Escritos sobre a Guerra Civil Americana
Artigos do New-York Daily Tribune, Die Presse e outros (1861-1865)

Karl Marx e Friedrich Engels


Apêndices
Mensagem da Associação International dos Trabalhadores ao presidente Johnson
The Bee-Hive Newspaper, 20 de maio de 1865.


capa

Mensagem D’Associação Internacional dos Trabalhadores

Andrew Johnson, Presidente dos Estados Unidos

Senhor,

O demônio da “instituição particular” para cujo reinado o Sul pegou em armas não poderia permitir a seus adeptos se baterem de maneira honrosa em campo aberto. O que se iniciou pela traição não poderia se concluir senão pela ignomínia.

Da mesma forma que a guerra de Filipe II em defesa da inquisição suscitou um Gerard, a rebelião pró-escravista de Jefferson Davis produziu um Booth.(1)

Não é nosso propósito buscar palavras de luto e horror, uma vez que os corações de dois mundos estão arrebatados de emoção. Mesmo os sicofantas que, ano após ano, dia após dia, realizaram um verdadeiro trabalho de Sísifo para assassinar moralmente Abraham Lincoln e a grande república que ele governava, estão neste momento amedrontados por este ímpeto universal de sentimentos populares e rivalizam entre si para atirar flores da retórica sobre sua tumba aberta. Eles finalmente se deram conta de que Lincoln foi um homem que não se deixava abater pela adversidade, que não se deixava intoxicar pelo sucesso, que perseguiu inflexivelmente seu objetivo elevado, sem jamais comprometer com uma pressa cega sua progressão lenta e ininterrupta, sem jamais se deixar levar pela onda do favor publicado, nem desencorajar pela desaceleração da pulsação popular, temperando suas ações rigorosas com um coração caloroso, iluminando os cenários mais escuros da paixão com o sorriso de seu bom humor e realizando sua obra de gigante com tanta simplicidade e modéstia quanto os soberanos por direito divino se comprazem por fazer pequenas coisas com uma pompa e um esplendor grandiloquentes; em poucas palavras, foi um dos poucos seres humanos que conseguiram se tornar grande sem deixar de ser bons. Com efeito, este homem grande e bravo era tão modesto que o mundo não descobriu seu heroísmo senão após ele ter tombado como mártir.

O sr. Seward foi digno de honra ao se tornar, ao lado de um chefe de tamanha envergadura, a segunda vítima dos demônios infernais do escravismo. Não foi ele quem, em uma época de hesitação generalizada, foi suficientemente sábio e corajoso para predizer que o conflito era inevitável? Não demonstrou ele, nos momentos mais sombrios do conflito, possuir um senso romano do dever: não desacreditando jamais da República e sua estrela? Desejamos de todo coração que ele e seu filho tenham suas saúdes e suas atividades públicas restabelecidas e que recebam suas merecidas homenagens, em menos de noventa dias.

Depois desta terrível Guerra Civil, a qual, por suas vastas dimensões e seu gigantesco teatro de operações, não parece ter durado mais de noventa dias, se comparada às guerras de Cem Anos, de Trinta Anos e de 23 anos que ocorreram no Velho Mundo, é a vós, senhor presidente, que cabe a tarefa de eliminar pela lei o que foi decidido pela espada e de empreender a difícil obra de reconstrução política e de regeneração social.

Um profundo sentimento de sua tarefa formidável irá poupá-lo de qualquer compromisso diante das difíceis tarefas que ainda estão por cumprir. Não esqueça jamais que no início desta nova era da emancipação do trabalho, o povo americano confiou a responsabilidade de sua direção a dois homens do (mundo do) trabalho: Abraham Lincoln e Andrew Johnson.

Assinado em Londres no dia 13 de maio de 1865 pelo Conselho Geral, em nome da Associação Internacional dos Trabalhadores.


Notas:

(1) John Wilkes Booth (1839-1865) assassinou Lincoln em abril de 1865. (retornar ao texto)

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Inclusão: 18/08/2022