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A acção política atinge o seu ponto mais alto logo que o proletariado, sob a direcção dum partido de vanguarda guiado pelos princípios do socialismo científico, consegue derrubar o sistema de classes: a revolução atingiu então o auge.
As bases duma revolução são lançadas logo que as estruturas orgânicas e condições numa determinada sociedade levaram as massas a desejar ardentemente o derrube completo das estruturas dessa sociedade. Embora não haja dogmas estabelecidos rigorosamente quanto à revolução socialista, já que a história não se repete, a experiência provou que, nas condições da luta de classes, a revolução socialista não se pode realizar sem recorrer à violência. A violência revolucionária é um princípio fundamental das lutas revolucionárias. Porque as elites privilegiadas não cederão o Poder a não ser que a isso sejam obrigadas; mesmo quando aceitam efectuar reformas, não cederão nunca apenas porque a sua posição está ameaçada. Somente a acção revolucionária as poderá derrubar.
Não há nenhum acontecimento histórico que não tenha sido conseguido à custa de violentos esforços e vidas humanas. Ficarão desiludidos aqueles que esperam que a passagem do modo de produção capitalista ao modo de produção socialista se fará sem o recurso à violência. Porque a mudança qualitativa inerente à revolução socialista é muito mais profunda do que a que provocou a passagem do feudalismo ao capitalismo. Os revolucionários socialistas querem uma transformação total da sociedade e a abolição do sistema de classes. Pelo contrário, o declínio do feudalismo trouxe a introdução de novas estruturas sociais, através das quais o dinheiro, e não os títulos de propriedades, se tornou a condição fundamental do poder e do privilégio. A revolução socialista opõe-se aos conceitos elitistas e pretende a abolição do sistema de classes, assim como a abolição do racismo. Os revolucionários socialistas lutam pela instauração de um Estado que garanta a realização das aspirações das massas e lhes assegure uma participação em todos os escalões do governo.
Numa sociedade capitalista a liberdade é o direito de fazer o que a lei permite, no interesse da classe burguesa que está no Poder. Ora o capitalismo, quanto mais se desenvolve, mais anárquico se torna. A revolução socialista é então o resultado lógico e inevitável.
Nos países em que o desenvolvimento capitalista e industrial está no seu começo, e onde a burguesia representa uma minoria da população, o proletariado está em condições de, através de uma tomada do Poder, instaurar o regime socialista. Sob a direcção dos revolucionários socialistas, a África pode passar de um estádio de propriedade burguesa-capitalista a um estádio em que os meios de produção são distribuídos segundo um modo de propriedade socialista-comunista. Mas a luta revolucionária não poderia contar com a participação da burguesia e da pequena classe média, porque, a despeito da sua participação nas lutas de libertação nacional, elas tentarão sempre impedir a criação de um Estado socialista, para conservar os seus haveres. São fiéis ao capitalismo e a sua sobrevivência depende do apoio que recebem do imperialismo e do neocolonialismo. Uma transformação total da sociedade só será realizada com o derrube da burguesia pela revolução socialista.
Há certos factores que fazem acelerar o processo da revolução socialista: o mais importante é o desenvolvimento capitalista e a industrialização, que, ao provocar o aumento da classe operária, favorece o aparecimento de futuros dirigentes da revolução proletária. Entre outros factores estão o abandono das classes dirigentes pelos intelectuais, os governos ineficazes e a incompetência política da classe burguesa no Poder. O exemplo e a ajuda das outras revoluções socialistas favorecem igualmente o avanço do socialismo. Há por fim a influência dos conflitos sócio-raciais e dos antagonismos de classes.
No século XX, é nos países menos industrializados — países com um passado marcado pela exploração imperialista, colonialista e neocolonialista — que tiveram lugar as tomadas de poder mais violentas. Estas mudanças violentas não podem ser consideradas como lutas pelo Poder entre diversas elites: representam acções de classes. No caso da revolução socialista, trata-se de uma tomada de poder pelo proletariado. Mas no caso de golpes de Estado reaccionários, dá-se o derrube, pela burguesia, de um governo de tendência socialista ou então uma luta pelo Poder entre diversas facções da burguesia.
Em África, na Ásia e na América Latina, a ebulição económica, política e social deve ser explicada no contexto da revolução socialista mundial, porque hoje em dia o processo revolucionário reúne três correntes: o sistema socialista mundial, os movimentos de libertação dos povos de África, Ásia e América Latina e os movimentos operários dos países industrializados capitalistas.
Os povos dos países menos industrializados têm um papel estratégico a desempenhar no processo revolucionário, devido à sua experiência do imperialismo, do colonialismo e do neocolonialismo. Vêem os problemas tanto mais claramente quanto os processos de produção e distribuição não tiverem sido ainda obscurecidos pelas manobras falaciosas do «estado da prosperidade» e pela corrupção capitalista.
A causa da revolução proletária internacional é parte integrante das lutas de libertação do mundo em vias de desenvolvimento, centro dos antagonismos de classes na época contemporânea. Os países do Terceiro Mundo tornaram-se os «pontos quentes» da revolução mundial, dando golpes directos e mortais no imperialismo.
O emburguesamento de certos sectores da classe operária internacional e o economismo de certos dirigentes proletários socialistas tornam as lutas revolucionárias socialistas dos países em vias de desenvolvimento extremamente importantes; assim, de certo modo, a luta revolucionária socialista desenvolveu um elemento sócio-racial. Ora, se seria perigoso não reconhecer um tal factor, é no entanto preciso não perder de vista o objectivo fundamental da revolução socialista: a luta de classes.
O mundo em vias de desenvolvimento não é um bloco homogéneo oposto ao imperialismo. O conceito de «Terceiro Mundo» é ilusório. Na verdade, está em grande parte dependente do imperialismo. A luta contra o imperialismo tem lugar no interior e no exterior do mundo imperialista: trata-se de uma luta entre o socialismo e o capitalismo, e não entre um chamado «Terceiro Mundo» e o imperialismo. O eixo do problema é a luta de classes. Além disso, é impossível edificar o socialismo no mundo em vias de desenvolvimento isoladamente do sistema socialista mundial.
Inclusão | 22/03/2014 |
Última atualização | 14/04/2014 |