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Existe uma estreita relação entre desenvolvimento sócio-político, luta de classes e história das ideologias. Em geral os movimentos intelectuais reflectem fielmente as tendências fundamentais dos desenvolvimentos económicos. Por outro lado, nas sociedades de tipo comunitário, onde praticamente não existe sistema de classes, as actividades humanas relacionadas com a produção têm uma influência directa na psicologia dos indivíduos. Além disso é indispensável ter em conta a psicologia das classes antagónicas.
Cada uma dessas classes possui os seus hábitos sociais e de vestuário, as suas instituições e as suas organizações. A partir da aparência geral, comportamento e vestuário, é possível identificar o meio de origem de um indivíduo.
Cada classe tem também as suas instituições e organizações: as cooperativas e sindicatos, por exemplo, são próprias da classe operária, enquanto que as associações profissionais, câmaras de comércio, bolsas de valores, clubes Rotary, as lojas franco-maçónicas, etc., são instituições burguesas.
As ideologias exprimem a consciência e os interesses das classes: o liberalismo, o individualismo, o elitismo e a «democracia» burguesa — que não passa de uma ilusão — são exemplos de ideologia burguesa. O fascismo, o imperialismo, o colonialismo e o neocolonialismo são igualmente a expressão do pensamento, das aspirações políticas e económicas burgueses. O socialismo e o comunismo, pelo contrário, são as ideologias da classe operária, de quem reflectem as aspirações e as instituições políticas e económicas.
Expressão típica da ideologia burguesa é a teoria da liberdade considerada como a ausência de restrições, o laissez faire, a livre iniciativa, o «cada um por si». Esta teoria define o papel de todo o governo enquanto defensor da propriedade privada e do direito do indivíduo a possuir meios de produção e distribuição. A liberdade limita-se ao campo político e não toca o campo económico. O capitalismo — cuja única lei é o seu próprio interesse — é sinónimo de liberdade económica. Inseparável desta concepção de liberdade é o ponto de vista segundo o qual a riqueza e a pobreza correspondem a habilidade e inépcia. A esta concepção burguesa de liberdade associa-se o culto burguês de «Lei e Ordem» sem ter em consideração quem faz a lei, nem os interesses do povo, mas, pelo contrário, os de uma classe, de uma elite.
Em resposta à crescente violência revolucionária no mundo nestes últimos anos, a reacção lançou uma nova terminologia enganadora. Os mitos da «maioria silenciosa» e do «cidadão médio» são outros exemplos que se aplicam a um espírito contra-revolucionário e a favor do status quo. Na realidade, a classe operária, que é a maioria nas sociedades capitalistas, está longe de ser silenciosa: grita bem alto a sua intenção de levar a cabo uma transformação radical da sociedade.
Desejosa de adoptar as teorias e tendências da burguesia europeia, a burguesia africana confundiu frequentemente classes e raças. Não conhecendo suficientemente a sociedade europeia, é incapaz de discernir as características de cada classe, tanto no comportamento como na linguagem, nos hábitos de vestuário, em resumo, tudo o que na Europa denuncia o meio de origem. Membros da classe operária europeia vivem como burgueses nas colónias.
Apesar do nível de vida que levam (têm carros, criadas, as suas mulheres estão livres dos trabalhos domésticos), as suas origens sociais não podem escapar à perspicácia dos seus compatriotas.
Aspirando a um estatuto social elevado, logo a seguir à independência a burguesia indígena pôs-se a imitar o modo de vida dos seus antigos senhores coloniais, sem saber que imitava com efeito uma raça, e não uma classe. A burguesia africana adoptou, pois, um modo de vida que, sendo o da antiga classe dirigente, não é verdadeiramente o da burguesia europeia. Tomou os hábitos de um grupo racial, numa situação colonial. Neste sentido, a burguesia africana não faz mais do que perpetuar a relação senhor-servo do período colonial.
Adoptando servilmente as ideologias da burguesia europeia, a burguesia africana criou certos mitos, desenvolvidos num contexto africano, que reflectem bem a mentalidade burguesa africana. A pretensa teoria da «negritude» é disso o exemplo mais flagrante. Esta pseudoteoria pretende conciliar a classe média africana, dominada por estrangeiros, com a ideologia burguesa francesa. Esta concepção contra-revolucionária, irracional e racista, imbuída dos valores ocidentais, reflecte bem a confusão que reina no espírito de certos intelectuais africanos de expressão francesa; e faz, além disso, uma descrição errónea da personalidade africana.
O «socialismo africano» é uma outra concepção inconsequente e sem fundamentos, que pretende demonstrar a existência de uma forma de socialismo exclusivamente reservada à África e que se baseia nas estruturas comunitárias e igualitárias da sociedade africana tradicional.
O mito do socialismo africano é utilizado com o fim de negar a luta de classes e espalhar a confusão no espírito dos verdadeiros militantes socialistas. É utilizado pelos dirigentes africanos que se vêem obrigados — no clima da revolução africana — a adoptar uma teoria socialista, mas que estão, ao mesmo tempo, profundamente comprometidos com o capitalismo internacional e não têm a intenção de promover um desenvolvimento económico verdadeiramente socialista.
Se a revolução socialista não passou ainda a ser um dogma, na medida em que a forma que vier a assumir será determinada por circunstâncias específicas num período histórico definido, é evidente que não pode assentar sobre compromissos. Os princípios do socialismo científico são imutáveis e implicam a socialização dos meios de produção e distribuição. Todos aqueles que, por oportunismo político, se dizem socialistas e estendem a mão ao imperialismo e neocolonialismo servem os interesses da burguesia. Induzidas momentaneamente a erro, as massas acabarão por tomar consciência disso e desmascarar esse pretenso socialismo, tornando assim possível a aproximação duma autêntica revolução socialista.
Inclusão | 22/03/2014 |