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Desde que o Comité Central do Partido formulou a política de “menos tropas mas melhores e uma administração simplificada”, as organizações do Partido, em muitas das bases de apoio anti-japonesas, elaboraram os seus planos e lançaram-se à tarefa, seguindo a diretiva do Comité Central. Os camaradas que dirigem a região fronteiriça Xansi-Hopei-Xantum-Honan tomaram firmemente em mãos essa tarefa e deram um exemplo de aplicação dessa política. Mas certas bases de apoio há onde os camaradas não tentaram aplicá-la com seriedade, por a não terem compreendido suficientemente. Não compreendendo as relações dessa política com a situação atual, tanto como com outras políticas do Partido, eles continuam a não considerá-la como uma política da mais alta importância. Este assunto foi repetidas vezes discutido nas colunas do Quiefanjepao, mas gostaríamos agora de proceder a maiores esclarecimentos.
Todas as políticas adotadas pelo Partido visam a abater o invasor japonês. A partir do seu quinto ano, a Guerra de Resistência entrou praticamente na última etapa, a da luta pela vitória. Ao longo dessa etapa, a situação é diferente da dos dois primeiros anos de guerra e também da do terceiro e quarto. Uma caraterística dos quinto e sexto anos de guerra é o fato de nos aproximarmos da vitória ao mesmo tempo que surgem pela frente enormes dificuldades; por outras palavras, encontrarmo-nos na “obscuridade que precede a aurora”. Essa situação predomina, na etapa atual, em todos os países que lutam contra o fascismo, em toda a China, não apenas nas bases de apoio do VIII Exército e do Novo IV Exército, embora seja nestas que se revela particularmente aguda. Esforçamo-nos por abater os invasores japoneses dentro do prazo de dois anos. Serão anos de extrema dificuldade, muito diferentes dos dois primeiros anos de guerra, tanto como dos anos terceiro e quarto. Os dirigentes do partido e do exército revolucionários devem considerar de antemão essa particularidade. A não ser assim, ver-se-ão arrastados pelos acontecimentos e, a despeito de todos os esforços, não conseguirão assegurar a vitória, havendo até o perigo de se prejudicar a causa da revolução. E verdade que, nas bases de apoio anti-japonesas situadas na retaguarda do inimigo, as dificuldades se multiplicaram, mas a gravidade ainda não é extrema. No entanto, se não seguirmos uma política correta, esbarraremos com extremas dificuldades. Para a gente comum, é fácil deixar-se levar pela situação passada e presente, e imaginar que o futuro em nada será diferente. Incapazes então de prever que a barca pode quebrar-se contra os escolhos, as pessoas não poderão manter o sangue-frio e dar o golpe de leme que permita contorná-los. Quais são esses escolhos que pode encontrar a barca da resistência? São as enormes dificuldades materiais que surgirão na última etapa da guerra. O Comité Central do Partido assinalou-as e recomendou-nos vigilância para contornar esses escolhos. Muitos dos camaradas já entenderam isso mas outros ainda não compreenderam, o que é um primeiro obstáculo que precisamos de vencer. A resistência exige unidade e esta implica dificuldades. E essas dificuldades são de ordem política; verificaram-se no passado e hão de surgir possivelmente no futuro. Há cinco anos que o nosso Partido tem estado a despender esforços consideráveis para vencê-las, passo a passo; a nossa palavra de ordem é reforçar a unidade, e precisamos de continuar a perseverar nisso. Mas também existem outras dificuldades, de ordem material, as quais inevitavelmente se agravarão mais e mais. Certos camaradas encaram-nas ainda com despreocupação, não estão nada conscientes da sua gravidade, pelo que devemos alertá-los. Os camaradas das bases de apoio anti-japonesas devem todos compreender que as dificuldades materiais hão de sem dúvida aumentar grandemente, que precisamos de vencê-las e um dos meios importantes para consegui-lo é “menos tropas mas melhores e uma administração simplificada”.
Por que razão essa política é importante para a solução das dificuldades materiais? Como é evidente, a situação militar atual nas bases de apoio e, mais ainda, a situação que aí prevalecerá no futuro, impedem-nos de nos aferrarmos às antigas concepções. O nosso enorme aparelho de guerra respondia às circunstâncias do passado. A situação no passado permitia-nos mantê-lo e exigia-o até. Mas as coisas agora são diferentes, as bases de apoio contraíram-se e continuarão provavelmente a contrair-se durante certo período; não podemos portanto conservar o mesmo enorme aparelho de guerra do passado. Hoje, entre este último e a situação militar, há uma contradição que precisamos de resolver. A política do inimigo visa a agravar essa contradição, daí o “queimar tudo, matar tudo e pilhar tudo”. Se insistimos em manter o nosso enorme aparelho de guerra, caímos em cheio na armadilha do inimigo. Pelo contrário, se o reduzimos de modo a termos “menos tropas mas melhores e uma administração simplificada”, nem por isso o aparelho deixará de conservar a sua potência. Resolvendo a contradição, que é a do “peixe grosso em águas pouco profundas”, de modo a adaptarmos o aparelho de guerra à situação militar, tornamo-nos mais fortes e, em vez de sermos vencidos pelo inimigo, seremos nós quem acabará finalmente por vencê-lo. Eis porque dizemos que a política do Comité Central de “menos tropas mas melhores e uma administração simplificada” reveste a mais alta importância.
Acontece frequentemente, porém, que as circunstâncias do momento e os hábitos amarram fortemente o espírito dos homens e nem os revolucionários podem às vezes fugir a isso. Criamos com as nossas próprias mãos um enorme aparelho de guerra e não pensamos que, também com as próprias mãos, teríamos de reduzi-lo um dia. Agora que há que decidir-nos a isso, é de má vontade e com muita dificuldade que nos submetemos. No momento em que o inimigo faz pesar sobre nós toda a força do seu colossal aparelho militar, será realmente possível reduzirmos o nosso? Se o fazemos ficamos com forças insuficientes para enfrentá-lo. Eis como pensam os que se deixam encandear pelas circunstâncias do momento e pelo hábito. Quando as estações mudam, há que mudar também de vestuário. Isso acontece anualmente quando a Primavera cede lugar ao Verão, o Verão ao Outono, o Outono ao Inverno e o Inverno à Primavera. No entanto, é frequente, por força do hábito, não se fazer justamente isso no momento oportuno e cair-se então de cama. A situação atual nas nossas bases exige que dispamos as roupas de Inverno para vestir as de Verão e ficarmos mais à vontade para pelejar; ora, nós estamos ainda muito inchados, temos a cabeça grande e os pés pequenos, o que é de todo inadequado para o combate. Mas, pergunta-se, como enfrentaremos então o enorme aparelho do inimigo? Temos o exemplo de Suen Vu-com, o Rei-Macaco, que venceu a Princesa do Leque de Ferro. A princesa era um demônio terrível mas Suen Vu-com, depois de se metamorfosear num pequeno inseto, introduziu-se-lhe no estômago e derrotou-a(1). A história do burro de Cueidjou, contada por Liu Tsum-iuan(2), contém igualmente uma boa lição. Um dia, alguém levou um enorme burro para a província de Cueidjou. Ao vê-lo, um tigrezinho ficou cheio de medo. Finalmente, porém, o burro enorme acabou por ser devorado pelo pequeno tigre. O Rei-Macaco e o pequeno tigre são atualmente o nosso VIII Exército e o nosso Novo IV Exército; eles são perfeitamente capazes de vencer o demônio japonês, o burro japonês. Neste momento temos necessidade de nos metamorfosearmos para ficarmos mais pequenos mas mais fortes, e então seremos invencíveis.
Notas de rodapé:
(1) Quanto à história sobre como Suen Vu-com, o Rei-Macaco, se transformou num minúsculo inseto e derrotou a Princesa do Leque de Ferro, veja-se o romance mitológico chinês Si Iou Qui (A Peregrinação a Oeste), capítulo 59. (retornar ao texto)
(2) Liu Tsum-iuan (773-819), grande escritor da dinastia Tam. A obra que escreveu, Três Ensinamentos, contém três fábulas, das quais uma é a do “Burro de Cueidjou”, onde se conta: Na província de Cueidjou havia um tigre que se encheu de medo ao ver pela primeira vez um burro. Mas depois, quando descobriu que o burro não sabia senão zurrar e escoicear, o tigre atirou-se a ele e devorou-o. (retornar ao texto)
Inclusão | 09/04/2015 |