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A. O Incidente de Lucouquiao, no dia 7 de Julho, marcou o início da ofensiva em grande escala do imperialismo japonês contra a parte da China situada a sul da Grande Muralha. A resistência das tropas chinesas em Lucouquiao marca o começo da resistência da China em escala nacional. Os ataques incessantes do invasor japonês, a luta resoluta da totalidade do nosso povo, a tendência da burguesia nacional a resistir ao Japão e o facto de o Partido Comunista da China ter preconizado activamente, e aplicado com firmeza, uma política de frente única nacional anti-japonesa, que goza do apoio geral do país, forçaram as autoridades chinesas a esboçar uma mudança de política depois do Incidente de Lucouquiao, passando da não resistência observada desde o Incidente de 18 de Setembro de 1931 à resistência, e, por outro lado, levaram a revolução chinesa, se a consideramos no seu desenvolvimento depois do Movimento de 9 de Dezembro de 1935, a passar da etapa caracterizada pela cessação da guerra civil e preparação da resistência à etapa da resistência efectiva. A viragem que começou a desenhar-se na política do Kuomintang, a partir do Incidente de Si-an e da Terceira Sessão Plenária do Comité Executivo Central do Kuomintang, e a declaração de 17 de Julho sobre a resistência ao Japão, feita em Luxan pelo Sr. Tchiang Kai-chek, bem como muitas medidas de defesa nacional tomadas por este, são todas dignas de aprovação. As tropas na frente — exércitos de terra, forças aéreas e unidades locais — resistiram todas com valentia, demonstrando o heroísmo característico da nação chinesa. Em nome da revolução nacional, o Partido Comunista da China saúda com o máximo calor todas as tropas e cidadãos patriotas do país.
B. Não obstante, as autoridades kuomintanistas, mesmo depois do Incidente de 7 de Julho de Lucouquiao, continuam a aplicar essa política errada que vêm invariavelmente seguindo desde o Incidente de 18 de Setembro, e que consiste em fazer compromissos e concessões(1), reprimir o ardor dos exércitos patriotas e o movimento de salvação nacional das populações patriotas. Não resta a menor dúvida que, depois de capturar Pepim e Tientsim, o imperialismo japonês, apoiando-se na força bruta dos seus exércitos, beneficiando da ajuda do imperialismo alemão e italiano e explorando as hesitações do imperialismo inglês e o isolamento do Kuomintang, que se desligou das grandes massas trabalhadoras, há-de persistir na sua política de ofensiva de grande envergadura, passará à realização da segunda e terceira etapas do plano de operações, e lançará furiosos ataques contra todo o Norte da China e outras regiões do país. As chamas da guerra crepitam já no Tchahar, Xangai e outros lugares. Para salvar a pátria em perigo, para resistir aos ataques do inimigo, que é forte, para defender o Norte da China e as regiões costeiras, para recuperar Pepim, Tientsim e o Nordeste, o povo todo da China e as autoridades kuomintanistas devem tirar o máximo benefício das lições decorrentes da perda do Nordeste, de Pepim e Tientsim; devem extrair uma lição da subjugação da Abissínia, estudar a história da luta vitoriosa da URSS contra os inimigos exteriores(2), imbuir-se da experiência da Espanha, que neste momento defende com êxito Madrid(3), e unir-se solidamente para combater até ao fim pela defesa da pátria. Daqui cm diante, a tarefa consiste na “mobilização de todas as forças para a vitória da Guerra de Resistência” e, para realizá-la, o essencial está na mudança completa, radical, da política kuomintanista. Como é evidente, os progressos do Kuomintang na questão da Guerra de Resistência são de louvar; trata-se aliás daquilo que o Partido Comunista da China e a totalidade do povo esperavam dele desde há anos; e nós saudamos esse progresso. Mas o Kuomintang não mudou ainda a sua política em questões como a mobilização das massas populares e a realização de reformas políticas; no fundamental ele recusa-se sistematicamente a anular a interdição do movimento popular anti-japonês; tão-pouco pensa em proceder a uma transformação de princípio no aparelho governativo; continua sem política de melhoria das condições de vida do povo; e, nas suas relações com o Partido Comunista, não dá provas de sincera cooperação. Se num momento assim crítico, com o país ameaçado de subjugação e o povo de extermínio, o Kuomintang não sai da rotina, não muda ràpidamente de política, um rnal imenso será causado à Guerra de Resistência. Alguns membros do Kuomintang dizem: ocupar-nos-emos das reformas políticas depois da vitória! Eles pensam poder vencer os agressores japoneses graças aos esforços exclusivos do governo, o que é um erro. Uma guerra de resistência mantida exclusivamente pelo governo não pode dar mais que uns quantos resultados isolados e nunca uma vitória completa, a qual não pode ser alcançada senão através duma guerra de resistência feita pela totalidade da nação. Ora, para que tal guerra seja possível, torna-se necessária uma mudança completa, radical, da política do Kuomintang, é necessário que toda a nação, desde o topo à base, una os seus esforços para aplicar um programa consequente de resistência, o programa de salvação nacional inspirado nos Três Princípios do Povo revolucionários e nas Três Grandes Políticas, tais como o Dr. Sun Yat-sen formulou, pessoalmente, na altura da primeira cooperação entre o Kuomintang e o Partido Comunista.
C. Animado pelos sentimentos mais sinceros, o Partido Comunista da China propõe ao Kuomintang, à totalidade do povo, a todos os partidos e grupos políticos, a todos os sectores sociais e forças armadas do país, o Programa em Dez Pontos para a Salvação da Pátria, a fim de derrotar-se completamente o agressor japonês. O Partido Comunista está firmemente convencido de que só a aplicação integral, sincera e resoluta desse programa permitirá a realização do objectivo de defesa da pátria e vitória sobre o agressor. Doutro modo as responsabilidades terão de cair sobre aqueles que temporizam e deixam deteriorar-se a situação; e uma vez subjugado o país, será tarde para arrependimentos e lamentações. Eis o Programa em Dez Pontos para a Salvação da Pátria:
Romper relações diplomáticas com o Japão, expulsar-lhe os funcionários, prender-lhe os espiões, confiscar-lhe os haveres na China, anular as dívidas chinesas frente a ele, denunciar os tratados com ele concluídos e recuperar todas as concessões japonesas.
Bater-se até a última gota de sangue na defesa do Norte da China e das regiões costeiras.
Bater-se até a última gota de sangue pela recuperação de Pepim, Tientsim e Nordeste.
Expulsar os imperialistas japoneses da China.
Combater toda a hesitação e compromisso.
Mobilizar todas as forças de terra, mar e ar para a resistência em escala nacional.
Opor-se ao princípio operacional passivo de pura defesa e aplicar o princípio activo de independência e autonomia nas operações.
Instituir um conselho permanente de defesa nacional para discutir e definir os planos de defesa nacional e os princípios operacionais.
Armar o povo e desenvolver a guerra de guerrilhas anti-japonesa, no sentido de apoiar as operações das forças regulares.
Reorganizar o trabalho político no exército de modo a realizar-se a unidade entre comandantes e combatentes.
Realizar a unidade entre o exército e o povo e desenvolver o espírito de iniciativa no exército.
Apoiar o Exército de Coalizão Anti-Japonês do Nordeste e desarticular a retaguarda do inimigo.
Tratar em pé de igualdade todas as tropas que participam na Guerra de Resistência.
Criar em todo o país regiões militares e mobilizar a totalidade da nação para a guerra, de modo a passar-se progressivamente do sistema mercenário ao serviço militar obrigatório.
Reconhecer às populações, exceptuados os traidores, a liberdade de palavra, imprensa, reunião e associação para a resistência ao Japão e salvação da pátria, bem como o direito de pegar em armas contra o inimigo.
Abolir as velhas leis e decretos que entravam o movimento patriótico do povo e promulgar leis e decretos novos, revolucionários.
Pôr em liberdade todos os presos políticos, patriotas e revolucionários, e anular a interdição dos partidos políticos.
Fazer de modo que o povo inteiro se mobilize, pegue em armas e participe na Guerra de Resistência. Que cada um dê o que tem, uns força de trabalho, outros dinheiro, outros armas, outros conhecimentos.
Mobilizar para a resistência comum ao invasor os mongóis, os hueis e as outras minorias nacionais, de acordo com o princípio da autodeterminação e autonomia nacionais.
Instituir uma assembleia nacional que represente autênticamente o povo, a fim de adoptar-se uma verdadeira constituição democrática, definir-se uma política de resistência ao Japão e salvação da pátria e eleger-se um governo de defesa nacional.
O governo de defesa nacional deve admitir no seu seio revolucionários de todos os partidos e grupos políticos, bem como de todas as organizações populares, à exclusão dos elementos pró-japoneses.
O governo de defesa nacional deve praticar o centralismo democrático, ser simultâneamente democrático e centralizado.
Esse governo aplicará uma política revolucionária de resistência ao Japão e salvação da pátria.
Impõe-se instituir uma autonomia regional, destituir todos os funcionários corrompidos e formar um governo íntegro.
Sem prejuízo da integridade territorial e da soberania da China, concluir, com todos os países opostos à política agressiva do Japão, alianças contra a agressão e acordos de ajuda militar mútua para resistir ao Japão.
Apoiar a frente internacional de paz e combater a frente de agressão germano-nipo-italiana.
Aliar-se às massas operárias e camponesas da Coreia e do Japão para a luta contra o imperialismo japonês.
A política financeira deve basear-se no princípio de “os que têm dinheiro contribuem com dinheiro”, bem como no confisco dos bens dos traidores, a fim de custear as despesas de guerra. A política económica deve consistir na reorganização e ampliação da produção destinada à defesa nacional, no desenvolvimento da economia rural e na garantia do abastecimento através das nossas próprias forças, em matéria de produtos necessários ao tempo de guerra. Impõe-se estimular o consumo das mercadorias chinesas, melhorar a qualidade dos produtos locais, interditar rigorosamente as mercadorias japonesas, golpear os traficantes e combater todo o tipo de manobra e especulação.
Melhorar a situação dos operários, empregados, professores e militares anti-japoneses.
Acordar tratamento preferencial às famílias dos militares anti-japoneses.
Abolir os impostos exorbitantes e as taxas múltiplas.
Reduzir as rendas e as taxas de juro.
Assistir aos desempregados.
Ajustar o aprovisionamento em cereais.
Socorrer as vítimas das calamidades naturais.
Abolir o antigo sistema de educação e os velhos programas; introduzir sistema e programas novos, orientados para a resistência ao Japão e salvação da pátria.
Na base da cooperação entre o Kuomintang e o Partido Comunista, criar uma frente única nacional anti-japonesa de todos os partidos e grupos políticos, sectores sociais e forças armadas do país, para dirigir a Guerra de Resistência, unir-se com toda a sinceridade e enfrentar a crise nacional.
D. Há que rejeitar a política que confia a resistência exclusivamente ao governo e adoptar uma política de resistência geral da nação. O governo deve unir-se ao povo, fazer reviver em toda a sua integridade o espírito revolucionário do Dr. Sun Yat-sen, aplicar o Programa em Dez Pontos exposto acima e combater pela conquista da vitória completa na Guerra de Resistência. O Partido Comunista da China, bem como as massas populares e as forças armadas que dirige, está decidido a, aplicando esse programa, manter-se nas primeiras linhas da Guerra de Resistência e defender a Pátria até à última gota do seu sangue. Em virtude da política que sempre preconizou, o Partido Comunista da China está disposto a combater sobre uma mesma frente com o Kuomintang e demais partidos e grupos políticos do país, bem como a formar com eles, de mãos dadas, uma grande muralha indestrutível, a Frente Única Nacional, a fim de derrotarem os infames agressores japoneses e lutarem por uma China nova, independente, livre e feliz. Para atingir-se tal objectivo há que combater resolutamente as teorias de compromisso e capitulação dos traidores, assim como o derrotismo nacional, que considera invencível o invasor japonês. O Partido Comunista da China tem a firme convicção de que a realização do Programa em Dez Pontos assegurará a vitória sobre os agressores japoneses. Se os nossos quatrocentos e cinquenta milhões de compatriotas unem os seus esforços, a vitória final pertencerá à nação chinesa!
Abaixo o imperialismo japonês!
Viva a guerra revolucionária nacional!
Viva a China nova, independente, livre e feliz!
Notas:
(1) Ver nota (1) ao artigo “Linha Política, Medidas e Perspectivas na Luta contra a Ofensiva Japonesa”. (retornar ao texto)
(2) Ver Compêndio de História do Partido Comunista (Bolchevique) da U.R.S.S., capítulo VIII. (retornar ao texto)
(3) Em 1936, os fascistas alemães e italianos serviram-se de Franco, caudilho fascista espanhol, para desencadearem uma guerra de agressão contra a Espanha. Sob direcção do Governo da Frente Popular, o povo espanhol opôs uma heróica resistência em defesa da democracia e contra a agressão. Essa guerra revestiu particular encarniçamento na defesa de Madrid, capital da Espanha. Começada em Outubro de 1936, a luta pela defesa de Madrid durou 2 anos e 5 meses. Em Março de 1939 Madrid cedeu, devido á ajuda prestada aos agressores pela hipócrita política, dita de “não intervenção”, seguida pelos imperialistas ingleses, franceses c outros, e também devido à desintegração verificada no seio da própria Frente Popular. (retornar ao texto)
Inclusão | 06/08/2012 |