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Camaradas e caros colegas, termina assim hoje, mais um processo na vida da União dos Escritores Angolanos: o acto em que nós empossamos, depois de uma eleição regular novos corpos gerentes.
Um período de actividades para todos os escritores vai iniciar-se após a tomada de posse dos corpos gerentes eleitos no dia 29 de Dezembro de 1978 e espero que em Março de 1981 possamos fazer um balanço muito positivo deste período que se espera de prospecção e de produção.
A direcção da nossa União, tem-se esforçado por dinamizar a produção literária, num período em que se confundem ainda no conteúdo, um futuro angolano, africano e universal da literatura com a necessidade política de nacionalismo; ou o da realização política do escritor com a própria política.
Deste modo, a tarefa para os novos corpos gerentes, que não terão simplesmente o sentido de encargos administrativos, mas também de análise e de crítica, não será muito fácil e creio que o debate será em breve aberto, para a apreciação ao nosso trabalho, dentro do contexto verdadeiro da Nação Angolana, ou melhor: do Povo Angolano.
Por isso e em nome da mesa da Assembleia Geral, me apraz dirigir parabéns ao executivo eleito para a gerência actual, que terá tarefas grandiosas no sentido da dinamização da cultura angolana e desejar-lhes um bom trabalho.
Penso que é necessário falar de cultura antes de literatura. E vamos aproveitar esta excelente ocasião, para examinar alguns aspectos essenciais sobre a nossa cultura.
Felizmente, já se criou entre os intelectuais angolanos, hesitação e dúvida sobre se a cultura portuguesa que serviu algumas camadas angolanas desligadas do seu povo é ou não aquela que deveria ser apresentada como a emanação cultural do povo angolano.
Essa dúvida, levar-nos-á à afirmação.
Evidentemente, a cultura não pode inscrever-se no chauvinismo, nem pretender evitar o dinamismo da vida.
A cultura evolui com as condições materiais e a cada etapa, corresponde uma forma de expressão e de concretização dos actos culturais. A cultura resulta da situação material e do estado do seu desenvolvimento social.
No contexto angolano, a expressão cultural resulta senão de cópia, e por enquanto pelo menos do resultado de uma aculturação secular, pretendendo reflectir a evolução material do povo, que de independente se tornou submisso e completamente dependente para voltar a ser independente em novas condições.
Há que recorrer de novo à nossa realidade, sem chauvinismos, e sem renunciarmos à nossa vocação universalista.
O chauvinismo cultural é tão prejudicial como o foi, logo a seguir à Revolução de Outubro, o conceito de cultura proletária que Lenine tanto combateu, insistindo na ideia de o país soviético ter forçosamente de fruir, e aproveitar-se para a elaboração de uma nova cultura socialista, voltada para as massas, do património cultural herdado, ou mais tarde, do conceito de realismo socialista.
A cultura do povo angolano, é hoje constituída por pedaços que vão das áreas urbanas assimiladas as áreas rurais apenas levemente tocadas pela assimilação cultural europeia. E porque as capitais como a nossa, agigantadas pela burocracia exercem um efeito mágico sobre a maior parte do País, existe a tendência para a imitação, claramente visível no aspecto cultural. Daí uma responsabilidade muito especial da União dos Escritores Angolanos.
A responsabilidade e as tarefas são grandes.
Por onde começar? Ou por onde continuar?
Se os estimados camaradas e colegas me permitem, direi que não podemos cair em esquemas ou estereótipos como os teóricos do realismo socialista. A par da nossa capacidade nacionalista, teremos de intervir de modo a inscrever-nos no mundo, à medida que formos assumindo a realidade nacional.
Na nossa primeira fase, e do ponto de vista cultural, há que analisar. Não adaptar mecanicamente. Há que analisar profundamente a realidade e utilizar os benefícios da técnica estranha, só quando estivermos de posse do, património cultural angolano. Desenvolver a cultura não significa submete-la a outras.
Não possuímos ainda a suficiente produção material para nos ocuparmos intensivamente da produção espiritual. Precisaremos de mais tempo, mas, Camaradas Escritores, esse tempo não pode ser dispensado a uma acomodação a temas e formas importadas.
A cultura angolana é africana, é sobretudo angolana e por isso sempre consideramos ultrajante a maneira como o nosso povo foi tratado por intelectuais portugueses. Se não possuímos ainda a capacidade de transformar o escritor em profissional da literatura ou da pesquisa cultural, nós tenderemos para ai, e algumas propostas feitas pelo Secretariado poderão ser atendidas para períodos excepcionais de férias de fins-de-semana activos.
Eu creio que dentro em breve, o escritor, o artista, serão apenas escritor e artistas, para se poderem dedicar aos problemas que afloro neste fim de Assembleia de posse. Mas é, no meu entender, necessário aprofundar as questões que derivam da cultura das várias nações angolanas, hoje fundidas numa, dos efeitos da aculturação dado o contacto com á cultura portuguesa e a necessidade de nos pormos de acordo sobre o aproveitamento dos agentes populares da cultura e fazermos em Angola uma só corrente compreensiva da mesma.
Como o botânico, ou o zoólogo, o cientista ou o filósofo, reunamos os elementos todos, analisemos, e cientificamente, dentro dos, próximos dois anos apresentemos os resultados. E chegaremos à conclusão que Angola tem uma característica cultural própria, resultante da sua história ou das suas histórias. Seria bom – mas se não for possível, não choremos por isso – que o próximo Congresso do Partido pudesse já contar com as opiniões da União dos Escritores sobre esta matéria.
Quanto a outros agentes da cultura, como os artistas plásticos e mesmo, nas nossas condições actuais, os órgãos de difusão de notícias junto das massas populares, penso ser normal que a nossa União assuma a responsabilidade de orientação a dar aos criadores e difusores de ideias, função que os organismos do Partido apenas podem definir através de textos, e que o organismo estatal poderá dinamizar, fazendo de si próprio o veículo dos resultados a obter dos organismos pensantes.
É necessário, o mais alargado possível debate de Ideias, o mais amplo possível movimento de Investigação, dinamização e apresentação pública de todas as formas culturais existentes no País, sem qualquer preconceito de carácter artístico ou linguístico.
Façamos os artistas populares criar! Seria necessário longo tempo para dizer aqui que para falar para o povo angolano, é preciso ser um elemento do povo angolano. Não é questão de língua, mas de qualidade nacional.
Caros colegas e camaradas:
Se se prolonga a atitude alheia em relação ao nosso povo, não será possível interpretar o espírito popular, saído do estudo, e da vivência.
Narrar a interpretação política do momento é fácil, mas chegar ao íntimo do pensamento de várias ex-nações é-o muito menos fácil.
Vamos no entanto tentar libertar os artistas das cargas do passado e torná-los aptos para uma alta atitude compreensiva de todo este nosso processo de reconstrução de uma cultura.
Desejo mais uma vez recordar a necessidade de estar com os artistas populares. Não para depois interpretar folclore mas para compreender e poder interpretar a cultura, para os produzir.
Repetir os aspectos importados de cultura, é um acto que ninguém certamente aprova. E já que tenho de exprimir uma opinião gostaria que tudo quanto fosse expresso pelos agentes mais capazes da cultura angolana, representasse o desejo e as formas de expressão do povo.
Com, o fora a independência, como o é a linha política do Partido, as formas de actuação do Executivo, e por outro lado, o será a actividade espiritual do Povo.
Sugiro aos Caros Camaradas e Colegas, que sejam aproveitadas ao máximo as condições para que os escritores trabalhem e produzam e observem cada canto do espaço geográfico nacional, vivendo a vida do Povo. As condições materiais serão sempre criadas na medida do possível, até que possamos fazer do escritor, do artista, um profissional puro da cultura ligada à realidade sociopolítico.
Por outro lado, espero que as condições criadas possam ajudar a formação de uma literatura angolana abraçando as circunstâncias políticas e principalmente a própria vida do Povo.
Desejo ainda endereçar a todos os empossados as minhas sinceras felicitações.
A Luta Continua!
A Vitória é Certa!
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Inclusão | 13/05/2016 |