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Da Índia, segundo país mais populoso do mundo com mais de 1,2 bilhão de habitantes e uma das grandes economias capitalistas chamadas “emergentes”, o público brasileiro pouco recebe de informação e o que vem oriunda da mídia burguesa trata-se de fatos superficiais sobre economia e excentricidades de uma sociedade ainda dividida em castas. Porém, é justamente deste país caricaturizado por nossa mídia é que vem um dos processos revolucionários mais avançados, em uma época em que a propaganda ideológica da burguesia se esforça para fazer parecer que o socialismo é algo que ficou no passado e que os povos já não se levantam em armas pela sua libertação.
A Revolução Indiana, um dos principais processos de luta armada de camponeses e operários em curso no mundo hoje, dirigido pelo Partido Comunista da Índia (Maoísta) ainda é pouco conhecida pelo movimento comunista brasileiro. Como nos ensinou o camarada Mao, “uma faísca pode incendiar toda a pradaria”; e foi justamente esse o papel das revoltas camponesas de Naxalbari há 50 anos para iniciar o processo que nasceu da luta contra o revisionismo e da inspiração da Revolução Chinesa e o grande timoneiro Mao Tsé-tung. Aplicando o pensamento Mao Tsé-tung à realidade indiana e travando o justo combate contra a influência do revisionismo soviético no movimento comunista da Índia que travava a luta revolucionária no país, Charu Mazumdar escreveu para o debate interno do Partido o que entrou para a história como os “Oito documentos históricos”. Estes documentos sintetizam o processo de luta ideológica e avanço dos comunistas indianos.
Por ocasião dos 50 anos completados pela revolta naxalita que deu início ao avanço da Guerra Popular, o selo Edições Nova Cultura, criação da União Reconstrução Comunista, publica o seu primeiro livro acerca da revolução na Índia, com o registro dos oito documentos fundamentais para a compreensão do momento que antecedeu a explosão da revolta camponesa e sua correta direção para avançar como avançou.
1967 é o ano que marca o início das revoltas em Naxalbari (Bengala Ocidental), onde milhares de camponeses pobres sem terra e operários armados, dirigidos pela linha revolucionária do então Partido Comunista da Índia (Marxista), declaram guerra contra o Estado indiano, à grande burguesia e os latifundiários. Eram tempos de grande avanço da luta revolucionária dos povos. A luta pela construção socialista avançava a passos largos com a Grande Revolução Cultural Proletária lançada por iniciativa de Mao Tsé-tung. A luta contra o revisionismo na Índia também fez com que os revolucionários, marxista-leninistas, demarcassem campo com os oportunistas do Partido Comunista Indiano, fundando o Partido Comunista da Índia (Marxista). Como não poderia deixar de ser, mesmo após a fundação do PCI (Marxista) a luta de classes se fez presente no seio dessa organização, e é justamente em tal momento que os debates sobre a Guerra Popular Prolongada atingem o seu auge. Logo uma linha oportunista se manifesta no seio do PCI (Marxista), que escolhe o caminho eleitoral em detrimento do caminho da Guerra Popular Prolongada. A frente do combate contra o oportunismo encontra-se Charu Mazumdar, líder comunista indiano que liderou a “fração vermelha” no interior do PCI (Marxista). E é no ano de 1967 que estoura a Guerra Popular na Índia. Os comunistas indianos, defensores do caminho da Guerra Popular Prolongada, defendiam o estabelecimento de uma Frente Única que abrigasse em seu interior todas as classes democráticas (proletariado, camponeses, pequena-burguesia e burguesia nacional) dirigidas pelo proletariado, aplicando a ditadura conjunta e desenvolvendo a Revolução de Nova Democracia. Amplos contingentes de camponeses se unem aos revolucionários e passam a desenvolver tomadas de terras contra latifundiários, formando comitês camponeses que logo se transformaram em guardas armadas.
No ano de 1956, o PCI (Marxista), iniciara um processo de trabalho de base enviando um grupo de militantes que se chamava “Grupo Siliguni” para o distrito de Darjeeling, na região norte do estado de Bengala Ocidental. Estes militantes produziram panfletos que incitavam o campesinato pobre a enfrentar com armas nas mãos os latifundiários locais. O trabalho de base realizado pelos comunistas naquela região não tardou a produzir seus primeiros resultados: no dia 3 de março de 1967, um grupo de camponeses cercou um lote de terra na via de Naxalbari, em Bengala Ocidental, marcaram o território com bandeiras vermelhas e colheram a plantação. Na ocasião, o PCI (Marxista) tentou apaziguar o movimento, mas não obteve sucesso. Então, os dirigentes do partido, decidiram enviar a polícia para a região, com a finalidade de liquidar com aquele movimento que estava em ascensão. Como resultado disso, em 23 de maio de 1967, os camponeses em armas executaram um agente da repressão na vila de Jharugaon. Dois dias após a morte do agente policial, em 25 de maio a polícia do estado de Bengala Ocidental executou 9 mulheres e 2 crianças na vila de Naxalbari.
O povo indiano, submetido a dura exploração pelo capitalismo burocrático, pelo feudalismo e pelo imperialismo, agora via na linha vermelha do PCI (Marxista) uma esperança para mudar radicalmente suas vidas. Em um curto período de tempo, o apoio de grandes contingentes das massas populares indianos à Revolução, fez com que esta modificasse radicalmente várias regiões da Índia. Os revolucionários chegaram a controlar cerca de 2 mil localidades e sua influência chegou até mesmo nas grandes cidades do país. É óbvio que essa poderosa Guerra Popular não agradou em nada os revisionistas e oportunistas que, desde o começo, se colocaram contra ela. Graças à iniciativa de Charu Mazumdar, o proletariado indiano funda, em 1969, o Partido Comunista da Índia (Marxista-Leninista). É óbvio que frente a tais movimentações, as classes dominantes indianas não ficariam quietas. Desencadeiam uma violenta contrarrevolução, que matou e assassinou milhares de revolucionários, camponeses, operários, etc. Indira Gandhi, lacaia do imperialismo, assassinou aproximadamente 10 mil pessoas. Mazumdar, heroico líder do proletariado indiano, foi preso e assassinado em 1972, assim como muitos outros revolucionários de diversos lugares do mundo, que heroicamente tombaram lutando pela revolução proletária.
A intensa repressão desencadeada pelas classes dominantes contra a revolta naxalita fez com que a luta revolucionária do povo indiano sofresse duras provas. O Partido Comunista da Índia (Marxista-Leninista) se divide em diversas frações. O Partido Comunista da Índia (Marxista-Leninista) (Guerra Popular) continua desenvolvendo a luta armada em algumas regiões do país e sofre bastante com a repressão. O Partido Comunista da Índia (Marxista-Leninista) Bandeira Vermelha, que buscava fortalecer sua base de massas e posteriormente retomar o caminho da luta armada, teve a grande maioria dos seus líderes assassinados pelo Estado indiano. O PCI (ML) (GP), na década de 90, aceita fazer parte de um processo de paz com o velho Estado indiano, porém isso contribuiu para que várias das suas lideranças e militantes fossem assassinados. O PCI (ML) (GP) respondeu a tais ataques, desenvolvendo novamente a Guerra Popular. Em 1994 consolidam posições em diversas localidades do país, desenvolvendo ataques contra postos policiais, capturando armamentos e recompondo suas esforças. Em todas as zonas libertadas pelo Partido, foi abolido o medieval sistema de castas, realizada a reforma agrária e as mulheres se libertaram das tradições feudais e semifeudais.
A Guerra Popular passa a avançar sob a liderança e influência de várias organizações revolucionárias dispersas: Partido Comunista da Índia (Marxista-Leninista) Naxalbari, Centro Comunista Maoísta (CCM) e Centro Comunista Revolucionário da Índia (CCRI). A partir de 2003, essas forças passam por um processo de unidade, primeiro com o CCM e o CCRI, que formam o Centro Comunista Maoísta (Índia) e, depois, a união deste último com o PCI (ML) Guerra Popular, em setembro de 2004, que origina o atual Partido Comunista da Índia (Maoísta). A criação de um único Partido revolucionário para dirigir a Revolução de Nova Democracia do povo indiano representa um momento singular na história da luta revolucionária do país. A partir daí a Guerra Popular, mesmo enfrentando a cruel resistência do Estado reacionário indiano, avança de maneira sólida, fazendo tremer todo o tipo de reacionários.
UNIÃO RECONSTRUÇÃO COMUNISTA
Inclusão | 20/07/2019 |