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Guerra prolongada no plano estratégico e campanhas e combates de decisão rápida são dois aspectos, de uma única e mesma coisa, dois princípios aos quais convém atribuir uma importância igual na guerra civil, e que podem igualmente aplicar-se a uma guerra anti-imperialista.
O carácter prolongado da guerra explica-se pelo facto de as forças da reacção serem possantes, enquanto que as da revolução só crescem gradualmente. Aqui, a impaciência é prejudicial, como é errado exigir uma "decisão rápida". Fazer, como nós o fizemos, uma guerra revolucionária durante dez anos, poderia surpreender se se tratasse dum outro país mas, para nós, esses dez anos de guerra não representam mais do que a "introdução", a "exposição do tema" e as "teses gerais da dissertação", no plano clássico das dissertações em oito partes(34), pois outros capítulos apaixonantes se seguirão ainda. Sob a influência dos factores internos e externos, é natural que o desenvolvimento no futuro seja num ritmo bem mais rápido do que no passado. Como já se verificaram modificações na situação interna e internacional, e como ainda se verificarão maiores modificações no futuro, pode dizer-se que deixámos para trás a situação de outrora, cuja evolução era lenta, e onde tínhamos de combater no isolamento. Não devemos, porém, contar que a vitória possa vir dum dia para o outro. "Aniquilar o inimigo ainda em jejum" é uma aspiração louvável em si mesma, mas sobre ela não podemos basear planos concretos de acção. Dado que as forças da reacção na China beneficiam do apoio de muitos Estados imperialistas, a nossa guerra revolucionária conservará o seu carácter prolongado por tanto tempo quanto o necessário para que a revolução chinesa acumule forças suficientes para quebrar as posições fundamentais dos inimigos do exterior e do interior, por tanto tempo quanto o necessário para que as forças revolucionárias internacionais repilam ou contenham a maior parte das forças da reacção internacional. Definir a partir daí a nossa estratégia de guerra de longa duração constitui um dos princípios importantes da nossa direcção estratégica.
Mas nas campanhas e nos combates aplicamos o princípio directamente oposto: não a longa duração, mas sim a decisão rápida. Procurar uma decisão rápida no plano operacional e táctico é próprio de todas as épocas e de todos os países. Numa guerra, tomada no seu conjunto, procura-se, por toda a parte e em todos os tempos, uma decisão rápida; sempre se considerou a guerra de longa duração como desvantajosa. Só na China é que importa dar mostras duma maior paciência e recorrer à guerra prolongada. Na época da linha de Li-san, alguns riam-se da "nossa táctica de pugilista" (quer dizer, a táctica que consiste em não se apoderar das grandes cidades a não ser depois de grandes trocas de golpes); riam-se, dizendo que assistiríamos à vitória da revolução quando tivéssemos os cabelos todos brancos. Desde há muito que ficou demonstrado que uma tal impaciência é errada. Contudo, se se fazem essas observações críticas não à estratégia mas sim ao problema das campanhas e dos combates, elas são inteiramente justas. Isso porque, em primeiro lugar, o Exército Vermelho não dispõe de fontes que lhe permitam aprovisionar-se em armas e sobretudo em munições; em segundo lugar, porque há numerosos exércitos brancos contra um só Exército Vermelho, devendo o nosso exército estar pronto a realizar rapidamente, e sem interrupções, toda uma série de operações que visam romper uma campanha de "cerco e aniquilamento"; em terceiro lugar, porque na maioria dos casos, a despeito do facto de os exércitos brancos avançarem isoladamente, os intervalos entre as suas colunas são relativamente reduzidos, de tal maneira que se atacamos uma delas sem obtermos rapidamente a decisão, corremos o risco de ver outras colunas vir-lhe em socorro. Por todas essas razões devemos realizar acções de decisão rápida. Para nós é coisa habitual terminar uma batalha em algumas horas, em um ou dois dias. Só quando o nosso plano consiste "no cerco das cidades para liquidação dos reforços enviados em socorro", o nosso objectivo não é portanto a liquidação do inimigo cercado mas sim o aniquilamento dos reforços, só nesses casos é que devemos estar prontos a acções relativamente prolongadas contra o inimigo cercado, mas procurando sempre obter uma decisão rápida no ataque aos reforços que lhe são enviados. Durante a defensiva estratégica, quando defendemos firmemente os nossos pontos de apoio nos sectores em que efectuamos acções de fixação, ou durante a ofensiva estratégica, quando vibramos golpes num adversário, isolado e privado de socorros, ou quando procedemos à eliminação dos pontos de apoio das forças brancas no território das nossas bases de apoio, geralmente aplicamos o princípio de acções prolongadas no plano das campanhas e dos combates. Contudo, tais acções ajudam mais do que entravam a acção de decisão rápida das forças principais do Exército Vermelho.
Para obter uma decisão rápida, não basta simplesmente desejá-la, é necessário ainda reunir toda uma série de condições concretas de que as principais são: preparar-se bem, aproveitar o momento oportuno, concentrar forças superiores, utilizar a táctica de cerco e movimento torneante, escolher uma boa posição, golpear o inimigo em marcha ou um inimigo que se deteve sem ter tido ainda tempo para consolidar a sua posição. Na ausência de tais condições é impossível obter uma decisão rápida no plano das campanhas e dos combates.
O esmagar duma campanha de "cerco e aniquilamento" é uma operação de grande envergadura, contudo, é ainda o princípio de decisão rápida que convém aplicar e não o princípio de acções prolongadas. Com efeito, as condições oferecidas por uma base de apoio — reservas em homens, recursos financeiros, potência militar — não são propriamente as que permitem acções prolongadas.
Embora observando em geral o princípio duma decisão rápida, convém lutar contra as pressas injustificadas. E absolutamente necessário que a direcção militar e politica suprema da base de apoio revolucionária, tendo em conta as condições acima mencionadas e a situação do campo inimigo, não se deixe intimidar pelo ar feroz do adversário, nem perca a coragem em face das dificuldades que afinal são suportáveis, nem se desespere diante das derrotas ocasionais, mas, pelo contrário, dê provas da paciência e da resistência indispensáveis. No Quiansi, quando desfizemos a primeira campanha de "cerco e aniquilamento", desde o primeiro ao último combate não precisámos mais do que de uma semana; a segunda campanha de "cerco e aniquilamento" foi desfeita em quinze dias; a terceira, só ao fim de três meses; a quarta, em três semanas; na quinta, a luta arrastou-se durante um ano. Contudo, essa quinta campanha não pôde ser desfeita e, quando fomos obrigados a romper o cerco, manifestou-se uma pressa injustificada. Nessa situação, teríamos podido aguentar ainda dois ou três meses e utilizar essa pausa para repousar as nossas tropas, instruí-las e consolidá-las. Se isso tivesse sido feito, e se depois da ruptura do cerco a direcção tivesse agido com um pouco mais de sabedoria, a situação teria podido ser bem diferente, posteriormente.
Contudo, o princípio que consiste em esforçar-se por reduzir no máximo a duração duma campanha, princípio de que falámos mais atrás, permanece válido. Nos planos de campanha e de combate, devemos, evidentemente, esforçar-nos por concentrar as nossas forças, por recorrer à guerra de movimento, etc, para destruir as forças vivas do adversário no interior das linhas (quer dizer nas nossas bases de apoio) e romper rapidamente a sua campanha de "cerco e aniquilamento"; todavia, nos casos em que é manifestamente impossível romper a sua campanha no interior das nossas linhas, convém utilizar as forças principais do Exército Vermelho para romper o cerco e passar para o exterior das nossas linhas, quer, dizer para o interior das linhas adversas, com vista a atingir aquele mesmo objectivo. Agora que a guerra de blocausses alcançou uma tal difusão, esse procedimento tornar-se-á o procedimento habitual na condução das operações. Dois meses após o início da nossa quinta contra-campanha, na altura em que se verificou o Incidente de Fuquien, as forças principais do Exército Vermelho deveriam certamente ter penetrado na região formada pelas províncias de Quiansu, Tchequiam, Anghuei e Quiansi, tendo Tchequiam como centro, desenvolver activamente uma acção entre Handjou, Sudjou, Nanquim, Vuhu, Nantcham e Fudjou, passar da defensiva estratégica à ofensiva estratégica, ameaçar os centros vitais do inimigo e procurar a batalha em extensas regiões desprovidas de blocausses inimigos. Dessa maneira teria sido possível obrigar o adversário, que atacava o sul do Quiansi e o oeste do Fuquien, a arrepiar caminho para defender os seus centros vitais; assim ter-se-ia podido romper a sua ofensiva dirigida contra a nossa base do Quiansi e, ao mesmo tempo, aliviar a situação do Governo Popular do Fuquien, que teríamos seguramente podido ajudar agindo desse modo. A rejeição desse plano impediu-nos de romper a quinta campanha, tornando-se inevitável a queda do referido governo. Depois de todo um ano de combates passou a ser desvantajoso penetrar no Tchequiam; no entanto, ainda era possível orientar a nossa ofensiva estratégica numa direcção, isto é, dirigir-mo-nos sobre o Hunan com as nossas forças principais, não para passar para o Cueidjou mas sim para progredir em direcção do centro do próprio Hunan, a fim de atrair dessa maneira o adversário para fora do Quiansi, sobre o Hunan, e liquidá-lo aí mesmo. Tendo sido igualmente rejeitado esse plano, a esperança de romper a quinta campanha desfez-se definitivamente, de tal maneira que não nos ficou mais do que uma saída: a Grande Marcha.
Notas:
(34) Dissertação especial que o sistema dos exames imperiais previa na China feudal, do século XV ao século XIX. A dissertação compreendia oito partes: introdução, exposição do tema, teses gerais da dissertação, passagem à exposição, começo da exposição, meio da exposição, fim da exposição e conclusão. A "introdução" compunha-se apenas de duas frases explicativas do tema. A "exposição do tema" eram três ou quatro frases que se seguiam à explicação dada na introdução. As "teses gerais da dissertação" apresentavam, em resumo, o tema, marcando o começo do comentário. A "passagem à explicação" era uma fórmula de transição que se seguia às teses gerais. As últimas quatro partes — começo da exposição, meio da exposição, fim da exposição e conclusão — constituíam o comentário propriamente dito; o meio da exposição era a essência do trabalho. Cada uma dessas quatro partes compunha-se duma tese e duma anti-tese, o que, no total, perfazia oito secções, donde a designação de "dissertação em oito partes" ou "dissertação em quatro pares". O camarada Mao Tsetung refere-se aqui à exposição consequente do tema duma "dissertação em oito partes , para mostrar duma maneira imagética o desenvolvimento das diferentes fases da revolução. Geralmente, porém, recorre-se à expressão "dissertação em oito partes' como metáfora irónica, subentendendo-se por isso o dogmatismo. (retornar ao texto)
Inclusão | 30/05/2010 |