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Devido à diversidade existente em África de condições políticas, sociais e económicas, não é tarefa fácil generalizar em termos políticos e sócio-económicos. Encontram-se ainda vestígios dum estádio comunitário e feudal e, em determinadas regiões do continente, o modo de vida tradicional mudou muito pouco. Por outro lado, houve regiões que atingiram um nível elevado de industrialização e urbanização. No entanto, apesar da diversidade sócio-económica e política, é possível distinguir determinados problemas e situações que parecem comuns aos Estados africanos, derivados dum passado tradicional, aspirações comuns e experiência compartilhada sob o domínio do imperialismo, colonialismo e neocolonialismo. Não há nenhuma parte do continente que não tenha conhecido a opressão e a exploração e que não esteja implicada no processo da revolução africana. Por todo o lado se torna cada vez mais evidente a unidade de propósitos dos povos de África, e não há nenhum dirigente que, para manter o seu poder, não pretenda pelo menos ter aderido à causa dos objectivos revolucionários de libertação, unificação e socialismo.
Assim, chegou a altura de passar à fase decisiva do processo revolucionário, em que a luta armada que há pouco começou deve ser agora intensificada e coordenada a níveis estratégicos e tácticos.
Ao mesmo tempo, é preciso atacar com determinação a minoria reaccionária, fortemente entrincheirada entre os nossos povos. Porque a sucessão de golpes de Estado reaccionários, perpetrados na África ocidental e central, e a eclosão de guerras civis demonstram claramente a importância e a natureza da luta de classes em África e a relação existente entre os interesses do neocolonialismo e os da burguesia local.
A luta de classes está no cerne do problema. Os comentadores políticos e sociais tiraram durante demasiado tempo conclusões erradas, postulando que a África constituía uma entidade distinta, à qual não se aplicavam os critérios económicos e políticos válidos para o resto do Mundo. Espalharam-se mitos tais como os do «socialismo africano» e do «socialismo pragmático», sugerindo a existência de uma ou mais variedades de socialismo exclusivamente africano; e quanto à nossa história, escreveram-se teorias sócio-antropológicas e históricas, em termos que pareciam ignorar que a África teve um passado histórico pré-colonial. Uma destas distorções sugeria que a luta de classes, existente noutras partes do Mundo, não se verificava em África. Nada está mais longe da verdade. A África é actualmente o cenário duma violenta luta de classes.
Basta olharmos à nossa volta. Como por toda a parte, trata-se fundamentalmente duma luta entre opressores e oprimidos.
A revolução africana é parte integrante da revolução socialista mundial, e assim como a luta de classes é base do processo revolucionário mundial, está também na base da luta dos operários e camponeses de África.
Durante o período precedente à independência as divisões de classe foram momentaneamente esquecidas, período esse em que parecia existir unidade nacional e todas as classes se ligaram com o objectivo de expulsar o poder colonial. Foi esta época que inspirou a tese segundo a qual a África não conhecia divisões sociais e não havia luta de classes numa sociedade tradicional africana comunitária e igualitária. Esta teoria provou-se falsa. A independência fez emergir de novo, por vezes até com maior intensidade, as divisões sociais, temporariamente esquecidas na luta pela liberdade política, sobretudo nos Estados recentemente independentes de tendência socialista.
Porque a burguesia africana, classe que se desenvolveu sob o colonialismo, é a mesma classe que beneficia, depois da independência, do neocolonialismo. O seu interesse reside na manutenção das estruturas sócio-económicas capitalistas. A sua aliança com o neocolonialismo e o capital financeiro monopolista internacional coloca-a em conflito directo com as massas africanas, cujas aspirações só serão realizadas num socialismo científico.
Ainda que numérica, financeira e politicamente inferior à burguesia dos países super-industrializados, a burguesia africana dá a impressão de ser uma força económica devido à sua estreita ligação com os interesses capitalistas financeiros e comerciais das potências estrangeiras. São numerosos os membros da burguesia africana que, sendo empregados em firmas estrangeiras, têm um interesse directo na manutenção da exploração económica de África pelas potências estrangeiras. Outros, ocupando postos na função pública, em sociedades mineiras, empresas, exército, polícia e nas profissões liberais, reclamam-se do capitalismo devido à sua origem de classe, à sua educação no estrangeiro e à sua posição privilegiada. Esses veneram as instituições e organizações do mundo capitalista e copiam os seus antigos mestres coloniais, de quem estão bem decididos a preservar o estatuto e o poder que herdaram.
A África possui, assim, um núcleo central de burguesia, pouco diferente do dos colonizadores pelas posições privilegiadas que ocupa, e que constitui uma minoria egoísta, interesseira, reaccionária, entre vastas massas exploradas e oprimidas. A despeito do seu aparente poder, que repousa no apoio que recebe do neocolonialismo e do imperialismo, esta burguesia é extremamente vulnerável. Basta que este elo vital seja rompido para que perca as suas posições privilegiadas. E perante a tomada de consciência da luta de classes na África e o levantamento crescente das massas operárias e camponesas, a burguesia africana e seus acólitos disfarçados, neocolonialistas e imperialistas, vacilam.
Inclusão | 22/03/2014 |