Mundial da Paz, desenvolve intensa atividade junto à todos os povos e governos no sentido de que cessem todas as experiências atômicas — condição imprescindível para que cesse no mundo inteiro o fabrico de novas armas atômicas e, muito especialmente, as que se dedicam à guerra no cosmos.

Enfim, o sr. Romesh Chandra, que dedicou toda sua atividade e sua vida à luta pela paz mundial, é porta-voz das mais elevadas condecorações, como a "Ordem de Lênin", máxima distinção da União Soviética, a medalha de Ouro das Nações Unidas por sua destacada contribuição à luta contra o apartheid, a "Ordem José Martí", máxima distinção da República Cubana e numerosas outras de governos tanto de países do campo socialista como do campo capitalista.

É em homenagem aos seus elevados méritos, como infatigável lutador em defesa da paz mundial, que esta Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, cujos membros traduzem os sentimentos democráticos e as aspirações de paz do povo fluminense, concedem ao insígnie internacionalista, cidadão do mundo e destacado lutador pela paz no mundo, Romesh Chandra, o diploma de cidadão do Estado do Rio de Janeiro.

Em 28 de agosto, 85.

Presentes neste Ato mais os seguintes membros Vice-Presidentes do Conselho Mundial da Paz:

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Inclusão 02/01/2007