Extracto dos Comentários ao Livro de Bakúnine «Estabilidade e Anarquia»[N294]

Karl Marx

Abril de 1874

Transcrição autorizada
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Primeira Edição: Escrito por Marx em 1874-princípios de 1875. Publicado pela primeira vez na revista Letopisi marksrisma, n.° 11, 1926.
Fonte: Obras Escolhidas em três tomos, Editorial"Avante!". Publicado segundo o manuscrito. Traduzido do alemão(1)
Tradução: José BARATA-MOURA.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Editorial "Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo, 1982.


capa

«krestyanskaya chern, povo camponês comum, a plebe camponesa, que, como é sabido, não goza da benevolência dos marxistas, e que, encontrando-se no grau mais baixo da cultura, será verosimilmente dirigido pelo proletariado urbano e fabril.»

I. e., onde o camponês existe em massa como proprietário privado, onde ele forma mesmo uma maioria mais ou menos considerável, como em todos os Estados do Continente oeste-europeu, onde ele não desapareceu e foi substituído por jornaleiros agrícolas, como na Inglaterra, produzem-se as seguintes consequências: ou ele impede e faz fracassar qualquer revolução operária como até aqui em França tem feito; ou o proletariado (pois o camponês possidente não pertence ao proletariado e ali onde ele próprio, pela sua situação, pertence a ele, crê que não lhe pertence) como governo tem de tomar medidas, pelas quais o camponês veja a sua situação imediatamente melhorada e que, portanto, o ganhem para a revolução; medidas que, porém, em germe, facilitem a transição da propriedade privada do solo para a propriedade colectiva, de tal modo que o camponês chegue a isso por si por via económica [ökonomisck]; mas não se deve chocar o camponês, proclamando, p. ex., a abolição do direito de sucessão ou a abolição da sua propriedade; a última coisa só é possível onde o rendeiro capitalista expulsou os camponeses e onde o real cultivador da terra é tão proletário, operário assalariado, como o operário citadino e, portanto, tem exactamente os mesmos interesses do que ele, imediatamente, não mediatamente; a propriedade de parcelas tão-pouco deve ser reforçada por as parcelas serem aumentadas simplesmente por anexação das propriedades maiores aos camponeses como na campanha revolucionária de Bakúnine.

«Ou, se se considera esta questão do ponto de vista nacional, supomos, então, que, para os alemães, os eslavos, pela mesma razão, estão na mesma dependência escrava do proletariado alemão vitorioso em que este último se encontra em relação à sua burguesia.» (P. 278.)

Burrice de aluno! Uma revolução social radical está ligada a certas condições históricas do desenvolvimento económico; estas últimas são o pressuposto dela. Portanto, ela só é possível onde, com a produção capitalista, o proletariado industrial ocupa pelo menos uma posição significativa na massa do povo. E, para ter alguma probabilidade de vitória, tem, pelo menos, de ser capaz de fazer imediatamente tanto pelos camponeses, mutatis mutandis(2), quanto a burguesia francesa fez, na sua revolução, pelos camponeses franceses de então. Linda ideia, a de que a dominação do Trabalho encerra opressão do trabalho rural! Mas aqui manifesta-se o pensamento mais íntimo do senhor Bak[únine]. Ele não entende absolutamente nada de revolução social, apenas as frases políticas acerca dela; as condições económicas dela não existem para ele. Porque todas as formas económicas até hoje, desenvolvida ou não desenvolvidamente, encerram a servidão do operário (seja na forma do operário assalariado, do camponês, etc), ele crê que em todas [elas], igualmente, uma revolução radical é possível. Mas, ainda mais! Ele quer que a revolução social europeia, fundada sobre a base económica da produção capitalista, se complete ao nível dos povos agrícolas e pastoris russos e eslavos, não ultrapasse esse nível, apesar de perceber que a navegação marítima [Meerschiffahrt] forma uma diferença entre os irmãos, mas só a navegação marítima [Seeschiffahrt], porque e[staj é uma diferença conhecida de todos os políticos! A vontade, não as condições económicas, é a base da sua revolução social.

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Notas de rodapé:

(1) Quanto às citações de proveniência russa, porém, tivemos em conta as que figuram na edição russa das Obras Escolhidas em três tomos de K. Marx e F. Engels, publicadas pela Editora de Literatura Política, Moscovo, 1979 (Nota da edição portuguesa) (retornar ao texto)

(2) Em latim no texto: mudando o que há que mudar. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

Notas de fim de tomo:

[N294] Os comentários de Marx ao livro de Bakúnine Estabilidade e Anarquia, publicado em 1873, constituem uma obra política e polémica peculiar, em que se combinam uma crítica profunda das doutrinas anarquistas e o desenvolvimento, em contraposição a elas, de teses importantíssimas do comunismo científico: sobre o Estado, sobre a necessidade histórica da ditadura do proletariado e sobre a aliança da classe operária com o campesinato como condição necessária da vitória da revolução socialista. Estas teses são formuladas por Marx numa série de interpolações do autor no manuscrito dos comentário, uma das quais se publica no presente tomo. (retornar ao texto)

Inclusão 13/05/2010
Última alteração 03/08/2018