Nós estamos confrontados com dois tipos de contradições sociais — as que existem entre nós e o inimigo, e as existentes no seio do próprio povo. Esses dois tipos de contradições são de natureza totalmente diferente.
Sobre a justa solução das contradições no seio do Povo (27 de Fevereiro de 1957)
Para compreender corretamente esses dois tipos diferentes de contradições, contradições entre nós e o inimigo e contradições no seio do povo, nós devemos começar por ser claros a respeito do significado de "povo" e de "inimigo". (…) Na etapa atual, período da construção do socialismo, todas as classes, camadas e grupos sociais que aprovam, apoiam e trabalham pela causa da construção socialista, entram na categoria de povo, enquanto que todas as forças e grupos sociais que resistem à revolução socialista e hostilizam ou sabotam a edificação socialista são os inimigos do povo.
Ibidem
Nas condições atuais da China, as contradições no seio do povo abrangem as contradições no interior da classe operária, as contradições no seio da classe camponesa, as contradições entre os intelectuais, as contradições entre a classe operária e a classe camponesa, as contradições entre os operários e os camponeses dum lado e os intelectuais do outro, as contradições entre a classe operária e outras secções do povo trabalhador dum lado e a burguesia nacional do outro, as contradições no seio da burguesia nacional, etc. O nosso Governo Popular é um governo que representa genuinamente os interesses do povo, um governo que serve o povo. Contudo, entre o governo e o povo, existem também certas contradições. É o caso das contradições entre os interesses do Estado, os interesses coletivos e os interesses individuais, entre a democracia e o centralismo; entre a direção e os dirigidos; e a contradição surgida do estilo burocrático de trabalho de certos trabalhadores do governo nas suas relações com as massas. São igualmente contradições no seio do povo. Dum modo geral, a identidade fundamental dos interesses populares está na base das contradições existentes no seio do povo.
Ibidem
As contradições entre nós e o inimigo são contradições antagónicas. No seio do povo, as contradições entre os trabalhadores são não-antagónicas, e as que existem entre as classes exploradas e as classes exploradoras, além do aspeto antagónico que apresentam, têm um aspeto não-antagónico.
Ibidem
Como determinar, na vida política do nosso povo, se as nossas palavras e atos são ou não corretos? Nós pensamos que na base dos princípios da nossa Constituição, da vontade da esmagadora maioria do nosso povo e das posições políticas comuns proclamadas em várias ocasiões pelos nossos partidos e grupos políticos, é possível formular, em termos gerais, o critério seguinte:
As palavras e os atos devem ajudar a unir e não a dividir o povo das nossas distintas nacionalidades.
Devem beneficiar e não prejudicar a transformação e construção socialistas.
Devem ajudar a consolidar, e não a minar ou enfraquecer a ditadura democrática popular.
Devem ajudar a consolidar e não a minar ou enfraquecer o centralismo democrático.
Devem ajudar a reforçar e não a rejeitar ou enfraquecer a direção do Partido Comunista.
Devem favorecer e não prejudicar a unidade socialista internacional e a unidade internacional entre os povos amantes da paz no mundo inteiro.
Dentre esses seis critérios, os mais importantes são o da via socialista e o do papel dirigente do Partido.
Ibidem
A questão da eliminação dos contrarrevolucionários é uma questão de luta entre nós e o inimigo, uma contradição entre nós e o inimigo. No seio do povo, algumas pessoas veem essa questão de maneira um tanto diferente. Dois tipos de pessoas defendem pontos de vista diferentes do nosso. Os que têm uma mentalidade direitista não fazem distinção entre nós e o inimigo e tomam o inimigo pela nossa própria gente. Eles consideram como amigos justamente aquelas pessoas que as grandes massas consideram como inimigo. Os que têm uma mentalidade "esquerdista" exageram as contradições entre nós e o inimigo, de tal maneira que consideram certas contradições no seio do povo como contradições com o inimigo e olham como contrarrevolucionários pessoas que na realidade o não são. Esses dois pontos de vista são errados. Nenhum deles pode conduzir a um correto tratamento da questão da eliminação dos contrarrevolucionários, nem a uma correta apreciação do nosso trabalho a esse respeito.
Ibidem
As contradições qualitativamente distintas só podem ser resolvidas por métodos qualitativamente distintos. Por exemplo, a contradição entre o proletariado e a burguesia resolve-se pelo método da revolução socialista; a contradição entre as grandes massas populares e o sistema feudal resolve-se pelo método da revolução democrática; a contradição entre as colónias e o imperialismo resolve-se pelo método da guerra revolucionária nacional; a contradição entre a classe operária e a classe camponesa na sociedade socialista resolve-se pelo método da coletivização e mecanização da agricultura; as contradições no seio do Partido Comunista resolvem-se pelo método da crítica e autocrítica; a contradição entre a sociedade e a natureza resolve-se pelo método do desenvolvimento das forças produtivas. (…) O princípio de usar métodos distintos para resolver contradições distintas é um princípio que os marxistas-leninistas devem observar rigorosamente.
Sobre a contradição (Agosto de 1937), Obras Escolhidas, Tomo I
Dado que são diferentes na sua natureza, as contradições entre nós e o inimigo e as contradições no seio do povo devem ser resolvidas por métodos diferentes. Em poucas palavras, no primeiro caso é questão de estabelecer uma nítida distinção entre nós e o inimigo, enquanto que, no segundo, é questão de distinguir claramente entre a verdade e o erro. Claro que a distinção entre nós e o inimigo é também uma questão de verdade ou erro. Por exemplo, a questão de saber quem tem razão, se nós ou os reacionários internos e externos, os imperialistas, os feudais e os capitalistas burocráticos, é também um caso de verdade ou erro, contudo trata-se duma categoria diferente por natureza da questão da verdade e do erro no seio do povo.
Sobre a justa solução das contradições no seio do povo (27 de Fevereiro de 1957)
A única via para resolver as questões de natureza ideológica ou as controvérsias no seio do povo é o uso do método democrático, da discussão, da crítica, persuasão e educação, e nunca o uso de métodos de coerção ou repressão.
Ibidem
Para poder dedicar-se com eficácia à produção e ao estudo, e a fim de ordenar de forma correta a sua vida, o povo exige que o seu governo e os responsáveis pela produção e pelas organizações de cultura e educação formulem disposições administrativas adequadas com carácter obrigatório. O bom senso diz que a manutenção da ordem pública seria impossível sem tais disposições. As disposições administrativas e o método de persuasão e educação completam-se mutuamente na resolução das contradições existentes no seio do povo. As disposições administrativas para a manutenção da ordem pública devem ser acompanhadas duma persuasão e educação, pois, em muitos casos, por si sós, elas não são eficazes.
Ibidem
Fatalmente, a burguesia e a pequena burguesia hão-de manifestar a sua ideologia. Inevitavelmente elas obstinar-se-ão em afirmar-se, por todos os meios, no domínio político e ideológico. Não se deve esperar que atuem doutro modo. Não devemos usar o método da repressão para impedi-las de manifestar-se; pelo contrário, devemos dar-lhes essa possibilidade e, ao mesmo tempo, argumentar e criticá-las apropriadamente. Não há dúvida que temos de criticar todos os tipos de ideias erróneas. Claro que é inadmissível renunciar à crítica, ficar indiferente enquanto as ideias erróneas se propagam por toda a parte, permitir-se-lhes que dominem a situação. Os erros devem ser criticados a as ervas venenosas arrancadas onde quer que cresçam. Contudo, tal crítica não deve ser dogmática, há que não usar o método metafísico mas sim fazer esforços por aplicar o método dialético. O que se necessita é uma análise científica e argumentação convincente.
Ibidem
É necessário criticar os defeitos do povo, (…) mas, ao fazê-lo, é preciso partir verdadeiramente da posição do povo e agir inspirado pelo desejo ardente de defendê-lo e educá-lo. Tratar os camaradas como inimigos é assumir a posição do inimigo.
Intervenções nos colóquios de Yan’an sobre literatura e arte (Maio de 1942), Obras Escolhidas, Tomo III
As contradições e a luta são universais, absolutas, mas os métodos para resolver as contradições, isto é, as formas de luta, diferem segundo as diferentes naturezas dessas contradições. Algumas contradições caracterizam-se por um antagonismo aberto, outras não. De harmonia com o desenvolvimento concreto das coisas e fenómenos, algumas contradições que originariamente eram não-antagónicas, desenvolvem-se e passam a antagónicas, enquanto que outras, originariamente antagónicas, transformam-se em não-antagónicas.
Sobre a contradição (Agosto de 1937), Obras Escolhidas, Tomo I
Nas circunstâncias gerais, as contradições no seio do povo não são antagónicas. Todavia podem chegar a sê-lo, se não forem tratadas adequadamente, ou se relaxarmos a vigilância e baixarmos a guarda. Nos países socialistas, um tal desenvolvimento constitui geralmente um fenómeno parcial e temporário. Isso é assim porque, nesses países, o sistema de exploração do homem pelo homem já foi abolido e os interesses do povo são fundamentalmente os mesmos.
Sobre a justa solução das contradições no seio do povo (27 de Fevereiro de 1957)
No nosso país, a contradição entre a classe operária e a burguesia nacional pertence à categoria das contradições no seio do povo. Dum modo geral, a luta de classes entre a classe operária e a burguesia nacional é uma luta no interior das fileiras do povo, pois, no nosso país, a burguesia nacional tem um duplo carácter. No período da revolução democrático-burguesa, o seu carácter apresentava ao mesmo tempo um aspeto revolucionário e um aspeto conciliador. No período da revolução socialista, a busca do lucro através da exploração da classe operária constitui um aspeto do carácter da burguesia nacional, enquanto que o seu apoio à Constituição e a sua disposição de aceitar a transformação socialista constitui outro aspeto. A burguesia nacional difere dos imperialistas, dos senhores de terras e dos capitalistas burocráticos. A contradição entre a burguesia nacional e a classe operária é uma contradição entre explorador e explorado, por certo, originariamente antagónica. Todavia, nas condições concretas da China, essa contradição antagónica entre as duas classes, sendo corretamente tratada, pode transformar-se numa contradição não-antagónica, e ser resolvida por métodos pacíficos. Essa contradição transformar-se-á numa contradição entre nós e o inimigo se a não tratarmos corretamente e se não seguirmos, com relação à burguesia nacional, a política de nos unirmos a ela, de a criticarmos e educarmos, ou se ela rejeitar essa nossa política.
Ibidem
[A rebelião contrarrevolucionária na Hungria, em 1956] foi um caso em que os reacionários, dentro dum país socialista, conluiados com os imperialistas e explorando as contradições no seio do povo, fomentaram a dissensão e criaram desordens, tentando atingir os seus objetivos conspirativos. Essa lição dos acontecimentos da Hungria merece a nossa atenção.
Ibidem