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A Câmara Britânica de Comércio acabou de publicar os resultados das exportações dos primeiros seis meses do corrente ano, embora os valores informados das importações incluam apenas os cinco meses que se encerraram em 31 de maio.(1) Comparando os períodos correspondentes dos anos de 1858 e 1859, pode-se verificar que, com pequenas exceções que não merecem menção, as importações britânicas procedentes dos Estados Unidos, no geral, decresceram pelo menos no que diz respeito ao valor, ao passo que as exportações britânicas para o país se elevaram tanto em quantidade quanto em valor. Para ilustrar este fato, extraímos as informações constantes da tabela seguinte dos registros oficiais:
EXPORTAÇÕES BRITÂNICAS PARA OS ESTADOS UNIDOS DURANTE O PERIODO DE SEIS MESES ENCERRADO NO DIA 30 DE JUNHO |
||||
Artigos | Quantidades. | Valor declarado (em libras esterlinas). |
||
1858 |
1859 |
1858 £ |
1859 £ |
|
Algodão (em jardas) | 60.150,771 | 110.360,198 | 1.031,724 | 1.924,951 |
Equipamentos e ferragens (por centenas de unidades) | 35.349 | 78.432 | 242.914 | 534.107 |
Linho (em jardas) | 17.379,691 | 31.170,751 | 515.416 | 961.956 |
Tonéis de ferro gusa | 22.745 | 39.370 | 68.640 | 111.319 |
Barra, parafuso e haste | 21.463 | 56.026 | 175.944 | 457.384 |
Ferro fundido | 9.153 | 19.368 | 113.436 | 238.903 |
Chapas e pregos (por centenas de unidades) | 5.293 | 15.522 | 28.709 | 77.840 |
Tonéis de chumbo | 1.214 | 1.980 | 27.754 | 44.626 |
Óleo, (semente) (em galões) | 411.769 | 930.784 | 50.950 | 111.103 |
Seda manufaturados (em libras) | 47.101 | 134.470 | 51.277 | 144.417 |
Roupas de lã | 76.311 | 81.686 | 273.409 | 421.006 |
Mistura de lã | 13.897,331 | 30.893,901 | 562.749 | 1.188,859 |
Tecido de lã penteada | 185.129 | 489.171 | 229.981 | 758.914 |
Louça e porcelana | - | - | 168.927 | 279.407 |
Miudezas e chapelaria | - | - | 456.364 | 861.921 |
Folha de flandres | - | - | 397.027 | 607.011 |
IMPORTAÇÕES BRITÂNICAS DOS ESTADOS UNIDOS NO PERÍODO DE CINCO MESES ENCERRADO EM 31 DE MAIO | ||
Artigos | 1858 | 1859 |
Trigo | £ 371,452 | £ 7,013 |
Farinha de trigo e farinha de milho | 693,847 | 14,666 |
Algodão (bruto) | 11,631,523 | 10,486,418 |
Os resultados das exportações britânicas apresentam, de forma geral, um crescimento não apenas em 1858, mas também em 1857, como se pode observar na informação seguinte:(2)
EXPORTAÇÕES BRITÂNICAS NOS SEIS MESES ENCERRADOS EM 30 DE JUNHO | ||
Valor declarado (em libras esterlinas) | ||
1857 | 1858 | 1859 |
60.826,381 | 53.467,804 | 63.003,159 |
Uma observação mais atenta, no entanto, deixa claro que não apenas o crescimento total do valor das exportações de 1859, em relação ao ano de 1857, deve-se à extensão do comércio com a Índia, mas também que haveria um declínio de mais de 2000 libras esterlinas no comércio de exportação do Reino Unido — em comparação com o do ano de 1857 — caso a Índia não houvesse contrabalançado aquele déficit. Entretanto, no plano do comércio mundial, ainda não desapareceram todos os traços da crise de 1857. A característica mais importante dos resultados da Câmara de Comércio é, indubitavelmente, o rápido desenvolvimento do comércio britânico com as Índias Orientais. Ilustremos este fato, utilizando, em primeiro lugar, as estatísticas oficiais:
1856 | 1857 | 1858 | 1859 | |
Cerveja | 210,431 | 130,213 | 474,438 | 569,398 |
Algodão, chita e cia | 2.554,976 | 3.116,869 | 4.523,849 | 6.094,433 |
Fio de algodão | 579.807 | 540.576 | 967.332 | 1.280,435 |
Louça de barro e porcelana | 30.374 | 23.521 | 43.975 | 43.195 |
Artigos de armarinho e chapelaria | 39.854 | 70.502 | 77.319 | 105.723 |
Ferragens e talheres | 84.758 | 101.083 | 139.813 | 153.423 |
Selaria e arreios | 12.339 | 15.587 | 35.947 | 19.498 |
Máquinas, motores a vapor e de outros tipos(3) | 37.503 | 54.074 | 59.104 | 100.803 |
|
156.028 | 313.461 | 170.959 | 179.255 |
Ferro, barra, ferrolho e haste (para uso exclusivo das estradas de ferro) | 506.201 | 228.838 | 166.321 | 172.725 |
- | 272.812 | 475.413 | 578.749 | |
Ferro ferroviário, ferro forjado (exclusive para estradas de ferro) | 266.355 | 217.484 | 192.711 | 242.213 |
Cobre—em estado bruto | 62.928 | 34.139 | 9.018 | 51.699 |
Chapas e pregos | 144.218 | 228.325 | 318.381 | 205.213 |
Sal | 23.995 | 31.119 | 21.849 | 4.468 |
Artigos de papelaria | 66.495 | 79.968 | 86.425 | 89.711 |
Roupas de lã | 96.045 | 166.509 | 202.076 | 174.826 |
Total | 4.872,307 | 5.625,080 | 7.964,930 | 10.065,767 |
Recordemos que, durante cerca de 16 anos — entre 1840 e 1856 — as exportações britânicas para a Índia estiveram, no geral, estagnadas; ainda que registrassem por vezes um pequeno aumento, em outras ocasiões, desceu abaixo da cifra de 8000 libras esterlinas. É surpreendente constatar que este comércio, outrora estacionário, dobrou no curto intervalo de dois anos e que este súbito progresso teve lugar no curso de uma atroz Guerra Civil.(4) A indagação sobre essa expansão do comércio dever-se à circunstâncias temporárias ou a um crescimento genuíno da demanda Indiana deriva de seu interesse peculiar na presente conjuntura das finanças indianas, que obrigam o governo britânico a solicitar ao parlamento autorização para a contratação de um novo empréstimo para os indianos em Londres, o qual concomitantemente induz até mesmo The London Times a questionar se afinal de contasa Inglaterra não deveria se confinar às três velhas províncias e devolver o restante da península ao governo dos próprios nativos.(5)
Com a escassa documentação que temos diante de nós, seria impossível chegar a um juízo categórico quanto ao caráter desta súbita expansão das exportações britânicas para a Índia. Porém, todos os dados conhecidos nos inclinam à opinião de que circunstâncias transitórias dilataram, por assim dizer, aquele comércio para além de suas dimensões orgânicas. Em primeiro lugar, somos incapazes de descobrir qualquer movimento peculiar nas importações britânicas procedentes da Índia que pudesse conduzir a um incremento das exportações daquele país. Houve crescimento em alguns artigos, mas foi praticamente compensado pelo decréscimo em outros e, de maneira geral, as oscilações das exportações indianas são fracas demais para explicar, de uma maneira ou de outra, as mudanças repentinas nas exportações para lá. A Guerra Civil, portanto, deve ter ajudado os ingleses a explorar países anteriormente pouco conhecidos, tendo o soldado, deste modo, preparado o caminho para o comerciante. Ademais, vem ocorrendo na Índia, nos últimos anos, importação e acumulação excessiva de prata, fazendo que mesmo os hindus, de certo modo vivificados pelas cenas de excitação que acabaram de se desenrolar, fossem devassados em sua mania de entesouramento e levado, até certo ponto, a gastar a prata em lugar de enterrá-la. Ainda assim, não temos segurança para enfatizar demais tais hipóteses, especialmente porque, por outro lado, nos salta aos olhos o fato positivo representado pelo aumento dos gastos governamentais extraordinários ao montante de 14.000 libras esterlinas. Este estado de coisas, conquanto seja suficiente para explicar o crescimento repentino do comércio de exportação da Inglaterra com a Índia, dificilmente pode sugerir uma continuação prolongada deste novo movimento. O efeito mais duradouro deverá ser a completa destruição da indústria nativa da Índia, visto que, como o leitor pode constatar através das informações da última tabela, o superávit das exportações britânicas para a Índia se deve principalmente à invasão dos algodões e fios de algodão britânicos. O excesso de negociação por parte de Manchester também deve, em alguma medida, ter contribuído para amplificar os números da tabela de exportação britânica.
Notas:
(1) "Accounts Relating to Trade and Navigation for the Six Months Ended June 30, 1859”; “Real Value of the Principal Articles Imported. An Account of the Computed Real Value of the Principal Articles of Foreign and Colonial Merchandise Imported in the Five Months Ended 31st May 1859”, The Economist, No. 831 (supplement), 30/07/1859. (retornar ao texto)
(2) “The Board of Trade Returns for the Half-Year Ending June 30, 1859”, The Economist, No. 831, 30/06/ 1859. (retornar ao texto)
(3) As cifras desta linha faltam no New-York Daily Tribune e foram incluídas aqui de acordo com o The Economist, No. 831, 30/07/ 1859. (retornar ao texto)
(4) Referência à insurreição Indiana de 1857-1859 contra o domínio britânico. Nos anos 1857-1859, a Índia foi o cenário de uma grande insurreição popular contra os britânicos, a qual foi deflagrada na primavera de 1857 no seio das unidades de Sipaios do exército de Bengala e se espalhou por extensas áreas do norte e do centro do país. Sua força principal esteve entre os camponeses e os artesãos urbanos pobres. Dirigida pelos senhores feudais locais, acabou derrotada devido à falta de unidade do país, às diferenças de casta e de religião e também graças à superioridade técnica e militar dos colonizadores. (retornar ao texto)
(5) The Times, No. 23375, 3/8/ 1859 (artigo principal). (retornar ao texto)
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